Trindade Coelho nasceu no Mogadouro, distrito de Bragança, em 1861. Magistrado de profissão, iniciou a sua actividade na vila do Sabugal enquanto Delegado do Procurador Régio, em 1886.

O livro de Trindade CoelhoFoi na vila raiana do Sabugal que o jovem magistrado Trindade Coelho recebeu correspondência do consagrado escritor Camilo Castelo Branco, que via nele um promissor homem de letras, dizendo-lhe que intercedera por si junto do Ministro da Justiça, para que lhe arranjasse colocação numa cidade capital de distrito. Não tardou assim que Trindade Coelho saísse do Sabugal, rumando a Portalegre, onde passou a exercer funções.
Para além de excelente jurista, Trindade Coelho foi mestre na arte de narrar. Seguindo as apertadas regras que ao contista são exigidas, deixou-nos autênticas obras-primas, as mais significativas reunidas no excelente volume «Os Meus Amores», que são uma referência da literatura portuguesa.
Os seus contos, de grande esplendor estilístico e apurado rigor narrativo, inspiram-se nas vivências populares que ele, filho do povo, tão bem conhecia. Alguns deles, mais do que contos, são poemas, ou, diríamos mesmo, odes. Odes à harmonia da Natureza e à sublimidade do amor. Poucos escritos tem a nossa literatura que emparceirem com Trindade Coelho na profundidade emocional. Descreve o amor sincero entre as pessoas, numa simbiose perfeita entre o seu afecto mútuo e o quadro natural que as envolve. Aborda os diversos quadros da vida colectiva, em que o povo simples e agreste aparece numa onda de humildade e de abnegação, que comovem.
No que se refere a quadros etnográficos, o maior registo está no conto «À Lareira», que descreve um antigo serão na aldeia. Com as cores vivas de uma espátula, Trindade Coelho pinta em tela o convívio de tempos idos, quando escasseavam as formas de passar o tempo. As mulheres fazem meia ou, munidas da roca, fiam o linho. Já os homens dedicam-se à bisca, enquanto que os mais novos se vão entretendo com jogos infantis ou ouvindo as conversas dos adultos. Dirigidas às crianças soltam-se catadupas de adivinhas, cabendo-lhes encontrar a solução. Também para elas vão os contos e as fábulas antigas, herdadas de tempos distantes, passadas de geração em geração, ali à roda da lareira, nos vetustos serões da província.
plb