Estivemos à fala com José Luís Tomé, presidente da Mesa da Assembleia Geral da Casa do Concelho do Sabugal. O ilustre sabugalense, natural da freguesia de Vila Boa, é o actual director da Biblioteca da Assembleia da República.
«Somos oito irmãos, filhos de Francisco Sanches e de Maria Luísa Martins Tomé. Eu fui o quinto a nascer. Dois vivem em Vila Boa e seis estão em Lisboa», começou por nos dizer José Luís Tomé.
«Fui para o Seminário dos Franciscanos, em Leiria e Braga, dos 10 aos 16 anos, até ao 6.º ano. Vim, depois para Lisboa em 1971 onde conclui o 7.º ano no Liceu D. Dinis. Licenciei-me em Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa e em 1990 frequentei uma pós-graduação em Ciências Documentais na Universidade de Coimbra», esclarece o presidente da Mesa da Assembleia Geral da Casa do Concelho do Sabugal.
Entrou para a tropa no dia 23 de Abril de 1974. Tirou a recruta na Escola Prática de Infantaria de Mafra e ficou com a especialidade de artilharia. Na noite de 24 os militares operacionais vieram para Lisboa e os recém-recrutas ficaram sozinhos no quartel. Foi, depois, colocado em Torres Novas (GACA-2), como oficial miliciano, onde esteve cerca de oito meses como oficial da Polícia Judiciária Militar. Deu instrução nas Caldas da Rainha e foi colocado no Terreiro do Paço nos serviços do Exército.
Casado com Josefa Tomé (a Pepa), também ela natural de Vila Boa, têm dois filhos. Mas… «quando casei, em 1980/81, a minha mulher era professora na Liceu Nacional de Bissau. Eu, na altura, já era funcionário público, pedi para ir dar aulas de português e fui com ela para a Guiné-Bissau».
José Luís Tomé pertenceu ao INE-Instituto Nacional de Estatística entre 1972 e 1988. «Em 1988 concorri para os quadros da Assembleia da República e passei a funcionário da Biblioteca do Parlamento, descendente da Biblioteca das Cortes. Em 1993 assumi a chefia dos serviços». Actualmente ocupa o cargo de director da Biblioteca da Assembleia da República e é responsável por diversos serviços em suportes papel e informático.
Entre 2001 e 2004 foi professor auxiliar na Universidade de Aveiro no mestrado de gestão de informação, uma actividade que recorda com saudade mas que foi obrigado a deixar em consequência da excessiva carga horária multiplicada pelas muitas deslocações que era obrigado a fazer durante a semana. «Talvez um dia quando estiver reformado possa voltar a pensar nisso», desabafa.
Assumiu a responsabilidade do cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Casa do Concelho do Sabugal porque o seu nome foi indicado como um dos raianos a viver em Lisboa que poderia contribuir para ajudar a «salvar» a Casa da problemática situação em que se encontrava no final de 2007.
«A situação em que se encontrava a Casa, tal como me foi apresentada, não me deixou muita margem de manobra. Percebi que tinha a obrigação de contribuir e não podia dizer que não», recorda o actual presidente da Mesa da AG.
«Vivi em Vila Boa até aos 10 anos mas, esses tempos marcaram-me para toda a vida. Fiz o exame da 4.ª classe no Sabugal às nove horas. Tempos terríveis. O mestre foi implacável no marcação do exame. Como a camioneta passava mais tarde tivemos que ir a pé para estar lá à hora marcada», relembrando, com mágoa, a intransigência e a falta de humanismo desses tempos.
Desses tempos recorda Manuel Chapeira de quem os os pais eram muito amigos e uma senhora dos Fóios que passava por Vila Boa a vender mercadoria de contrabando e pernoitava sempre lá em casa.
As capeias arraianas terminaram em Vila Boa após a morte de um senhor da terra. José Luís Tomé é um fervoroso adepto das touradas raianas. «Pegava sempre ao forcão», afirma com orgulho.
E a finalizar: «E claro! Sou confrade do Bucho Raiano!»
Soube bem conversar com José Luís Tomé. É um interlocutor inteligente, com as ideias arrumadas, ou não fosse ele bibliotecário, sentindo-se aqui e ali nas suas palavras a paixão pelas terras raianas. O tempo passou tranquilo ocupado pelas referências à vida deste sabugalense que reside e trabalha em Lisboa.
jcl