Até 26 de Abril pode ser vista em Lisboa a peça de teatro intitulada Perguntem aos Vossos Gatos e aos Vossos Cães, da autoria do escritor sabugalense Manuel António Pina, cujas sessões acontecem ao domingo, às 11 e 16 horas no Teatro-Estúdio Mário Viegas, em Lisboa.

Segundo a informação disponibilizada pela Companhia Teatral do Chiado, que interpreta a peça, em Perguntem aos Vossos Gatos e aos Vossos Cães duas pessoas são levadas ao Tribunal dos Animais. Uma guardava a casa do Cão; a outra trabalhava no Circo. Um dia, fartos desta situação, roubaram a chave da Liberdade e tentaram fugir do Reino dos Bichos – só que foram apanhados! Agora terão de ir a julgamento.
Nesta divertida peça de Manuel António Pina, tudo acontece como se passássemos a ver o nosso mundo pelos olhos dos animais, quer dizer, como se os animais tivessem a vida dos humanos – e os humanos fossem os seus bichos de estimação. Estes animais são, portanto, muito parecidos com certas pessoas: o Juiz Elefante e o Papagaio Advogado fazem lembrar outros juízes e outros advogados (e fazer lembrar não quer dizer que sejam iguais…).
O que é roubar, o que é prender, o que é julgar? Quando a vida de gente é pior do que «vida de cão», deve-se fugir ou obedecer? É bom ser livre ou é melhor estar preso e não ter que pensar em nada?
a peça, de forte cariz pedagógico, inicia as crianças nestas perguntas, simples mas infinitas, onde o sentido das coisas deixa de ser tão evidente como certas banalidades, muito repetidas, nos fazem acreditar. Jogando com as palavras, virando do avesso o mundo como o conhecemos, M. A. Pina abre às crianças (e reabre aos adultos!) o prazer de perguntar. E é rindo que o faz, fazendo-nos rir «de nós mesmos e dos outros».
Os gatos e os cães são os outros mais perto de nós – os outros que temos em casa. Podemos fazer-lhes perguntas? E podem eles responder-nos? A poesia diz que sim, faz-nos imaginar que mesmo os que não têm palavras também sabem falar, também guardam uma maneira de entender. Por isso, Perguntem aos Vossos Gatos e aos Vossos Cães é uma fábula – «fábula em um prólogo, cinco cenas e um epílogo», como lhe chama o autor – mas uma fábula sem lição moral para ensinar.
Em vez disso, fiel à poesia, ensina ao espectador o que é o teatro. Esse mundo onde, ao subir do pano, actores e espectadores são só imagens. Porque, ao subir do pano, «só os personagens são realmente reais!».
A interpretação cabe aos actores: Diogo Andrade, Gonçalo Ruivo, Helena Veloso, Maria Dias. A encenação é de Manuel Mendes e a cenografia de Vasco Letria.
A peça do autor que o Sabugal homenageará proximamente, está em cena desde meados de Novembro de 2008, aproximando-se agora os últimos dias em que se manterá em Lisboa.
plb