Aprendo em todo o lado, e com todos, sou uma espécie de discípulo de Sócrates (filósofo): «Só sei que nada sei.»

Este frio que agora chega, como se fosse algo de novo, faz-nos regressar à realidade da época. Estamos em Dezembro, o mês em que chega o Inverno, o frio, o Natal. E, não fossem as novelas que se desenrolam simultaneamente, estaríamos aqui a falar da época natalícia. E talvez, por instantes, fossemos capazes de esquecer as agruras que a vida nos acarreta, numa espécie de limbo festivo. Sim. Seria o tempo da bondade demonstrada, pública e, de preferência, reconhecida. O Natal tem destas coisas. Amolece os corações.
«Meu caro amigo, tu que és ateniense, que pertences a uma grande cidade, reputada pela sabedoria e pela força não tens vergonha de só te importares com riquezas, de fazeres o possível por as ter na maior quantidade possível, assim como honras e fama, sem que te preocupem nem te interessem a inteligência, a verdade e o melhoramento da alma? (…)», Platão, A Defesa de Sócrates.
No passado domingo o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, no alto da sua cátedra, apelidava «de astrólogo» o ministro das Finanças de Portugal. A verdade é que todos andamos há demasiado tempo a dizer que Gaspar é um fracasso enquanto ministro e ministro das finanças. Todos os números, previsões, cálculos, etc, elaborados por este senhor, têm resultados errados.
Na sequência do artigo sobre D. Filipe I, do nosso ilustre colaborador Adérito Tavares, talvez valha a pena desenvolver um pouco mais o tema das representações sociais que entre portugueses e espanhóis fazemos reciprocamente. Longe de esgotar o tema neste modesto artigo, acho interessante que o «Capeia», constituído por gente da raia, habituada ao convívio da fronteira, se expressasse sobre o olhar recíproco entre uns e outros.
A «Apologia de Sócrates», escrita por Platão, com tradução, prefácio e notas de Pinharanda Gomes, vai da sua sétima edição, acontecida em 2009, o que comprova o valor deste escrito fundamental para o estudo da filosofia clássica.
A primeira edição aconteceu em 1988 e, a partir daí, não mais pararam as reedições deste precioso escrito por parte da Guimarães Editores, inserida na prestigiada colecção Filosofia & Ensaios.
O filósofo ateniense Sócrates, que durante longos anos ensinara nos lugares públicos de Atenas, rompendo com as concepções dominantes, foi levado, aos 71 anos de idade, perante os 501 juízes do Tribunal dos Heliastas. O velho sábio de pé descalço, filósofo do passeio público, dos mercados e das tabernas, era acusado de negar os deuses da cidade e de introduzir novas divindades, para além de corromper a juventude.
A acusação era da autoria de três cidadãos atenienses: Meleto, poeta e porta-voz do triunvirato; Anito, general que lutara pela democracia contra a tirania; e Lícon, orador de ascendência estrangeira. Propuseram à Assembleia o castigo extremo, em razão da gravidade da acusação: a pena de morte.
O texto de Platão, que Pinharanda Gomes traduziu e anotou, reproduz a defesa oral de Sócrates, que abdicou dos préstimos de Lísias, orador de nomeada, que se ofereceu para refutar as acusações de que o velho filósofo era alvo. Pinharanda, no prefácio, explica as razões de Sócrates para essa objecção: «Era possível que Lísias, treinado nas lides forenses, conhecedor das psicologias heliásticas, mais ajustado aos modos de reagir de tais assembleias, detivesse o segredo – não necessariamente a arte de demonstrar a verdade, – do ínfimo pormenor persuasivo, pelo qual fosse possível mover a comiseração dos Quinhentos e Um. No entanto, se Sócrates fosse beneficiado, o benefício iria a crédito, não da sua palavra, não da sua arte, não do seu pensamento, mas da palavra, da arte e do pensamento de um Sofista.»
Sócrates recusou a defesa do experimentado Lísias e defendeu-se a si mesmo. O jovem Platão, que assistiu ao julgamento «e ainda esboçou o início de uma intervenção, sendo interrompido pelos juízes, que o mandaram regressar ao lugar», reduziu a escrito, de memória, o maravilhoso discurso do Mestre perante a Assembleia que o ouviu atenta, mas que no final foi implacável, condenando-o à morte sem apelo. Ainda que tenha persuadido uma boa parte dos 501 juízes, 280 votaram a morte.
Defende-se pois Sócrates, num longo e vivo discurso, das graves acusações que lhe eram dirigidas. O texto é considerado um clássico da arte persuasiva, se bem que o velho pensador de Atenas falasse antes da arte de ser verdadeiro, contrapondo entre o justo e o injusto para assim revelar a real natureza do homem.
Parecendo convencido que os juízes o condenariam, «os parágrafos finais da apologia são um exercício sobre a morte», diz-nos Pinharanda Gomes no prefácio da obra.
Sócrates lança a dúvida sobre se a morte pode ser um castigo e diz mesmo aos juízes de viva voz: «vejo que o melhor para mim é morrer agora, libertando-me de todos os cuidados». Afinal qual é o sentido da vida? Sócrates termina a sua longa defesa deixando a dúvida: «Chegado é o tempo de partirmos. Eu para a morte, vós para a vida. Qual dos destinos é o melhor, a não ser o deus, ninguém o sabe.»
Pinharanda Gomes traduziu o texto de Platão seguindo o texto estabelecido por Harold North Fower para a edição da Loeb Classical Library, mas procurando equivalência com a edição de Henri Estienne (Paris, 1578). Também confrontou a sua tradução com a de anteriores traduções portuguesas, como as de Ângelo Ribeiro, Sant’Anna Dionísio e Manuel Oliveira Pulquério. E aqui se explica, a nosso ver, o sucesso desta edição da Guimarães Editores, da autoria de Pinharanda Gomes, cujo labor confere ao texto o rigor necessário para ser lido e sinalizado pelos estudiosos.
Para além da Apologia de Sócrates Pinharanda Gomes traduziu também outros livros clássicos da Filosofia, sempre para a Guimarães Editores, de onde se destacam: Discurso do Método, de Descartes; Fedro, de Platão; Isagoge, de Porfírio; Carta sobre o Humanismo, de M. Heidegger; Organon, de Aristóteles
plb
O ilustre jornalista e comentador desportivo Rui Santos, sobrinho de Vítor Santos mítico chefe de redacção do jornal «A Bola», é um opinador directo que afirma, semanalmente, as verdades que muitos não gostam de ouvir e ler. Polémico e frontal tem sido, por diversas ocasiões, alvo de ameaças e tentativas de agressão daqueles que defendem a força da violência contra a força das palavras.
Rui Santos nasceu a 6 de Junho de 1960, em Lisboa, e leva 30 anos a escrever na Imprensa. Jornalista profissional, publicou o seu primeiro artigo a 12 de Janeiro de 1976 no jornal «A Bola» onde cumpriu grande parte da sua carreira. Durante 26 anos ocupou diversos lugares de chefia (inclusive o de chefe de redacção), editando revistas e outras publicações especiais, uma das quais com algum impacto internacional. Saiu de «A Bola», por vontade própria, fechando um ciclo, criticando a nova forma de entender o jornalismo (em especial o desportivo), sempre muito dependente de outros poderes.
Actualmente é colaborador dos jornais «Record» e «Correio da Manhã», onde todas as semanas assina uma página de opinião («Nu&Cru»), estabelecendo pontes entre futebol e política. Na televisão é comentador da SIC e da SIC Notícias, onde o seu programa «Tempo Extra» é uma referência no universo do cabo.
Numa das suas incursões opinativas fora do panorama desportivo coloca em destaque na edição deste sábado, 24 de Maio, do «Correio da Manhã» uma nota sobre o actual momento social português, Merece o nosso destaque…
«Sócrates já não tem de dar mais provas de que é um primeiro-ministro inexpugnável. Não há Oposição que o bata. Mas, por favor, perceba que um primeiro-ministro sem povo transforma-se num ditador. É que o povo está a rebentar pelas costuras. Não aguenta mais, está estrangulado. Não aguenta mais aumentos, não aguenta mais sacrifícios. Portugal está à beira da explosão social, vulgo ruptura, por mais que não queira acreditar…»
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Convivi com o Rui Santos durante cerca de 12 anos no jornal «A Bola». É actualmente um dos últimos jornalistas que ainda consegue dizer aquilo que sabe e pensa sem estar dependente ou constrangido por ninguém do poder desportivo ou político.
jcl