«Não desejo envolver-me em qualquer situação para lá do Côa… Não seria melhor que viésseis para o lado de cá, pelo menos com a vossa infantaria?» – Missiva de Lord Wellington ao general Craufurd, de Alverca (perto de Pinhel) em 22 de Julho de 1810.

Craufurd, o general inglês que comandava a divisão ligeira do exército aliado, com a missão de observar os movimentos do exército do marechal Massena, não satisfez o desejo de Wellington e, dois dias depois, sofreu as consequências. Batido pelos franceses, viu-se atirado para os barrancos do Côa, perdendo no combate 333 homens portugueses e britânicos.
O domínio do vale do Côa era considerado decisivo para qualquer manobra militar no tempo das Invasões Francesas. O major William Warre, ajudante de campo do marechal Beresford, explorou a região semanas antes da célebre Batalha do Côa, e deu conta da importância do rio na manobra militar.
«O curso do rio desde a sua confluência com o Douro até perto de Alfaiates em direcção à sua nascente, representa, devido aos grandes declives e ao solo rochoso das suas margens, uma barreira formidável para qualquer exército que procure avançar sobre Viseu, Celorico, Guarda ou Trancoso, a partir das imediações de Ciudad Rodrigo. Pode contudo ser contornado pelo Sabugal, e perante um exército numeroso a sua grande extensão constitui uma grande contrariedade, pois se qualquer parte da linha ceder o resto terá de retirar.»
O Côa teve de facto uma importância fundamental nas manobras militares da terceira invasão francesa, feita a partir de Almeida, com posterior retirada pelo Sabugal. Quando Massena avançou, Wellington protegeu-se por trás do Côa enquanto observava a movimentação dos franceses, que punham cerco à praça forte de Almeida.
Depois do fracasso da invasão, já na retirada, foi a vez de Massena se instalar na margem direita do rio, entre a Ruvina e o Sabugal, esperando aí conter o avanço do exército aliado.
Wellington, conhecedor da morfologia do terreno, escolheu o Sabugal para dar combate aos franceses, por saber que aí o rio não corre em vale escavado, podendo ser mais facilmente transposto a vau. Assim aconteceu a batalha do Sabugal, disputada na margem direita do Côa, no dia 3 de Abril de 1811, no lugar do Gravato. Essa importante e decisiva refrega com o 2º corpo do exército napoleónico, que ali não pode beneficiar no obstáculo que o rio constitui mais a jusante, levou à retirada dos franceses para Espanha.
Porém Massena deixara uma guarnição francesa em Almeida e, passado um mês, reorganizou o seu exército e decidiu voltar a marchar sobre Portugal em socorro da praça, fixando o objectivo de fazer recuar os anglo-portugueses para lá do vale do Côa. Em Ciudad Rodrigo dirigiu uma proclamação ao exército, a fim de lhe dar ânimo: «Soldados (…) dareis ao Côa, até hoje ignorado, uma celebridade igual à dos rios que na Alemanha e em Itália dizem e redizem osvossos triunfos».
Os franceses foram contudo travados na batalha de Fuentes de Oñoro, não conseguindo reentrar em Portugal.
Paulo Leitão Batista