O escritor José Saramago lançou em Castelo Rodrigo a ideia da criação duma rota que una as aldeias históricas da Beira Interior, tendo por base o suposto percurso de Salomão, elefante que o rei D. João III ofereceu ao arquiduque da Áustria.
O escritor do livro «A Viagem do Elefante» disse à agência Lusa que prefere «não fazer acreditar as pessoas que o elefante passou por aqui ou por ali», bastando-lhe no seu entender «dizer-lhes que podia ter passado». Depois de lançar o repto Saramago partiu com os «amigos de Salomão» para Valladolid, cidade onde no século XVI o elefante se encontrou com o seu novo dono que dali o acompanhou até Viena.
Numa evocação da rota que a comitiva terá seguido (o livro não fala no nome das terras), a Fundação José Saramago seguiu até à fronteira, aceitando uma proposta que lhe foi feita por António Edmundo, presidente da Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo. «Em Dezembro de 2008, lançámos o repto a Saramago de refazer o percurso do elefante Salomão, e em boa hora a fundação preparou essa viagem entre o Tejo e o Douro, a um Portugal onde a água já não tem sal e deve ser bebida", disse à Lusa o autarca.
Sortelha e Sabugal também fizeram parte do percurso. O escritor parou em Sortelha para almoçar, falar com as pessoas e tirar algumas fotografias. Depois de lamentar não poder ficar mais tempo para rever a aldeia histórica, onde não voltava desde 1979, na altura em que preparava o livro «Viagem a Portugal», o escritor e a sua comitiva seguiram para o Sabugal, onde passaram sem parar.
Os proprietários da «Casa do Castelo» e do bar «O Bardo», haviam convidado de véspera o escritor a fazer uma paragem no Sabugal e a visitar o castelo das cinco quinas, mas a missiva não teve resposta. «A verdade é que enviámos o convite à última hora, na véspera da passagem do escritor, pois só nessa data nos percebemos que a viagem estava programada», disse-nos Natália Bispo, proprietária da Casa do Castelo, que acaba por compreender a fugaz passagem da comitiva, sem que ninguém dela se apercebesse.
Face à proposta feita por Saramago da criação de um itinerário do elefante Salomão para divulgação das aldeias históricas, o autarca de Figueira de Castelo Rodrigo, mostrou querer aceitar e liderar a ideia: «Estamos motivados, juntamente com a Fundação, para estabelecer no território um roteiro transversal de Lisboa à fronteira e mesmo a Valladolid, numa potencial rota de cultura e de saber que pode e deve ser fruída por outros», afirmou.
Sobre a região, o Nobel português salientou à Lusa a importância das relações transfronteiriças, notando que os povos raianos «se estão nas tintas para as supostas questões que opõem um país a outro país». «De um lado e de outro eles comunicam-se entendem-se e casam-se uns com os outros», concluiu.
plb