Aldeia Da Ponte e o concelho do Sabugal, durante as décadas do século passado, foram um verdadeiro viveiro de milhares de vocações sacerdotais e religiosas, em missões na Diocese da Guarda, em outras Dioceses Portuguesas, extensivas a todos os Continentes.
Ler MaisDecorria o ano de 1975, concretamente o dia primeiro de maio, e eu, juntamente com um colega escuteiro, decidimos fazer uma caminhada para obtermos a especialidade de «andarilho». O objetivo era no mínimo fazer vinte quilómetros de marcha. A aldeia de Águas de Moura dista 10 quilómetros de Setúbal, sendo por isso o destino ideal para a conquista de mais esta proeza. Mas digo-vos com sinceridade: ter feito esta atividade neste primeiro de maio foi bem mais difícil do que imaginámos!
No passado dia 8 de dezembro publiquei este artigo no Facebook. Não posso ficar indiferente nesta passagem de ano sem denunciar esta atrocidade. O meu Rio Azul, que caminha de sul para norte, como contrariando a natureza, como uma contracorrente de oposição, de inconformismo, está outra vez nas «mãos» dos interesses económicos e, provavelmente com uma morte anunciada. Quem não se lembra das ostras que a central térmica «convidou-as» a mudar para o Algarve, do tratamento de esgotos que tardou, e, do mais importante, do controlo do estuário, zona fundamental do equilíbrio natural pela alteração do pH da agua, em face da proximidade do mar, onde o sal ajuda à precipitação dos sedimentos e de outros nutrientes essenciais à vida de espécies que escolheram este habitat para sobreviver.

Portugal, sendo um pais vocacionado para o mar, na realidade nunca lhe deu muita importância. Só muito recentemente é que as cidades ribeirinhas começaram a ter espaços de lazer dignos junto aos rios, como em Lisboa e Setúbal. Os portos, sem dúvida importantes para a nossa economia, quase «taparam» por todo o lado a vista ribeirinha que apreciamos, ora com contentores, ou cais, ou navios acostados. Felizmente nesse campo demos passos importantes e presentemente as populações já conseguem ter algum espaço aberto e desafogado para desfrutar a calmaria das aguas que sobem e descem nos estuários com as marés, num balanço quase perfeito.
A vocação marítima dos portugueses fez dos portos o principal entreposto da sua economia e se hoje somos independentes, muito devemos aos nossos antepassados que viraram «costas» à Europa e se lançaram à aventura pelos mares desconhecidos.
Porém com a evolução do conhecimento, principalmente com as preocupações ambientais, as sociedades começaram por descobrir que a atividade comercial nos portos começava a provocar impactes nos ecossistemas, fosse através da pesca, na exploração comercial nas praias, a falta de tratamento dos esgotos urbanos, levando a própria cor azul que tendia a desaparecer. E obviamente estou a ser muito leviano com esta abordagem muito singela.
Quando era garoto muita gente ia para as praias banhadas pelo Sado, na margem esquerda, ainda antes da industrialização, e igualmente via muitos barcos que pescavam taínhas sem o sabor a gasóleo dos dias de hoje.
Tecnicamente falando as zonas dos estuários são muito complexas. Tanto do ponto de vista hidráulico (devido à influência das marés) como ambiental por causa do «encontro» entre a salinidade do mar e a doçura da água do rio. Para além destes aspetos há o estudo do movimento de sedimentos no fundo, efetuada pela hidráulica fluvial, com modelos de grande complexidade devido às variáveis que dificultam a previsão do comportamento do transporte deste material solido que «baila» no fundo dos estuários e dos próprios rios.
Neste cenário é compreensível que as dragagens, ou seja, remover sedimentos das profundezas do estuário é um tema sensível, mesmo para os menos conhecedores da complexidade destes fenómenos naturais, porque na realidade é da natureza, do ambiente, que se está a falar.
Mas mesmo imaginado que a «Baía mais bela do mundo» teria de deixar de o ser porque para a sobrevivência da economia nacional seria preciso construir um porto de aguas profundas e, na realidade, apenas este estuário permitisse a atracagem de grandes navios, resolvendo assim os graves problemas da nossa débil economia, sem dúvida que a fundamentação da dragagem poderia ter algum fundamentando, sem menosprezar a legislação ambiental transposta das diretivas europeias. Pois é!
Pegando num barco à vela, sem motor, e rumando a sul, a umas escassas 40 milhas, sensivelmente, encontramos uma das zonas naturais com melhores características para se fazer um porto de aguas profundas permitindo a acostagem de navios de grande porte. E, julgo, até já está feito: o porto de Sines.
Com certeza que haverão estudos, motivos, ideias de pessoas bem mais conhecedoras do que eu, ainda para mais emigrado nas montanhas, que justificam estas obras e este empreendimento no nosso Rio que voltou a ser Azul, após anos de esforço de entidades publicas e privadas na recuperação ambiental da qualidade da agua no estuário do Sado, tendo, entre outras coisas, possibilitado o regresso dos golfinhos roazes.
Provavelmente por isso, nunca vi e senti tanta contestação por gente de Setúbal, minha terra, e que por sinal muitos deles até pautam pela sensatez.

Mesmo do ponto de vista político (do município, não partidário obviamente) a entidade responsável pela gestão do porto e do estuário é a administração central através do Ministério do Mar, Ministério da Defesa e do Ministério do Ambiente. E por esse motivo, pese embora a liberdade de opinião e de expressão que felizmente usufruímos, a Presidente deveria ter sido mais cautelosa mesmo pensando no eventual crescimento económico da cidade. Deveria ter sido o fiel da balança que faltou nesta teia de atrocidades ao nosso património ambiental.
Setúbal hoje é uma capital de referência e uma cidade aprazível de se estar. Mas Setúbal sem o Rio Sado, mesmo sendo Setúbal, não é a mesma coisa!
Por isso já é tempo de se respeitar o ambiente, os ecossistemas dos estuários (hoje felizmente Parque Natural), evitar a todo o custo a poluição fluvial e também, já agora, o equilíbrio do transporte de sedimentos, que pode ser uma chatice para os navios, mas faz muita falta para a sobrevivência da fauna da ainda «Baía mais bela do mundo».
Setúbal, 25 de dezembro de 2018
:: ::
«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
Esta semana fui até Condeixa visitar o meu irmão António Alves Fernandes. Uma viagem bem diferente daquela que ambos temos vindo a fazer ao longo desta vida em comum. Efetivamente, o local onde fui recebido, levou-me à interioridade e ao facto de que nada somos e nada seremos.
Estava-se em Abril de 1968. Recebi a Guia de Marcha para Penamacor, 1.ª Companhia Disciplinar. Não sabia que a terra de Ribeiro Sanches, médico militar, tinha aquela Unidade Militar, junto à fronteira com terras castelhanas. Solicitei um quartel em Lisboa e suas periferias e recambiaram-me para a fronteira.

«Da Bismula só recordo um palheiro e um sardão verde», diz o nosso Homem, nascido nessa freguesia de pobreza a 8 de Dezembro de 1958, agora ao volante do seu automóvel a caminho de Setúbal. Eis-me à boleia em mais uma viagem da Vida.

Estamos em Janeiro de 1967, o nosso Homem vai para Mafra cumprir o serviço militar, interrompendo os estudos. Três meses depois passa pela Escola Prática de Artilharia, é reclassificado e, por sorte, vai frequentar o Curso da Administração Militar no Lumiar. Feito o pedido para ficar na zona de Lisboa, onde tinha toda a família, o nosso Homem é recambiado para a 1.ª Companhia Disciplinar de Penamacor, para lá chegar demorou um dia entre comboio e autocarro. Chega a «peluda», chega a guia de marcha, está a caminho da Guiné no Uíge.

Meados de Junho, um dos dias mais quentes da época. Os termómetros em Setúbal anunciam os 45 graus positivos, grande canícula. Os turistas invadem uma Igreja, lá esperam encontrar um clima mais ameno. O catolicismo é uma óptima religião no Verão, até os ateus se convertem para estarem mais fresquinhos à sombra do Senhor.
Hoje lembro-me da minha Mãe e do milagre do meu nascimento. O parto foi difícil, ambos estivemos à beira da morte, e só Deus sabe como nos safámos. Talvez pelo Altíssimo simpatizar com o nosso palheiro ou com o nosso burrico de subsistência.

O Sabugal participou no 1.º Open de Judo Adaptado Special Olympics 2017, realizado na cidade de Setúbal, com a judoca Maria Ribeiro, que foi vice-campeã da prova em que participou.

«O Nosso Homem» é o título do livro que reúne os escritos do bismulense António Alves Fernandes, muitos deles publicados aqui no Capeia Arraiana. A sessão de lançamento decorrerá no dia 19 de Março na Sede da ADCRAJ – Associação Desportiva Cultural e recreativa de Aldeia de Joanes (Fundão).
A notícia caiu na minha secretária de trabalho, já a noite ia adiantada. O e-mail era sintético: faleceu o Padre Álvaro Teixeira, no Hospital de São Bernardo em Setúbal.

No Café Literário, junto à Igreja de São Francisco na Covilhã, decorreu uma tertúlia escutista organizada pelo Núcleo da Fraternidade Nuno Álvares local, com o apoio do Município covilhanense, sendo orador convidado Francisco Alves Monteiro, um beirão natural da Bismula (Sabugal), dirigente escutista da Região de Setúbal, com cinquenta e três anos de atividades no movimento e autor do Livro «História do Escutismo em Setúbal e na Região».

O dia 9 de Novembro estava a decorrer com a maior das normalidades – o calor do Verão de São Martinho, as castanhas, o vinho novo e as sardinhas escorchadas acompanhadas com batata-doce da Comporta, couve-flor da Cova da Beira e água-pé de Palmela. As felicitações chegavam-me em catadupa por diversas vias. Era um dia muito especial, a recordação da minha nascença, há várias décadas. Estava tudo muito bem, quando ao cair do dia chegou a notícia de que o Chefe Joaquim morrera.

A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, distinguiu com a Medalha de Honra da Cidade Francisco Alves Monteiro, de 64 anos, nascido na Bismula, concelho do Sabugal, que em Setúbal, onde cresceu e onde vive, se dedicou de alma e coração ao Movimento Escutista. O bispo da diocese, D. Gilberto Canavarro dos Reis, o seleccionador nacional de futebol de praia, Mário Narciso, e o actor recentemente falecido, Nuno Melo, foram alguns dos demais homenageados, em cerimónia realizada no dia 15 de Setembro, em evocação do Dia de Bocage e da Cidade do Sado.
plb
No dia 19 de Agosto em reunião pública e ordinária, o executivo da Câmara Municipal de Setúbal, aprovou a listagem de personalidades e entidades, que se destacaram em serviços de relevo no desenvolvimento do Concelho Setubalense ou actividades de projecção nacional ou internacional.

Na concretização de uma planeada organização, realizou-se há dias o primeiro encontro de um Grupo de Ex-Militares de Setúbal, amigos de Aldeia de Joanes. Uma acção militar de confraternização não é feita ao acaso, elaborada em cima do joelho, exige planeamento e mobilização das forças. A organização assentou num programa, previamente elaborado com vertentes culturais, sociais e gastronómicas.

Com regularidade religiosa, recebo na caixa do correio um jornal – «O Gaiato» – do qual não prescindo: «Obra de Rapazes, para Rapazes e pelos Rapazes.» Como eu, milhares de cidadãos portugueses também recebem esta simples mas enriquecedora e humana publicação.

Joaquim Alves Fernandes, o Chefe Quim, como todos os Escuteiros da Região de Setúbal o conheciam e apelidavam, nasceu em 22 de Julho de 1953, na Freguesia da Bismula (Sabugal), filho de José Maria Fernandes Monteiro e Maria da Piedade Alves Lavajo. Faleceu a 26 de Fevereiro de 2013, na cidade do Sado, após longa e dolorosa doença.
