Aos 16 anos Maria Antunes foi de Aldeia Velha para França, seguindo os passos da emigração. Em 2001, rumou a Lisboa para gerir o famoso café «Cacau da Ribeira», que se mantém em plena actividade recebendo pela madrugada adentro os noctívagos que ali aportam para beberem o célebre chocolate quente.

Maria Antunes possuía e administrava em Paris um restaurante de comida portuguesa, pelo que encarou a mudança para Lisboa, para trabalhar no mesmo ramo, com naturalidade. Com o marido, natural de Lisboa, adquiriu o mítico Cacau da Ribeira, e dedicou-se de alma e coração ao novo espaço comercial, que é uma das grandes referências da cidade.
Inserido no edifício do Mercado da Ribeira, com porta para a Avenida 24 de Julho e vista para a estação ferroviária do Cais do Sodré e para o rio Tejo, é ali que os noctâmbulos vão beber o cacau quente ao romper do dia após as longas noitadas de diversão.
Maria Antunes depressa se habituou ao horário e aos clientes do seu novo espaço comercial. O café tem de resto um horário peculiar: abre diariamente às 23 horas e encerra às 16. Por vezes há uma natural dificuldade em «aturar» os que ali entram a altas horas da noite, «tomados pelos copos», mas a calma e o bom senso de Maria Antunes e das suas empregadas tudo resolve, mantendo o espaço atractivo.
Dentre os clientes que ali comparecem a beber o chocolate quente mais famoso de Lisboa, há algumas figuras públicas, como o actor Fernando Mendes, «um grande amigo da casa», destaca Maria Antunes. Fátima Lopes, Tony Carreira e Teresa Guilherme são outros nomes de celebridades que acorrem ocasionalmente ao café da empresária sabugalense. Conta que, noutro tempo, a fadista Amália Rodrigues era presença assídua por ser grande apreciadora do cacau da casa.
A hospitalidade é uma das razões do sucesso desta casa e Maria Antunes esforça-se por a manter. E aponta um quadro preto onde está escrito: «Obrigado, Volte Sempre». «Todos os dias reescrevo com giz aquela frase, porque aqui todos são bem-vindos e acolhidos de igual maneira», salienta a proprietária.
Embora os afazeres da profissão a obriguem a estar sempre presente e a par do negócio, Maria Antunes, nunca deixou de ir a Aldeia Velha. «Gosto especialmente de ali ir no tempo dos tartulhos, no Outono. É um grande prazer ir pelo campo à cata de tartulhos nas tapadas e de míscaros e setas nos pinhais». Gosta especialmente dos tartulhos assados na brasa: «são o melhor petisco do mundo», afiança com toda a convicção.
Conhecemos Maria Antunes do decurso do Festival das confrarias Gastronómicas, onde estivemos em representação da Confraria do Bucho Raiano. A empresária da raia que foi para Paris e depois se fixou em Lisboa, confessou-nos ter ficado surpreendida pela presença do bucho do Sabugal nesse certame da gastronomia portuguesa. O cacau quente continuará a ser o chamariz do seu famoso café, mas garantiu-nos que passará a falar do bucho aos seus clientes para que alguns se decidam a visitar as terras raianas onde o poderão degustar.
plb