Nas horas longas da revolução republicana, que triunfou no dia 5 de Outubro de 1910, os principais conjurados civis reuniram na redacção do jornal A Luta (Lucta na grafia da época), dirigido por Brito Camacho.
Em 5 de Março de 1917 morreu, em Lisboa, Manuel de Arriaga, primeiro presidente da República Portuguesa.
:: :: EFEMÉRIDES 2015 :: 19 DE JUNHO :: :: O Capeia Arraiana publica diariamente as efemérides mais relevantes de cada data… Hoje destacamos a reunião em sessão inaugural a Assembleia Nacional Constituinte, em 1911.
Ler MaisA França é a mais velha república europeia dos tempos modernos. No entanto, têm surgido naquele país os doutrinadores monárquicos mais destacados e os mais celebrados críticos do regime, nomeadamente os teorizadores da chamada «Action Francaise».
Ler Mais«Imagem da Semana» do Capeia Arraiana. Envie-nos a sua escolha para a caixa de correio electrónico: capeiaarraiana@gmail.com
Data: 23 de Janeiro de 2011.
Local: Ruvina, Sabugal.
Autoria: Capeia Arraiana.
Legenda: Eleições para a Presidência da República. O Presidente da Câmara Municipal do Sabugal, António Robalo, votou às 17 horas na freguesia da Ruvina. «Agir positivo e pensar positivo», declarou o autarca junto de alguns conterrâneos após exercer o direito de voto.
Este acto de cidadania faz-me pensar como seria interessante saber onde votaram os outros intervenientes políticos e sociais sabugalenses. A minha curiosidade aumenta quando penso em algumas personalidades que estão sempre dispostas a apontar de forma indigna defeitos e problemas esquecendo-se das soluções e do respeito pelas pessoas.
jcl
O historiador Jorge Martins esteve presente na Casa do Castelo, no Sabugal, no dia 7 de Novembro, para uma sessão de apresentação do seu mais recente livro « A República e os Judeus».
A sessão de lançamento da obra «A República e os Judeus», do historiador Jorge Martins, teve lugar na Câmara Municipal de Lisboa, no dia 9 de Outubro e foi apresentado pelo pensador e filósofo Miguel Real, autor do prefácio.
No dia 7 de Novembro o escritor deslocou-se propositadamente ao Sabugal para fazer a apresentação do livro na Casa do Castelo. Jorge Martins considera-se «filho adoptivo do Sabugal» porque aquando da apresentação de outro dos seus livros, também na Casa do Castelo, desabafou que «era de Lisboa e por isso não podia dizer que tinha terra» foi presenteado por Natália Bispo com um saco de batatas e cebolas para levar para a capital. Também agora voltou para casa com dois lindos sacos – de batatas e de cebolas – ofertados pela dona da Casa do Castelo mantendo, assim, esta relação de amor às terras raianas do Sabugal.
A apresentação do livro – onde estiveram presentes muitos amigos da Casa do Castelo e personalidades ligadas à cultura e às artes – contou com a dramatização de alguns textos pelo actor Jorge Sequerra.
No dia 11 de Novembro, Jorge Martins deslocou-se ao Parlamento para mais uma sessão de lançamento do livro «A República e os Judeus», na Biblioteca da Assembleia da República. «Não podia deixar de realizar na Assembleia da República o lançamento de “A República e os Judeus”, pois aqui se proferiram discursos importantes a favor dos judeus, aquando da discussão do projecto de Lar Judaico em Angola», disse na ocasião.
Recorde-se, ainda, que Jorge Martins foi o moderador (3.º painel) e orador (4.º painel) no Congresso do 1.º Festival da Memória Sefardita que decorreu no início do mês de Novembro no TMG-Teatro Municipal da Guarda organizado pela Turismo Serra da Estrela. A sua intervenção sob o título «Os Judeus da Serra da Estrela nos processos da Inquisição» versou, especialmente, os judeus do Sabugal desde o século XVI até aos nossos dias.
Parabéns ao escritor Jorge Martins e à Casa do Castelo por mais esta oportunidade cultural.
jcl
O historiador Jorge Martins esteve presente na Casa do Castelo, no Sabugal, no dia 7 de Novembro, para uma sessão de apresentação do seu mais recente livro « A República e os Judeus».
GALERIA DE IMAGENS – «A REPÚBLICA E OS JUDEUS» – CASA DO CASTELO – 7-11-2010 |
Fotos Capeia Arraiana – Clique nas imagens para ampliar |
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«A República e os Judeus» é o mais recente livro do historiador Jorge Martins. Após o lançamento na Câmara Municipal de Lisboa o autor desloca-se ao Sabugal no dia 7 de Novembro para apresentar o livro na Casa do Castelo.
«A República e os Judeus» é o mais recente livro editado pelo historiador Jorge Martins. A cerimónia de lançamento teve lugar na Câmara Municipal de Lisboa, no dia 17 de Outubro, com a apresentação a cargo de Miguel Real, autor do prefácio do livro e do actor Jorge Sequerra que fez a leitura dramatizada de textos da época da implantação da República.
«A capa de «A República e os Judeus» teve um percurso curioso» recorda Jorge Martins no seu blogue «Portugal e os Judeus» acrescentando que «o talentoso artista, Jorge Machado-Dias, que tem feito as capas dos meus livros editados na Vega, resolveu criar um blogue onde expõe o seu processo de criação, exibindo os projectos exploratórios até chegar à capa final». Como a ideia era associar os judeus à República a foto escolhida, publicada na revista Ilustração Portuguesa em 1915, mostra o presidente da República, Teófilo Braga e o seu secretário particular, o judeu Levy Bensabat (primeiro à direita).
O filósofo Miguel Real considerou no prefácio da obra: «Pelos seus livros publicados nomeadamente os 3 volumes de Portugal e os Judeus (2006) e a Breve História dos Judeus em Portugal (2009), Jorge Martins é hoje, indubitavelmente, o maior historiador português vivo do judaísmo. Não é de admirar, assim, que, em harmonia com as Comemorações do I Centenário da República, ora seja publicado o seu estudo A República e os Judeus (…)
No século XX, especialmente no tempo da I República, são exemplarmente estudados e realçados os casos dos projectos de colonização judaica de Moçambique e de Angola, que teriam mudado radicalmente a face económica e religiosa destas colónias portuguesas, elevando em muito o seu peso estratégico internacional, alterando porventura a totalidade subsequente da história portuguesa deste século (…)
Se, por via da política do confronto directo com as instituições católicas, existe claramente uma “questão religiosa” na I República, não existe, como o estudo de Jorge Martins o prova com clareza, uma “questão religiosa” com as comunidades judaicas portuguesas. Não existe, portanto, uma “questão judaica” na I República.
Um livro de aconselhável leitura no ano do 100º aniversário da implantação da República.»
Cerca de um ano depois, no dia 7 de Novembro, o autor desloca-se ao Sabugal para apresentar mais um livro na livro na Casa do Castelo. Recorde-se que a 17 de Outubro de 2009 apresentou em sessão pública, também na Casa do Castelo, o livro «Breve História dos Judeus em Portugal» e lançou o desejo de juntar vontades para proporcionar o estudo e divulgação dos vestígios judaicos no Sabugal assim como o lançamento das bases de um roteiro judaico para o território raiano.
O historiador Jorge Martins é um dos congressistas do I Festival Internacional da Memória Sefardita organizado pela Turismo Serra da Estrela entre os dias 1 e 7 de Novembro. Na manhã de quinta-feira, dia 4, no TMG-Teatro Municipal da Guarda o especialista em história judaica será o moderador do 3.º painel intitulado «A fronteira da vida de Aristides de Sousa Mendes» e participará como orador no 4.º painel «O Impacto da herança Judaica no Turismo» onde falará dos Judeus do Sabugal.
jcl
Na manhã do dia 6 de Outubro foi plantada a Árvore da República na Escola Secundária do Sabugal.
O canteiro do pátio da entrada da Escola Secundária do Sabugal tem mais uma árvore. Mas não é uma árvore qualquer. É a Árvore do Centenário da República e foi plantada na manhã do dia 6 de Outubro.
Participaram neste momento simbólico das Comemorações dos 100 anos da República em representação da Câmara Municipal do Sabugal o presidente António Robalo, a vice-presidente Delfina Leal e os vereadores Ernesto Cunha, Joaquim Ricardo, Luís Sanches, Sandra Fortuna e Francisco Vaz. O director, Jaime Vieira, os professores e alunos da Escola Secundária do Sabugal concentraram-se no largo da entrada e colaboraram na plantação da árvore que se pretende chegue, também ela, a centenária.
As primeiras Festas da Árvore iniciaram-se em Portugal na fase muito final da Monarquia por iniciativa de organizações republicanas. A 26 de Maio de 1907 realizou-se no Seixal a 1.ª Festa da Árvore, promovida pela Liga Nacional de Instrução, criada para promover a instrução nacional e principalmente o ensino primário popular.
Destacam-se na sua organização duas figuras ilustres da Maçonaria – António Augusto Louro (natural do Sabugal) que presidiu à Comissão que promoveu a Festa da Árvore e Manuel Borges Grainha da Liga Nacional de Instrução.
A Festa foi um enorme sucesso ao qual aderiram alunos, professores e população do Seixal mas também destacados cidadãos e populações das proximidades.
A implantação da República a 5 de Outubro de 1910 trouxe à sociedade portuguesa um conjunto de novos valores e símbolos. Entre estes destaca-se o culto da árvore que se associa a outros valores centrais do republicanismo como a fraternidade, a educação e o culto da pátria.
jcl
«Os heróis do mar, o nobre povo, a nação valente e imortal celebra os 100 anos da República Portuguesa no concelho do Sabugal.» Reportagem da jornalista Paula Pinto com imagem de Sérgio Caetano da redacção da LocalVisãoTv (Guarda).
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Autoria: LocalVisãoTV posted with Galeria de Vídeos Capeia Arraiana
jcl
Comemorar os 100 anos da implantação da República, é comprometer-nos na construção de um Sabugal Melhor!
Em primeiro lugar, lembramos a atitude de um punhado de portugueses que, transportando a vontade de todo um Povo, souberam dar-se pela causa pública, acreditando nos ideais progressistas e modernistas das ideias republicanas e por elas se dispondo a lutar com risco da própria vida.
Mas lembramos também, e sobretudo, os ventos de progresso, libertação e democratização da sociedade portuguesa que, todos acreditavam, a República transportava no seu seio.
A igualdade perante o Estado e os seus órgãos político-administrativos; o fim dos privilégios ligados às condições de nascimento; a liberdade de consciência e de crença; o fim das perseguições por motivos de religião; a universalidade do ensino primário obrigatório e gratuito; a total liberdade da expressão de pensamento e do direito de reunião e associação; o direito à assistência pública;
Eis todo um ideário de progresso e de modernidade que os republicanos traduzem de imediato na Constituição de 1911.
E no que ao Poder Local diz respeito, a mesma Constituição consagrava, pela primeira vez, o princípio da não ingerência do Poder Executivo na vida dos corpos administrativos locais.
É também na Constituição de 1911, que se definem como princípios a seguir pela legislação ordinária, no que ao Poder Local diz respeito:
A separação dos poderes distritais e municipais em deliberativo e executivo; o exercício do referendo; a representação das minorias nos corpos administrativos locais; a autonomia financeira dos corpos administrativos.
Lamentavelmente, não houve a coragem política para se ir mais longe no que diz respeito à total autonomia do Poder Local, mantendo-se os magistrados administrativos, subordinados ao Governador Civil.
Igualmente, e como isto nos é hoje familiar, a luta entre os «federalistas» e os «centralistas», levaria ao abandono das teses republicanas que defendiam uma forma de regionalização do País assente no tripé «Freguesia-Município-Província».
Mas comemorar o centenário da implantação da República tem hoje, e no contexto do Concelho do Sabugal, outra e fundamental razão.
Em 1911, o Concelho tinha 34.778 habitantes; hoje tem somente 13.261, quase um terço.
Em 1911 as maiores freguesias, todas com mais de 1.000 habitantes, eram 12, por ordem decrescente: Sabugal, Quadrazais, Vale de Espinho, Soito, Alfaiates, Aldeia Velha, Casteleiro, Aldeia da Ponte, Bendada, Pousafoles do Bispo, Sortelha e Santo Estêvão; em 2001 eram duas: Sabugal e Soito.
E no que dizia respeito às freguesias de menor dimensão, com população inferior a 300 habitantes, eram em 1911, Ruivós, Vale das Éguas, Lomba e Vale Longo; no último censo realizado, contavam-se 22 freguesias (mais de metade do total de freguesias do Concelho) com menos de 300 habitantes…
Este é um cenário que nos obriga àquilo a que chamo de «refundação do Concelho do Sabugal».
Os sabugalenses de cada lado do Côa, possuidores de uma história de milénios, caldeados pelo frio e pelo calor, pertencem à classe dos que «antes morrer que torcer», daqueles que, nas tempestades sabem escolher o seu rumo.
E por isso, lembrar a gesta heróica de mulheres e homens que fizeram o 5 de Outubro, estou certo que todos, independentemente da sua ideologia, perceberam já que esta é a hora.
É a hora de definir para onde queremos ir e como lá chegar;
É a hora de usar os recursos vastos que temos para tornar o Concelho mais competitivo e qualificado;
É a hora de afirmar o Concelho no quadro regional, mas também no quadro transfronteiriço;
É a hora para a qual todos somos chamados e na qual todos devemos participar!
E, permitindo-me parafrasear José Relvas na sua proclamação às 11 horas do dia 5 de Outubro de 1910 nas varandas dos Paços do Concelho de Lisboa:
«Unidos todos, numa mesma aspiração ideal» os sabugalenses vão reconstruir o Concelho do Sabugal tornando-o num território sustentável e competitivo, atractivo para viver, trabalhar e investir, preservando as memórias, as tradições e a natureza!
Nota: Esta crónica reproduz no essencial a intervenção feita no dia 5 de Outubro no Auditório Municipal, na qualidade de Presidente da Assembleia Municipal.
«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Presidente da Assembleia Municipal do Sabugal)
rmlmatos@gmail.com
5 de Outubro de 1910. 5 de Outubro de 2010. Os 100 anos da República foram assinalados com pompa e circunstância no concelho do Sabugal. A Comissão do Centenário, presidida por Adérito Tavares, preparou com muita dignidade – e qualidade – um programa comemorativo que destaca os valores republicanos da educação, liberdade, igualdade e justiça para todos.
5 de Outubro de 1910. 5 de Outubro de 2010. Os 100 anos da República foram assinalados com pompa e circunstância no concelho do Sabugal. A Comissão do Centenário, presidida por Adérito Tavares, preparou com muita dignidade – e qualidade – um programa comemorativo que destaca os valores republicanos da educação, liberdade, igualdade e justiça para todos.
A oração de sapiência na sessão solene no Auditório Municipal do Sabugal esteve a cargo do ilustre historiador Adérito Tavares, natural de Aldeia do Bispo, no concelho do Sabugal. Adérito Tavares preside à Comissão Municipal para as Comemorações do Centenário da República e é responsável pela recolha e classificação de muitos e valiosos documentos disponíveis na exposição sobre a história da República no Museu.
«No dia 12 de Maio de 2010 assisti no Largo da República, no Sabugal, à representação de um jovem que da varanda dos Paços do Concelho encarnou José Relvas e gritou – Está proclamada a República. Viva Portugal!», recordou Adérito Tavares no início da sua oração de sapiência que vamos reproduzir na íntegra.
«Intervenção na sessão solene de comemoração do Centenário da República no Sabugal
Na manhã de 5 de Outubro de 1910, da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, José Relvas e Eusébio Leão, membros do Directório Republicano, anunciavam o estabelecimento do regime republicano e a composição do Governo Provisório, enquanto as suas palavras eram vibrantemente aplaudidas por uma multidão delirante.
Poucas horas depois, um suplemento do Diário do Governo «oficializava» a revolução: «Hoje, 5 de Outubro de 1910, às onze horas da manhã, foi proclamada a República de Portugal no salão nobre dos Paços do Município de Lisboa, depois de terminado o movimento da revolução nacional.»
No dia seguinte, o rei e a família real embarcavam na Ericeira a caminho do exílio.
O triunfo do levantamento republicano deveu-se menos aos méritos das diferentes forças empenhadas no derrube da Monarquia e mais às fragilidades desta. As condições objectivas eram extremamente favoráveis aos republicanos: o País encontrava-se mergulhado numa profunda crise económica, financeira, social e institucional. Por outro lado, a «republicanização» de vastas camadas da população urbana tinha também criado as condições subjectivas para a mudança de regime: a alternativa desenhada pelos ideais republicanos apontava para uma sociedade mais progressiva e mais justa, criando enormes expectativas na população. Mas seria justamente a frustração de muitas dessas expectativas que haveria de criar grandes dificuldades ao novo regime implantado em 1910.
No Sabugal, as notícias da proclamação da República chegaram depressa. Uma semana depois, um grupo de respeitados cidadãos republicanos formou um executivo camarário provisório, presidido pelo Doutor Aurélio de Almeida Santos e Vasconcelos, Morgado de Sortelha. No livro de actas da Câmara podemos ler:
Acta de instalação da Câmara Municipal Republicana, no dia 12 de Outubro de 1910
Presidência do cidadão Aurélio de Almeida Santos e Vasconcelos.
Presentes os senhores vogais João dos Santos Forte, Aníbal Esteves, José Augusto Rodrigues, Manuel António da Mota, José Casimiro da Costa Quintela e Alexandre Lourenço Leitão.
Sendo duas horas da tarde, o senhor Presidente abriu a sessão.
E, um pouco mais adiante:
[A Câmara] deliberou, finalmente, que se enviassem [telegramas] aos Excelentíssimos Presidente Provisório da República e ao Governador Civil deste Distrito, felicitando-os pela proclamação da República e dando-lhes conhecimento de que [esta Câmara] tomou hoje [posse] da Administração Municipal.
No dia seguinte, 13 de Outubro de 1910, voltou a reunir o novo executivo municipal republicano. O entusiasmo com que a República foi recebida transparece na seguinte passagem da acta dessa sessão:
… pedindo e obtendo a palavra, o cidadão vereador [José Casimiro da Costa] Quintela […] disse que se sentia muito à vontade no seu lugar, orgulhoso de pertencer à nova Câmara Republicana deste concelho, composta de cidadãos de uma envergadura moral acima de toda a suspeita e presidida por um dos [cidadãos] mais distintos que conhece.
Pouco tempo depois, em 27 de Outubro de 1910, o Governador Civil da Guarda, Dr. Arnaldo Bigotte de Carvalho, nomeou José Casimiro da Costa Quintela Presidente da Câmara Municipal do Sabugal e o Doutor Aurélio de Vasconcelos Administrador do Município. Lembro que o Administrador do concelho, que existia nos últimos tempos da Monarquia e continuou a existir durante os primeiros anos da República, era o representante do Governo central, o equivalente concelhio ao Governador Civil distrital.
Vale a pena determo-nos ainda noutro destes interessantes documentos, que ilustram bem os acontecimentos ocorridos há cem anos: na sessão do dia 17 de Outubro, ainda sob a presidência do Doutor Aurélio de Vasconcelos, encontramos estas palavras:
A Câmara deliberou que, na acta desta sessão, se lançasse um voto de profundo pesar pelo falecimento dos grandes democratas Doutor Miguel Bombarda e Vice-Almirante Cândido dos Reis, e das demais vítimas que houve para a proclamação da República.
A morte trágica destes dois líderes carismáticos da Revolução cobriu de luto o país republicano e impressionou vivamente as novas autoridades municipais. Por isso, as vilas e cidades de Portugal se encheram de ruas e praças com os nomes do Almirante Reis e do Doutor Miguel Bombarda. A começar, desde logo, pela grande Avenida Almirante Reis, em Lisboa, que até então se chamara Avenida Rainha D. Amélia.
Porque nestas breves palavras não se pode falar de tudo e de todos, detenhamo-nos um pouco sobre estes dois notáveis chefes do movimento republicano.
Miguel Bombarda foi um eminentíssimo médico psiquiatra, professor e ensaísta de renome internacional. Os seus ideais humanistas levaram-no a fundar, em 1906, a Junta Liberal. Impulsionada pelo ardor combativo do Professor Bombarda, esta Junta haveria de se destacar na luta contra a ditadura de João Franco e contra o clericalismo, particularmente contra o jesuitismo. Miguel Bombarda foi igualmente membro proeminente da Maçonaria. No entanto, a sua actividade política só se tornaria verdadeiramente empenhada e comprometida quando aderiu, em 1909, ao Partido Republicano.
O almirante Carlos Cândido dos Reis, a mais alta patente militar comprometida no movimento revolucionário, foi um membro activo da Carbonária e um dos mais empenhados conspiradores republicanos. Na madrugada de 4 de Outubro foi incorrectamente informado por um subordinado, que dava por perdida a batalha em terra. Tendo concluído que a revolução falhara, o almirante suicidou-se. Morreu ingloriamente.
Também Miguel Bombarda teve uma morte trágica, nas vésperas da revolução. Na manhã de 3 de Outubro foi procurado por um antigo doente, Aparício Rebelo dos Santos, oficial do Exército, que sobre ele disparou vários tiros de pistola. Atingido no ventre, foi levado para o Hospital de S. José, onde seria operado pelo prestigiado cirurgião Francisco Gentil, seu colega e amigo. Ao fim da tarde, porém, o seu estado piorou. À mesma hora que a revolução republicana estava na rua ia Miguel Bombarda a enterrar. Herói da República, mártir da ciência.
Nas ruas, a República foi aclamada porque prometia muito. Alguns dias depois da Revolução, um jornal noticiava: «Isto está bom! O feijão já desceu um vintém!» Infelizmente, porém, o caminho não era tão fácil, num país pobre, endividado e quase analfabeto.
No plano ideológico, a República trazia consigo a revalorização dos ideais democráticos, defendendo que o homem só se tornaria verdadeiramente livre quando quebrasse os grilhões da ignorância e da superstição. A herança da Revolução Liberal Francesa encontrava-se ainda no cerne do republicanismo, com a sua trilogia «liberté, egalité, fraternité». Lembremos, no entanto, que, apesar das sucessivas revoluções ocorridas um pouco por toda a Europa durante o século XIX, em 1910 apenas existiam duas repúblicas: na França e na Suíça. Portugal era a terceira.
Para além da consolidação do novo regime e da criação de um clima de pacificação nacional e de ordem pública, o governo provisório e os governos que se lhe seguiram procuraram dar cumprimento a algumas das promessas do Partido Republicano. Foram convocadas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou a Constituição de 1911. Procedeu-se à publicação de alguma legislação extremamente corajosa mas polémica, com vista à laicização do Estado, como a Lei de Separação da Igreja do Estado, o estabelecimento do registo civil obrigatório e a legalização do divórcio. No entanto, se a laicização do Estado, em si mesma, constituía um passo positivo no caminho da modernização da sociedade portuguesa, os excessos anticlericais e o desrespeito pelas tradições e convicções da maioria da população, profundamente católica, geraram um perigoso e escusado clima anti-republicano. O objectivo anunciado por Afonso Costa, de erradicar o catolicismo do País em duas gerações, apenas serviria para criar uma questão religiosa. Na exposição que hoje mesmo iremos inaugurar podemos ver duas cartas de D. Manuel Vieira de Matos, Bispo da Guarda, dirigidas ao Presidente da República Manuel da Arriaga. Escritas em 1911, numa linguagem serena e inteligente, denunciam desde cedo o clima de intolerância que o anticlericalismo jacobino estava a semear por todo o País e que apenas se atenuaria a partir dos anos da Grande Guerra.
No plano social, os governos republicanos procuraram também satisfazer muitas das reivindicações mais prementes, através da autorização e regulamentação da greve, da instituição do descanso semanal obrigatório e da limitação dos horários de trabalho; mas deixaram vastas camadas sociais descontentes, sobretudo o operariado. Sucederam-se as greves, muitas vezes reprimidas com bastante violência, o que criaria condições favoráveis ao crescimento do anarco-sindicalismo e do comunismo.
Foi, porém, no domínio da educação que a acção dos primeiros governos republicanos se revelou mais eficaz e duradoura. No dealbar do século, a taxa de analfabetismo, em Portugal, andava pelos 78%, fazendo do País um dos mais atrasados culturalmente. A República decretou a instrução obrigatória e gratuita para todas as crianças entre os 7 e os 12 anos, tendo também procedido à reforma do ensino superior, nomeadamente através da fundação do Instituto Superior Técnico e de duas novas universidades, em Lisboa e no Porto. Os governos republicanos colocaram igualmente entre as suas prioridades as questões da saúde pública, procedendo a uma profunda reforma do ensino médico.
Em síntese: o que hoje celebramos não é apenas uma mudança de regime, é também o começo de uma mudança de mentalidade. Não existem revoluções perfeitas nem regimes perfeitos. E, se a República trouxe consigo excessos e retrocessos, trouxe também indiscutíveis avanços para a modernização de Portugal.
A eclosão da I Guerra Mundial, em 1914, e a intervenção de Portugal no conflito, em 1916, travaram esse processo evolutivo. A participação na Grande Guerra foi um processo suicidário. Se o País se tivesse mantido afastado dos campos de batalha europeus, tudo poderia ter sido bem diferente. Mas a história contrafactual não é senão isso: imaginarmos aquilo que poderia ter acontecido mas que não aconteceu. Em história não há ses. E a verdade é que a Guerra contribuiu pesadamente para acentuar o desequilíbrio financeiro e os desentendimentos políticos, abrindo as portas ao messianismo de Sidónio Pais, essa espécie de “ensaio geral” da Ditadura Militar de 1926 e do Estado Novo salazarista.
Para além da instabilidade política e da incapacidade dos sucessivos governos de equilibrar as contas do Estado, que outras razões ajudam a explicar a queda da I República? A frustração das esperanças do operariado e das classes médias; a militância anti-republicana dos saudosos da Monarquia; o descontentamento da Igreja Católica, provocado pelos excessos do jacobinismo anticlerical; a instalação de um persistente clima de violência urbana, de que a tenebrosa “noite sangrenta” foi o clímax. Foi a conjugação de todos esses factores que acabou por lançar o País nos braços dos militares, em 28 de Maio de 1926. Chegava deste modo ao fim a I República, nascida faz precisamente hoje cem anos.
Pouco depois, em Dezembro de 1928, escrevia Fernando Pessoa:
«Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer.
[…]
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro.»
Também hoje o País parece mergulhado numa cerrada neblina. Saiamos do nevoeiro, sem esperar por D. Sebastião. E o melhor caminho para sair é o da Escola e dos centros de investigação científica. Sabiam-no todos os grandes republicanos. E sabia-o também o poeta João de Deus, que dizia que todas as revoluções, para triunfarem, deveriam começar pelo a, e, i, o, u. Era esse, do mesmo modo, o lema de um notável republicano sabugalense, o Doutor António Augusto Louro, que foi autarca, homem de ciência e pedagogo: ele acreditava também devotadamente nas potencialidades da educação e da cultura como forma de libertação do Homem. Termino com as suas palavras:
«Não há democracia sem liberdade. Não há liberdade sem educação.»
Adérito Tavares»
O Capeia Arraiana destaca o enorme trabalho dos profissionais da Câmara Municipal do Sabugal e da empresa municipal Sabugal+ que tornaram possível celebrar o Centenário da República com muita dignidade e valor histórico. Ao ilustre professor e historiador Adérito Tavares aqui deixamos um grande bem-haja pelo «brilho» da exposição e o «peso» do programa das comemorações.
jcl
5 de Outubro de 1910. 5 de Outubro de 2010. Os 100 anos da República foram assinalados com pompa e circunstância no concelho do Sabugal. A Comissão do Centenário, presidida por Adérito Tavares, preparou com muita dignidade – e qualidade – um programa comemorativo que destaca os valores republicanos da educação, liberdade, igualdade e justiça para todos.
GALERIA DE IMAGENS – COMEMORAÇÕES DA REPÚBLICA – 5-10-2010 |
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«O Governo Republicano é legitimado pela prossecução do interesse geral. Nele aflora também ideologia positivista que propugna o governo científico e aponta como inevitável o advento do Estado Positivo, em substituição dos Estados anteriores, Teólogo e Metafísico», Joaquim Manuel Correia.
Ler MaisAs comemorações do Centenário da República no concelho do Sabugal têm vindo a ser preparadas pela Comissão Municipal e incluem um conjunto de actividades que se prolongam por todo o mês de Outubro. A sessão solene, no dia 5, inclui uma oração de sapiência pelo professor Adérito Tavares, a inauguração de uma exposição alusiva à República, a plantação da Árvore do Centenário e a apresentação da serigrafia de Manuel Morgado.
O historiador Jorge Martins publicou em tempos de comemorações centenárias mais um livro intitulado «A República e os Judeus». O autor recorda no jornal «Público» que com a República «os judeus tinham vida pública e não se escondiam na sinagoga como seres exóticos e marginais».
Ler MaisA freguesia da Miuzela, do concelho de Almeida, vai comemorar o centenário da Implantação da República e o bi-centenário das Invasões Francesas, tendo já delineado um programa comemorativo que inclui diversas iniciativas de interesse.
A acção partiu da Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto, sedeada na freguesia, e vai em grande parte desenrolar-se no próximo fim-de-semana.
No sábado, dia 7 de Agosto, a Associação, de parceria com a Câmara Municipal de Almeida, realiza uma conferência na Biblioteca Municipal, haverá uma sessão evocativa da República e das Invasões Francesas. Aí se homenagearão algumas almeidenses que se distinguiram na luta pela República, sendo conferencistas Augusto Monteiro Valente e António Sousa Júnior.
No domingo, 8 de Agosto, haverá uma conferência a cargo do professor universitário Amadeu Carvalho Homem, especialista em história contemporânea, que abordará o tema: «As Invasões Francesas e o Republicanismo». A intervenção deste professor da Universidade de Coimbra está prevista para as 15 horas, seguindo-se a entrega de prémios aos vencedores de um concurso de trabalhos sobre as temáticas evocadas, a que concorreram os alunos da escola básica da Miuzela.
A população da Miuzela, tal como a de outras terras da região, sofreu grandemente com as Invasões Francesas, sobretudo com a terceira invasão, que se iniciou em 23 de Julho de 1810. Os soldados franceses, assolados pela fome, prestaram-se a actos de extrema violência sobre as populações, quer para lhes confiscarem alimentos, quer para se vingarem quando nada encontravam capaz de lhes servir.
plb
Os republicanos mais convictos consideravam o clero o maior inimigo da República. A Afonso Costa, talvez o mais convicto de todos, atribui-se esta frase, dita na Sede do Grémio Literário em Lisboa (maçonaria), a 21 de Março de 1911: «O povo está admiravelmente preparado para receber essa lei (Lei da Separação entre a Igreja e o Estado), e a acção da medida será tão salutar que em duas gerações Portugal terá eliminado completamente o catolicismo que foi a maior causa da desgraçada situação em que caiu.»
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