:: :: 17 JANEIRO 2016 :: :: O Capeia Arraiana publica diariamente as efemérides mais relevantes de cada data… Hoje destacamos a morte do escritor Miguel Torga, em 1995.

:: :: EFEMÉRIDES 2015 :: 10 DE JANEIRO :: :: O Capeia Arraiana publica diariamente as efemérides mais relevantes de cada data… Importa recordar alguns eventos marcantes. Fazemos alusão a efemérides regionais, nacionais e internacionais e destacamos os acontecimentos históricos que merecem uma atenção especial.
Em S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa e distrito de Vila Real, nasceu, em 1907, Adolfo Correia da Rocha, que para as letras ficou conhecido como Miguel Torga. Médico de profissão, com consultório em Coimbra, e viajante inveterado pelas terras de Portugal e de todo o mundo, sem nunca perder a ligação às origens.
Adorava a caça, muitas vezes nos montes da sua região, saboreando o contacto com a terra e o povo que ali vivia.
Na escrita foi poeta, romancista, memorialista e contista de alta estripe, sendo unanimemente considerado como expoente das letras pátrias. Toda a sua vasta obra literária é um tributo ao amor e à amizade entre os homens.
Parte dos seus livros (na poesia e na prosa) são a afirmação de um homem rural, que recusa a fatalidade da vida citadina, impondo-se como filho do campo que não mais aceita desligar-se das origens. Nas suas obras estão presentes as serras e as fragas transmontanas, os pais, o professor e os colegas de escola e a demais gente da aldeia. As terras transmontanas e o valeroso povo que as habita são, afinal, os grandes amores da sua vida, a eles dedicando o melhor da sua escrita.
O livro «Contos da Montanha» é o melhor exemplo do amor filial às terras de nascença. É uma colecção de retratos da vida do seu povo, as suas paixões, os dramas, as rivalidades e as lutas de um povo arreigado, bravo, mas também humilde, que luta pela vida em cada momento. São quadros vivos do pitoresco das vivências aldeãs, deles se retirando o essencial das formas de viver e de sentir populares. Realce aqui para o conto «Inimigas», onde se esboça a vida de duas jovens mulheres que o tempo tornou desavindas. Há referência a uma feira ou arraial, onde a populaça se juntava em peregrinação e para feirar e onde se degustavam os melhores sabores:
«Coisa rica! Pipas e pipas de vinho debaixo da carvalhada, e do melhor, que parece que todos capricham nisso, tascas de fritos, mesas de cavacas e de refrescos, medas de regueifas, carros de melancias, um louvar a Deus. Fartura de tudo para quem tiver conques. De maneira que quem diz: vou ao arraial da Senhora da Fraga, e vai, já se sabe que não arranca de lá antes do alvorecer.»
Mas todos os demais contos compilados na obra são peças essenciais para compreender o espírito do povo transmontano, e, bem assim, a sua forma de vida. Retratam tempos que passaram, mas a índole das gentes, essa resta perene, como perenes são os penedos que povoam as serras que envolvem as aldeias.
«Sabores Literários», crónica de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
Em Portugal, o dia da «raça» era a 10 de Junho, dia de Camões, enquanto em Espanha era a 12 de Outubro, dia em que Colombo descobriu a América. Isto resume a diferença de identidade entre os dois países. Têm histórias paralelas (reconquista e descobrimentos), mas nunca concordantes. Como escreveu Eugénio Pontes «Portugal e Espanha são noções paralelas e as paralelas só se encontram no infinito».
Uma coisa é a cooperação transfronteiriça, outra a integração cultural, ou política, que são impossíveis, quando a própria Espanha, maugrado o poder centrípeto de Castela, não conseguiu sequer extinguir o carácter das nacionalidades Galega, Catalã e Basca. A nação Espanhola nem sequer existe!
Como dizia Mendez Pelayo, «um povo novo pode improvisar tudo, até a cultura intelectual. Um povo velho não pode renunciar à sua sem extinguir a parte mais nobre da sua vida e cair numa segunda infância muito próxima da imbecilidade senil».
Neste sentido era mais fácil a Galiza integrar-se em Portugal com o qual tem afinidades culturais, históricas e linguísticas, do que Portugal unir-se com a Espanha.
É certo que o Iberismo de que agora se fala já não é o primário da «Castela Una» de Filipe II, do Conde Duque de Olivares, ou de Franco, mas ainda é o intelectual e romântico de Gasset, Unamuno, Pascoais, Junqueiro e Oliveira Martins, que embora sendo espiritual, ainda vê Castela como referência geográfica da alma da consciência ibérica (leia-se a este propósito, Espanha Invertebrada de Ortega Y Gasset).
É certo que personalidades portuguesas como Antero de Quental, Fernando Pessoa, Ana de Castro Osório, Latino Coelho, Sampaio Bruno, Teófilo Braga, e mais recentemente Miguel Torga, Fernando Lopes-Graça, António Lobo Antunes, Eduardo Lourenço, José Saramago, manifestaram simpatia pela união ibérica. E em Espanha, o filósofo e poeta madrileno OrtegaY Gasset, o filósofo Basco Miguel de Unamuno, o poeta e filósofo catalão Joan Maragall, o lusófilo Ignasi Ribera i Rovira e Francesc Pi i Margall, presidente da Primeira República Espanhola, em 1873 defenderam a união ibérica.
Unamuno, Ribera i Rovira, Maragall e Antero viam essa união a três – Catalunha, Castela e Portugal, esquecendo o País basco e a Galiza.
Fernando Pessoa chegou a delinear uma confederação de nações ibéricas em que a Galiza embora autónoma de Castela se integraria em Portugal; Teófilo Braga planificou as bases de uma Federação Ibérica, dentro da qual a Espanha teria de aceitar ser uma República e dividir-se em estados autónomos aos quais Portugal se juntaria. Lisboa seria a capital dessa Federação Ibérica. Coisa que nem Felipe II, tendo oportunidade histórica, fez.
O sistema político geralmente aceite era o de uma Federação de estados autónomos, com centros de decisão comuns – a política externa, por exemplo.
Na década de sessenta do século passado, o escritor catalão Agustì Calvet i Pasqual, defendia que «poucas vezes a insensatez humana terá estabelecido uma divisão mais falsa» (do que a das fronteiras peninsulares) «nem a geografia, nem a etnografia nem a economia justificam esta brutal mutilação de um território único».
A língua, o saudosismo, a indolência, são características psicossomáticas próprias da alma portuguesa. Falsa seria a união; não a divisão que existe.
Mais recentemente ainda, o escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte, defendeu a existência de uma Ibéria, um país único, porque, na sua opinião, é «um absurdo» que Portugal e Espanha vivam «tão desconhecidos um do outro», devendo a Espanha a absorver Portugal.
Em entrevista concedida ao Diário de Notícias em Julho de 2007, José Saramago defendia a união dos dois países numa Ibéria: «Não vale a pena armar-me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos.»
O Iberismo Espanhol tem a mesma força centrípeta e castradora que Castela vem exercendo desde o século XIII, absorvendo e aniquilando paulatinamente as várias nacionalidades do território Espanhol. Continua expansionista, como no século XVI e XVII e é fruto do romanismo e das tentações de grandeza de vários intelectuais, quer de um lado, quer do outro da fronteira.
Os exemplos da Galiza, da Catalunha e do País Basco são reveladores, porque ainda são nações submetidas e aculturadas, lutando pela afirmação das respectivas autonomias face à hegemonia de Castela.
Tudo aquilo que nós, os Portugueses que amam o seu país, não queremos que nos aconteça.
Este Iberismo é por isso contrário à ideia de Portugal.
Gosto de Espanha. Gosto mais ainda das espanholas; mas nunca me passaria pela cabeça ser espanhol!
Confraternizemos, sejamos bons vizinhos, cooperemos sem preconceito em tudo o que for do interesse comum; mas que cada um com a sua casa.
Arriba Espanha! Portugal sempre!
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
No dia 6 e 7 de Dezembro irá decorrer em Sortelha um encontro subordinado ao tema «O Natal e o Inverno em Sortelha, com Miguel Torga». Com este evento pretende-se dar continuidade às propostas apresentadas em Janeiro de 2008, para ser criado na Aldeia Histórica, um centro de divulgação da obra de Miguel Torga.
A acção de reflexão sob o lema «Batalha: Pensar o Turismo Cultural com os escritores» e a sua ligação à vida e obra de Miguel Torga reuniu no dia 15 de Março, na Batalha, mais de uma centena de participantes. A aldeia histórica de Sortelha foi o ponto de partida para esta peregrinação, coordenada por José Cymbron, pelos concelhos eminentemente torguianos propondo o «Turismo Cultural» e o «Dia de Torga».
A aldeia histórica de Sortelha acolhe no sábado, 12 de Janeiro, um colóquio sobre a vida e obra de Miguel Torga com a presença de José Cymbron, José Afonso, Maria Isabel Boura e outros ilustres especialistas.
Adolfo Correia da Rocha nasceu a 12 de Agosto de 1907 em São Martinho de Anta, aldeia transmontana no concelho de Sabrosa.
Em 1928, com 21 anos, inscreveu-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e exerceu a profissão de médico até à sua morte em 17 de Janeiro de 1995. Nesse mesmo dia secou a pena do escritor que desde 1934 utilizava o nome de Miguel Torga.
«São Martinho de Anta é a terra onde nasci e de onde verdadeiramente nunca sai» escreveu um dia o poeta que tem gravado na campa um poema intitulado «A Morte»:
Só no ouvido dos versos,
Onde a seiva não corre,
Uma rima perdura
A dizer com brandura
Que um Poeta não morre.
E é à volta da vida e obra de Miguel Torga que irão falar e discursar mais de vinte especialistas na Aldeia Histórica de Sortelha. O professor universitário José Cymbron, impulsionador do Dia de Miguel Torga a 12 de Agosto e estudioso da sua obra é uma das presenças confirmadas. O especialista não tem dúvidas em afirmar que «Torga é um dos maiores escritores de sempre da língua portuguesa porque durante 60 anos escreveu sobre Portugal com uma visão extremamente actualizada do que é a nacionalidade e a universalidade».
Estão previstas as intervenções de José Conceição Afonso, director regional de Castelo Branco do IPPAR, de Maria Isabel Boura, gestora das Aldeias Históricas e do director da Escola Secundária do Sabugal que estará acompanhado de alunos que irão ler textos do escritor.
«Miguel Torga escreveu sobre Sortelha numa das suas publicações denominadas Agenda, recebeu o Prémio Camões e é digno da nossa homenagem», esclareceu ao Capeia Arraiana, Luís Paulo, presidente da Junta de Freguesia de Sortelha. A iniciativa merece que seja apresentada pela voz do autarca: «A organização deste acontecimento cultural é uma parceria entre a Junta de Freguesia e o professor José Cymbron. Vamos descerrar uma placa alusiva ao acontecimento no Largo do Pelourinho e lançar a Rota Cultural de Miguel Torga de Sortelha até Espanha passando pelos Fóios», concluiu com orgulho.
jcl