Caros amigos, esta não é uma notícia, este foi um acontecimento, pelo qual todos passamos. O meu pai, companheiro de tantas lutas – forte na causa da vaca jarmelista, apoio até na execução da vacagalo –, disponível sempre que lá chegava com jornalistas, ou mesmo pessoas que queriam saber do Jarmelo e das suas coisas.
Subimos os dois, até ao alto, subimos, muitas vezes com sacríficio e alguma dor (angústia), deixámos a causa da vaca jarmelista, mesmo ali no ponto de onde se pode partir para muito mais… ou cair ao mais fundo.
Levámos esta caminhada até ao tal ponto alto, do qual a ele já só lhe sobravam vertigens, a pressão de algumas angústias, forçaram-no a várias quebras de tensão (umas mais figuradas, outras mesmo reais) sendo que a última foi na sexta-feira, dia 17 de Abril, cerca de 40 anos depois de, ele também com sensivelmente a minha idade, ver partir seu pai e cerca de 30 anos depois, pela mesma época ver partir sua mãe.
Algumas coisas que estão destinadas aos sábios, acho que o «Silva da Ima», as tinha. Teve a lucidez de saber que o «tempo» estava próximo e como me disse no dia da partida (emocionados os dois, claro) – já vi partir o meu avô, o meu pai… não há nada de novo.
Ora citado nos jornais locais, ora falando nas rádios ou aparecendo nas TVs, o «Silva da Ima» teve sempre a preocupação de não dizer (principalmente sobre a vaca jarmelista), tudo o que lhe ia na alma, mas tão só aquilo que achava que poderia ajudar à estratégia de «salvar» as situações em que eu o metera.
Deixou-nos com grande lucidez, a tal que perturba os que presentem osacontecimentos.
Passou os últimos dias a falar com os amigos e a dizer-lhes as últimas coisas.
Quantas horas faltavam para a revisão do tractor, quando é que se tratavam as abelhas, a renda da lameira ou da regada, isto e aquilo.
Depois de 3 episódios de quebras de tensão, em 12 horas… visitas ao hospital… depois da primeira, disse-me, logo vi que me mandavam pra casa pra morrer.
Não foi da primeira, mas acabou por acontecer depois da última saída do hospital (3) em 12 horas, teve direito a um dia completo para voltar a falar das coisas que naquele momento eram importantes. O «Silva da Ima», era um «gracejador» e ainda disse, não tarda muito e estou a lavrar novamente no «Lameirinho» (terreno, onde
quarta-feira deu os últimos 10 regos com a charrua do “Massey Fergusson 135″). Depois destes últimos dez regos, ainda foi com a nossa mãe semear «gravanços»; aí deu-se o primeiro episódio de quebra de tensão e convulsões. A nossa Mãe (que é CORAGEM) assistiu-o com recurso a algumas dicas que lhe fomos ensinando, e todo o resto de força interior, não havendo por que pedir socorro, teve que o deixar, já consciente, mas deitado, para ir telefonar por apoio e trazer um cobertor.
O «Silva da Ima» andava a sismar com a morte dos pais (dele) que se dera há cerca de 40 e 30 anos respectivamente pai e mãe, ambos no mês de Abril, próximo da Páscoa… estas coisas vão marcando e às vezes fazem lei.
Para ele, guardou um dia que não sendo de páscoa, era ainda nos 8 dias após.
O «Silva da Ima» guardou para ele, que o funeral pudesse ser num sábado ou domingo. Acho que o que o traria perturbado, podia ser o facto de o filho mais velho ser camionista e não poder estar (até isso acertou, estva sem carga e perto do aeroporto de Milão na Itália). Não tivemos que faltar aos empregos para tratar de tudo.
O «Silva da Ima», acho eu que era vaidoso, pena que não tivesse visto o mar de gente que o acompanhou, o «Silva da Ima» não queria flores nem choros. Dizia em tom de brincadeira: o que me custa mais, Isablinha (nossa mãe) é deixar-te viúva.
AEUS PAI!!, conta connosco MÃE!!!
Agostinho da Silva