Pierre Lagarde, o intendente geral da polícia de Junot, não chega a Portugal com o exército invasor, mas apenas passados quatro meses, em 25 de Março de 1808, cumprindo ordens expressas de Napoleão para se apresentar em Lisboa ao general comandante em chefe.
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Instalado em Lisboa, colocadas guarnições junto à costa para vigilância da esquadra inglesa e salvaguarda de um desembarque, Junot voltou-se depois para o resto do território, mandando ocupar Almeida e encarregando do governo da praça o odioso general Guypuy.
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Chegado a Lisboa, Junot manteve em funções o conselho de governo nomeado pelo príncipe regente antes de embarcar para o Brasil, apenas designando Hermann para seu comissário junto do mesmo. Porém, passados dois meses, depôs a regência e designou um governo usurpador francês.
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A regência portuguesa preparara para o comandante da força de ocupação o palácio da Bemposta, que chegou a ser mobilado, mas Junot prefere instalar-se no vistoso palácio do barão de Quintela, João Pereira Caldas, que o recebe com esplendor. Os oficiais espalham-se por outras casas senhoriais.
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A força imparável de Napoleão, imperador francês e senhor da Europa, que envia a Portugal tropas invasoras, leva a que a corte portuguesa se refugie no Brasil, para evitar ajoelhar-se. Só a Inglaterra, que resistia, ajuda Portugal nesse momento dramático, fazendo jus à velha aliança. Uma frota inglesa protegeria o príncipe regente na sua saída do Tejo e escoltá-lo-ia até ao outro lado do Atlântico.
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Em Abrantes, onde chega a 24 de Novembro, Junot obtém a informação de que o príncipe regente pretende embarcar para o Brasil. D. João e quase toda a corte portuguesa fugia assustado da horda esfarrapada e faminta, sem forças para sequer enfrentar um grupo de bandoleiros que lhes saísse ao caminho.
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Acelerando o passo, deixando para trás a artilharia e o demais material pesado, a vanguarda do exército de Junot passa Ciudad Rodrigo e embrenha-se nas serranias para atingir Alcântara, última escala antes de dar entrada em Portugal.
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Antes de se meter a caminho de Portugal Junot instala o seu quartel-general em Bayonne, no sul de França, e aí reúne o Exército de Observação da Gironda, cujo comando o imperador lhe confiou.
A força militar compôs-se à imagem de um corpo de exército, com três divisões de infantaria, uma de cavalaria, outra de artilharia e algumas companhias de engenharia, sapadores e operários, a que se juntavam os carros com bocas de fogo, barris de pólvora e trens de equipagem.
Instalado no comando, Junot aguarda que se lhe reúnam os destacamentos, o imenso material necessário para a campanha e os oficiais superiores que o imperador lhe dispusera.
Não há somente soldados franceses. Há mercenários suíços (dois batalhões), desertores alemães (um batalhão), e também alguns italianos. São porém escassos os soldados experientes na guerra. A maior parte é tropa de linha e há muitos soldados recém-incorporados. Os poucos veteranos estão na 1.ª divisão, comandada por Delaborde, que de resto virá a ser a tropa que resistirá melhor à marcha.
Ainda em Bayonne, todas as noites desertam dezenas de soldados dos vários acampamentos. Nem os aboletamentos compulsivos, que recaem sobre as famílias dos desertores, evitam as sucessivas fugas. Preocupado, Junot implora ao Imperador que mande castigar severamente os trânsfugas: «creio indispensável mandar fuzilar nesta região alguns desertores, a fim de reter os outros».
O exército reúne a custo. Falta fardamento, sobretudo botas e capotes, e o dinheiro não chega para gratificar a tropa antes de sair em campanha, como é uso no exército francês.
Ainda que mal equipadas as colunas colocam-se em movimento sob uma chuva intensa e um frio cortante, que os acompanhará em todo o percurso.
As ordens são claras e o percurso está estabelecido: Junot atravessará Espanha passando por Vitória, Burgos, Valhadolid, Salamanca, Ciudad Rodrigo, de onde avançará para Portugal e marchará sobre Lisboa.
A invasão de Portugal terá o apoio dos espanhóis, tendo em conta o interesse comum. Uma divisão juntar-se-á a Junot junto à fronteira. Outra divisão ocupará o Porto e uma terceira invadirá o Alentejo.
Poucas semanas antes, em 27 de Outubro de 1807, França e Espanha haviam assinado em segredo o Tratado de Fonteinebleau, pelo qual dividiram o reino de Portugal. O acordo estabelecia o direito da tropa francesa transitar em solo espanhol e balizava os termos do envolvimento militar de Espanha na invasão.
Junot, antes de partir de Bayonne, e já com parte do exército a marchar em solo espanhol, escreve ao imperador garantindo-lhe que cumprirá com rigor as determinações. Avançaria a marchas forçadas até à fronteira portuguesa e aí aguardaria a reunião de todo o exército para avançar em força para Lisboa. «Todo o meu exército estará reunido no dia 26 e, supondo que só a 1 de Dezembro ele entrará em Portugal, espero estar em Lisboa a 10».
Já em Vitória, no País Basco espanhol, o general pára por uma noite e reajusta os planos. Como a ordem do Imperador é para atingir Lisboa quanto antes, decide que marchará para Alcântara, local por onde entrará em Portugal, tomando o caminho mais curto e evitando a via da Beira e a praça-forte de Almeida. A linha de orientação é o rio Tejo, cuja margem direita quer seguir até Abrantes, local onde passará para a margem esquerda e seguirá pelas planuras ou usará mesmo o rio para o transporte das tropas. Se o exército português colocar alguma oposição à invasão, os planos estão traçados: «posso mantê-lo em respeito com uma pequena parte das minhas tropas e alguns espanhóis sob o comando de um oficial inteligente enquanto eu marcho com o resto do exército contra o exército português para lhe dar combate e tomar Lisboa, que é o objectivo principal da operação», escreve a Napoleão.
Os franceses sabiam que havia um plano secreto, gizado entre Portugal e Inglaterra, para a fuga da corte portuguesa para o Brasil em caso de invasão, e Junot prefere primeiramente que esse plano se concretize, por ver assim facilitada a sua acção. Seria pouco provável que o exército português se movimentasse e o general livrar-se-ia do embaraço que seria tomar conta do príncipe regente português.
Napoleão, que também estava em campanha, acompanhava as notícias da marcha sobre Lisboa, recebendo vários informes. Junot escrevia-lhe a dar conta de tudo, mas o imperador recebia relatórios paralelos de outros militares, à margem do conhecimento do general em chefe. A certo momento, Napoleão enviou uma missiva a Junot dando-lhe ordens firmes para acelerar a marcha de modo a estar em Alcântara no dia 20 de Novembro e entrar imediatamente em Portugal, sem perdas de tempo, porque a 1 de Dezembro quer Lisboa tomada. Junot assegura-lhe que cumprirá as ordens, mau grado a chuva intensa, a lama e as torrentes que não o deixam por um instante.
«As invasões francesas de Portugal», por Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
É Novembro de 1807 e o céu parece desabar sobre a terra. Sob chuva intensa, tocada a vento frio e cortante, uma horda de franceses avança a marchas forçadas pelos caminhos e veredas da enorme cadeia de montanhas que se espalham de Ciudad Rodrigo a Alcântara.
A tropa napoleónica entrou em Espanha e atingiu a cidade de Vitória, onde tomou o caminho de Burgos, Valhadolid e Salamanca. O plano da marcha manda avançar até Alcântara para dali entrar em Portugal.
O Exército de Observação da Gironda é composto por 26 mil homens e executa as ordens de Sua Majestade, o Imperador dos Franceses, Rei de Itália e Protector da Confederação do Reno, numa palavra Napoleão, o senhor da Europa Continental.
O general em chefe deste exército que macha veloz é Jean-Andoche Junot, Governador de Paris e Primeiro Ajudante de Campo de Sua Majestade o Imperador e Rei – feroz e corajoso combatente, a quem chamavam «A Tempestade». Merecera as graças do Imperador, que dele fizera embaixador de França em Lisboa e seguidamente tornara responsável pelo recrutamento e instrução militar em Paris. O conhecimento que tinha sobre Portugal pesou na escolha deste cabo-de-guerra para o comando da marcha até Lisboa onde garantiria o bloqueio continental decretado por Napoleão aos navios de e para Inglaterra.
A vaga é composta por três divisões de infantaria, comandadas por outros tantos generais de divisão: Delabord, Loison e Travot. Segue ainda uma divisão de cavalaria, sob o comando do general Kellerman. A artilharia roda igualmente, puxada por machos e bois, dada a falta de cavalos de tiro, e tendo por chefe o general Traviel.
É este o aparatoso exército, que saiu de França e que agora rompe pelas montanhas, espicaçado pelo chefe de estado-maior de Junot, o general Thiébaut, que a todo o custo quer garantir o cumprimento da cronologia da marcha.
Mas a chuva tudo retarda. As ribeiras crescem repentinamente e a lama invade os caminhos. As botas rompem-se e não há pares suficientes para a sua substituição. Cada soldado saíra do campo militar de Bayonne com dois pares de botas na mochila, mas a dureza da marcha faz com que muitos já caminhem descalços, sob o dilúvio, com as fardas encharcadas, pesando como chumbo. Ao cansaço junta-se a fome, a diarreia e o tifo, que derrubam os soldados a cada passo.
Entrados em Portugal, a ordem dos oficiais torna-se mais enérgica, impondo o avanço rápido, sempre em frente, sem parar. Neste ímpeto, cresce o perigo de sucumbir e ficar para trás. Não há camarada que quede para ajudar outro que cai de exaustão ou de fome. Desse se encarregará o campónio, que de navalha em punho o aliviará do pesadelo da existência.
Para os povos por onde o exército passa, o esfaqueamento de um francês caído sem forças ao redor de um caminho é a vingança pelos confiscos e pilhagens. A passagem da horda representa para os aldeões a chegada de uma calamidade.
O exército é composto por dezenas de milhares de bocas esfaimadas que querem ser alimentadas a todo o custo. Não há trem de mantimentos e a tropa fandanga socorre-se ao que encontra no caminho. O transporte das bocas de fogo, da pólvora e das equipagens não deixou espaço para as provisões alimentícias. Os poucos caixões de biscoito há muito que ficaram encalhados nos caminhos.
Por norma os oficiais do exército imperial aboletam-se em solares e palácios e a soldadesca ocupa os conventos e mosteiros que lhe ficam no caminho. Mas no geral dos locais de paragem em Portugal, não há habitações e nem sequer pardieiros, restando aos soldados tomar por cama o chão lamacento, onde nem sequer conseguem acender uma fogueira para lhes aquecer o corpo e secar os capotes.
Não é um exército, mas um formigueiro que avançava pelo carreiro, sujeito à chuva torrencial e ao sopro rijo do vento.
Os camponeses, que tinham guardado as colheitas como provisões para o Inverno, vêem as casas e os celeiros invadidos e rapinados. De nada vale implorar dó e clemência. Tudo acaba vasculhado e roubado, ficando as aldeias reduzidas a nada.
E as vagas não param, todos os dias chegam novas colunas, que passam e rapinam. A disciplina quebrou-se, a formatura está desfeita, a tropa segue em bandos desalinhados. Muitos dos retardatários correm as aldeias em busca de provisões e da satisfação de outras necessidades.
Onde há oficiais diligentes, a ordem é andar sem parar, mas no mais o exército rouba o pão da boca dos camponeses. As casas e as tulhas são reviradas e os animais são mortos, esfolados e esfandegados.
Quando não há aldeias para saquear ou quando a depredação alimentícia não é suficiente para suprir as bocas famintas, os soldados procuram sustentar-se com o que apanham no caminho. Mas é Novembro, e tirante alguma noz ou castanha que escapou ao rebusco dos pobres, nada há no campo. Vale a bolota dos carrascos. Saltando do caminho o soldado abaixa-se e enche os bolsos. Voltando à coluna, retoma a marcha e vai roendo a lande, que o alimenta nas jornadas.
Lá adiante, corre sem parar Junot, sempre acompanhado pelo fiel Delabord e a sua experiente 1ª divisão, deixando para trás um enorme rasto de soldados dispersos e perdidos.
«As invasões francesas de Portugal», por Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
A pedra de toque, categoricamente definidora do tónus patriótico – nós diriamos mesmo nacionalista, se ao termo se não tivessem atribuído conceitos e colados preconceitos, todos a enegrece-lo – de qualquer governação, é a carga fiscal e a sua repartição.
Ler MaisAs invasões francesas, cujo bicentenário se evoca, deixaram variadas marcas, dentre as quais alguns lugares comuns na nossa linguagem popular, de que são exemplos as conhecidas expressões: «ficar a ver navios», «ir para o maneta» ou «Portugal é Lisboa e o resto é paisagem».
O lugar comum «ficar a ver navios», que se utiliza quando alguém fica desiludido, ou não consegue alcançar aquilo com que contava, teve origem na primeira invasão francesa de Portugal. Foi o general Junot, comandante das tropas invasoras, que viu frustradas as suas expectativas de aprisionar a família real portuguesa, ao ter chegado tardiamente a Lisboa em Novembro de 1807. Restou-lhe observar, do alto de Santa Catarina, os navios da armada que haviam acabado de zarpar do Tejo rumo ao Brasil, para onde foi transferida a corte portuguesa. Junot ficou assim a «ver navios», e a expressão acabou enraizada no léxico popular.
Outro lugar comum muito em voga é «ir para o maneta», expressão usada em sinal de perda irrecuperável. A mesma ficou associada ao mais atroz dos generais de França, de nome Loison, o qual esteve em Portugal nas três invasões. Loison perdera uma mão num acidente e era conhecido entre os portugueses como o general «Maneta», tendo ficado célebre pelas suas acções punitivas sobre a população sublevada. «Ir para o Maneta» era ir parar às mãos, ou melhor, à mão, do fatídico general, assim ficando a expressão no nosso léxico.
Há ainda um terceiro lugar comum que provém do tempo das invasões: «Portugal é Lisboa e o resto é paisagem». A frase é atribuída ao general Foy, o conhecido portador das mensagens de Massena para Napoleão Bonaparte, que passou várias vezes no Sabugal. Massena tinha a maior confiança em Foy, que era um bom conhecedor de Portugal, pelo que contava com os seus conselhos. Instado a pronunciar-se sobre o que seria a terceira campanha do exército francês, Foy não hesitou em dizer-lhe que Portugal era Lisboa e o resto paisagem. A frase foi premonitória, pois a avançada francesa só foi verdadeiramente travada às portas de Lisboa, devido às famosas Linhas de Torres Vedras, pelo que Massena terá compreendido por que razão em Portugal tudo era paisagem á excepção de Lisboa. Aliás Massena não chegou a conhecer as paisagens de Lisboa.
plb
A 26 de Agosto de 1810 deu-se a terrível explosão do castelo medieval de Almeida, desastre que semeou a destruição e a morte em toda a fortaleza e que ditaria a capitulação da guarnição perante as tropas francesas sitiantes.
A praça, defendida por cerca de cinco mil bravos portugueses, comandados pelo governador William Cox, estava debaixo de uma poderosa flagelação. Desde as 5 da manhã que as dezenas de bocas de fogo dos sitiantes disparavam balas para abrir brechas na muralha e bombas com mechas incendiárias para lançar o terror no interior da praça.
Os artilheiros portugueses mantiveram-se firmes na defesa, respondendo com vivacidade e provocando baixas e sérios estragos nas baterias inimigas. Porém, ao cair da noite, uma das bombas incendiárias caiu junto ao castelo de Almeida, que servia de paiol, e o fogo seguiu um rasto de pólvora até fazer deflagrar as 75 toneladas de explosivo que estavam em armazém. Deu-se uma autêntica erupção vulcânica, indo o castelo e as casas da vila pelos ares. Muitos dos canhões e respectivos artilheiros foram projectados para os fossos, 500 pessoas ficaram sepultadas nos escombros das casas e muitos combatentes morreram com o sopro da explosão. Os destroços foram cair nas trincheiras francesas, matando muitos soldados. Para piorar o desastre deflagrou na praça um violento e horrendo incêndio.
O susto deixou surpresos sitiados e sitiantes, que pararam de combater. Mas em breve algumas das peças de canhão portuguesas eclodiram, dando a entender que, mau grado o acidente, a praça não desistia de se defender. Os franceses, responderam então com tiros de obus que duraram toda a noite, perturbando as operações de socorro aos feridos e a recomposição da força defensiva.
Só às 9 horas do dia seguinte houve um cessar-fogo ordenado por Massena, que enviou um representante ao interior da praça com uma carta para o governador, intimando-o a entregar-se à «generosidade do Imperador e Rei». Massena esperou todo o dia por uma resposta de William Cox, mas como esta não chegou decidiu, às 9 da noite, recomeçar a flagelação da praça. Isso provocou a revolta de alguns oficiais portugueses que fizeram ver ao governador a inutilidade da defesa perante o estado lastimoso em que se encontravam. O governador decidiu então capitular, assim caindo Almeida, que na manhã do dia seguinte recebeu as tropas francesas.
O chamado «desastre de Almeida» foi a causa de uma tão rápida queda da fortaleza, que tinha condições para se defender durante várias semanas ou meses. Os franceses viram assim aberto o caminho para a invasão de Portugal, podendo mandar prosseguir as movimentações militares.
O horror da explosão motivou várias descrições por parte de quem testemunhou este tremendo desastre.
O relatório do governador William Cox, é de um realismo extremo: «Tinha-me sentado, quando senti um choque violento, semelhante a um tremor de terra com um estrondoso som; uma coluna de ar entrou pela porta da galeria e logo depois juntou-se muita gente na abóbada, ao pé da porta do meu quarto. Levantei-me e perguntei qual a causa disto, mas era tal o temor geral e a consternação, que não pude obter uma resposta conclusiva. Saí e fui ao castelo trepando pelo montão de ruínas com que as ruas estavam entulhadas e assim que cheguei conheci que todo o edifício, que era uma imensa massa de cantaria, estava demolido. (…) Mandei tocar às armas, fui às muralhas e peguei num molho de bota-fogo e, ajudado por um único oficial de artilharia, fiz fogo com todas as peças que achei carregadas».
Marbot, ajudante de campo de Massena, que estava enfermo em Ciudad Rodrigo, sentiu ali o rebentamento: «Ao cair da noite ouviu-se uma formidável explosão. A terra tremeu. Julguei que a casa ia desmoronar-se. (…) Embora Ciudad Rodrigo fique a meio dia de viagem daquela praça fez-se sentir uma viva comoção.»
Também a duquesa de Abrantes, Laura Junot, mulher do general comandante do 8º corpo do exército napoleónico, que estava com o marido em San Felices, relatou o sucedido: «A minha casa experimentou um violento abalo – será um tremor de terra? exclamei aterrada – parecia-me que a casa desabava. (…) Junot foi o primeiro a correr para uma velha e desbaratada torre situada no cume de uma colina ao sair da povoação. É um espectáculo admirável, gritava ele, voltando quase no mesmo instante!… É mister que tu o vejas. Almeida está em chamas!… Levaram-me à torre e presenciei a uma horrenda maravilha. Era um horizonte todo de fogo, orlando um céu cor de ardósia e lançando às vezes sobre aquela sombria tapeçaria brilhantes girândolas.»
O capitão francês Guingret, que estava na trincheira, deixou também a sua perspectiva: «A explosão foi tão terrível que destruiu toda a cidade e respectiva população no mesmo segundo. Pedras enormes, rochedos, foram lançados até às nossas trincheiras onde mais de vinte soldados morreram esmagados pela sua queda; peças de grande calibre foram sugadas da cidadela e lançadas a mais de duzentas toesas, partidas em vários pedaços. Todos os que guarneciam as muralhas foram mortos pelos estilhaços, ou levados com as pedras.»
Cumprem-se hoje 200 anos sobre o «desastre de Almeida».
Paulo Leitão Batista