O Dr. Manso num interessante artigo sobre as autárquicas 2009, no Cinco Quinas, alude ao Pato-coelho de Wittgenstein e à Ilusão de Müller-Leyr, e cita Hobbes e González Calero, para elaborar a premissa de que a verdade depende da perspectiva de cada um e por conseguinte, «cada um vê o que quer ou o que consegue».

João ValenteÉ pertinente esta observação do Dr. Manso. De facto quem está na oposição tende a criticar o executivo camarário. Quem depende dos empregos oferecidos pela câmara, defende as políticas desta.
A vida é mesmo assim… Todos querem mamar! Quem tem a mama, segura-a com todos os dentes; quem não a tem, berra porque também quer mamar!
A verdade, «depende do que cada um quer ver e consegue», pois depende: Cada um vê conforme sente a barriga; cheia ou colada às costas.
Era também com os olhos da barriga que João da Mata, personagem do Normalista de Adolfo Caminha, dizia que da política só queria Dinheiro e, não lhe falassem em política sem interesse pessoal:
«… O que se quer é dinheiro, o santo dinheirinho, a mamata. Qual pátria, qual nada! Patacoadas! Ele, João, trabalhava, lá isso era inegável: dava o seu voto, cabalava, servia de testa de ferro, mas… tivessem paciência… era mão p’ra lá, mão p’ra cá. Porque – argumentava – a política é uma especulação torpe como qualquer outra, como a de comprar e vender couros de bode na praia, a mesmíssima cousa; pois não é? P’ra tudo é preciso jeito, muito jeitinho…»
Quanto a política, estamos conversados. Quem quiser mamar, come e cala. Uma mão lava a outra.
«A Porca da Política» de Rafael Bordalo PinheiroAcrescenta ainda o Dr. Manso que «não basta pregar boas ideias de combate à desertificação. São necessárias práticas que materializem essas ideias, participação activa na vida cultural, social, económica e política, participação no associativismo, empenho na dinamização das actividades, etc. Não se combate a desertificação pregando no Sabugal os caminhos para o desenvolvimento… Há muita gente que só se lembra do Sabugal de 4 em 4 anos. Há muita gente que aqui nasceu, que aqui trabalha mas que não se fixa no concelho. Há muita gente que daqui não é natural, que aqui trabalha mas não fixa aqui a sua residência.»
A falta de emprego e de mama levou a que muita gente valida e competente emigrasse. A desertificação que assola essa terra é precisamente isto: Deserto de gente, de ideias e de competência.
É muito fácil exigir participação activa na vida cultural, social, económica e política, participação no associativismo, empenho na dinamização das actividades, a quem vive fora e não teve a mesma sorte do Dr. Manso em arranjar um emprego na terra natal. Há muita gente que não fixa residência porque não tem emprego nem qualidade de vida no Sabugal.
Que venham de Lisboa, do Porto, do Litoral, do estrangeiro participar… Deixem os empregos para viver do ar… comerem bolotas… É o que exige o Dr. Manso no conforto do seu emprego na empresa municipal «Sabugal+».
Já percebemos que para o Dr. Manso a política para os que não mamam é dar o voto, calado, e que passe muito bem até daqui a 4 anos!
E isto, meus senhores, porque o Dr. Manso possivelmente seja dos que falam de barriga cheia…
«Arroz com Todos», opinião de João Valente

joaovalenteadvogado@gmail.com