«Tem autorização para aterrar na pista 1-2», informa pelo walkie-talkie com voz firme o controlador aéreo António Fernandes, de pé, na placa junto aos hangares. Ao longe um pássaro metálico esbranquiçado confundia-se com o casario da encosta da cidade da Guarda e fazia a aproximação à pista de terra batida. O Aeródromo da Dragoa, situado junto à estrada municipal que liga as freguesias sabugalenses da Ruvina e da Nave é uma realidade e concretiza os sonhos de dois empresários visionários: António Fernandes e Joaquim Brázia.

Aeródromo da Dragoa - SabugalOs empresários sabugalenses António Fernandes e Joaquim Brázia descobriram um dia que os seus sonhos se entrelaçavam no imaginário do inconsciente.
«Nos meus sonhos os maus vêm atrás de mim e, invariavelmente, aparece um precipício. Então… olho para trás… eles estão cada vez mais perto… estico os braços que se cobrem de penas e lanço-me sobre o espaço vazio batendo com força as asas e afasto-me para longe», disse o Joaquim Brázia numa roda de amigos no Mira-Côa. «Sonhas com pássaros? Eu também!», interrompeu o António Fernandes.
O resultado já todos sabemos. Compraram dois girocópteros e seleccionaram num planalto entre as freguesias da Ruvina e da Nave o terreno ideal para aplainar entre giestas e barrocos o aeródromo da Dragoa, a pista que dá vida aos seus sonhos.
A festa de inauguração do Aeródromo da Dragoa decorreu entre os dias 13 e 15 de Agosto e foi local de romaria para centenas de curiosos visitantes.
Na placa estiveram estacionados 12 aeronaves (dez francesas e duas portuguesas) de diversos modelos. Entre eles destacava-se um bimotor com lotação para oito passageiros e dois tripulantes que realizou dezenas de voos com cerca de 20 minutos sobre a região e proporcionou baptismos de vôo a pessoas de todas as idades. Utilizava a pista toda para levantar voo na direcção oeste-leste mas para aterrar apenas necessitava de metade do seu cumprimento. A potência dos motores provocava uma enorme nuvem de poeira obrigando os surpreendidos mirones espalhados pela placa e pelos hangares a protegerem-se.
Os mais aventureiros colocavam o capacete e sentiam o ar bater na cara enquanto levantavam voo no lugar do pendura dos girocópteros de dois lugares. «O calor é prejudicial para a sustentabilidade de vôo nestes aparelhos. O vento até 60 kms/hora não causa qualquer problema», diz-nos o piloto de serviço no girocóptero amarelo.
Na placa um dos ultraleves motorizados estacionados chama-nos à atenção. É um «Sky Ranger», vermelho e branco, equipado com motores Rotax. O famoso modelo de dois lugares foi criado em 1990 pelo francês Philippe Prevot (Toulouse) e é usado na maioria das escolas de voo.
«O Sky Ranger é um avião campeão do mundo em performance», começou por nos dizer o piloto Jean-Pierre residente na região parisiense e que viajou até Portugal acompanhado do também francês Mattieu. «Tem uma autonomia até quatro horas mas, por segurança, faço planos de vôo entre aeródromos de apenas três horas com 60 litros de combustível. Voamos à velocidade máxima de 150 kms/hora com um consumo médio de 15 litros por hora», explicou Jean-Pierre que aproveitou para deixar algumas palavras de agradecimento e incentivo ao «ami Antóniô» pela excelente iniciativa. Esteve na Dragoa entre quinta-feira e domingo e prometeu voltar sempre que possível.
Entre dois voos, Joaquim Brázia, responsável pelo check-in dos passageiros para o bimotor e ultra-leves, projectou os próximos melhoramentos. «Agora as grandes prioridades passam por alcatroar a pista, ter água e electricidade e um rádio portátil com frequências para os pilotos», disse-nos o pássaro, perdão, empresário voador.
O aeródromo da Dragoa é um projecto com grandes potencialidades que merece ser reconhecido como prioridade das estratégias de desenvolvimento regional e transfronteiriço no âmbito das parcerias público-privadas. Um verdadeiro ninho incubador de amplas potencialidades de investimento turístico.

Parabéns António Fernandes e Joaquim Brázia.
jcl