Um punhado de cidadãos de Alpedrinha sob a dinamização de Barata Roxo, foi feita homenagem a Zeca Afonso – a voz da utopia não morre, como escreveu o Jornal do Fundão. No dia 14 de Abril numa Adega na Zona Histórica do Cardeal Jorge da Costa, um grupo de amigos proporcionou uma tertúlia cultural sobre o criador das Baladas.
De uma forma informal Barata Roxo deu inicio à sessão agradecendo a presença de todos os presentes que enchiam por completo o espaço daquela Adega Tradicional. Espaço que o Zeca Afonso escolheria, porque gostava de atual em coletividades populares, de pescadores e operários, em convívios fraternos, em Tabernas… Deu a palavra ao Jornalista Fernando Paulouro Neves, que referiu que a música do Zeca está perfeitamente atualizada. Se recorrermos às letras das Baladas «os Vampiros, o Menino do Bairro Negro, No Lago Breu ou Balada do Novo Dia», estão completamente atuais, neste contexto social e político. Estão outra vez na moda porque a sua mensagem musical e poética passou para as juventudes dos nossos dias. As suas canções são um património de liberdade. Teve a capacidade e a disponibilidade para entender o tempo histórico que era o dele e que está atual. A sua obra é soberba de carater e com grande carga de compromissos. Ele cantava as liberdades e os seus poemas não precisam de datas.
A Dr.ª Maria Antonieta Garcia fez um testemunho de convivência pessoal com este trovador em Belmonte e principalmente no ensino na cidade e acompanhamento das suas atuações em muitas coletividades e grupos desportivos populares e no Centro Cultural de Setúbal, que ainda hoje existe. No ensino preocupava-se muito com os estudantes pobres e nunca se preocupava com os honorários das suas atuações, não vivia para o dinheiro.
Também falou sobre as suas músicas, que nos inventava os filhos da madrugada, abrindo portas de liberdade, sofreu com as notícias de soldadinhos que não voltavam, de meninas de olhos tristes, de exílios, de prisões, de fome…. Ajudou os presos políticos e chegou a ter casa em Monsanto para se fosse necessário se refugiar e passar mais facilmente para Espanha. A viagem da vida parou cedo e «já não volto à Beira».
António Alves Fernandes, leu um texto escrito pelo seu irmão Ezequiel Alves Fernandes, que em 1969, na Turma do 2º R do Ciclo Preparatório da Escola das Areias em Setúbal foi aluno do Professor de História Dr. José Afonso. Dizia aos alunos de uma Turma problemática, com muitos repetentes, com idades dos doze aos dezassete anos, alunos de bairro de lata, subnutridos, que «a História que vou ensinar é contada pelos Homens do Mar, sentida nos Lugares e vivida pelos Povos, que fazem a História».
Se este não fosse um País de labregos, com colossal desonestidade, que medram em asfixia mediocridade de cariz inquisitorial, provavelmente o País respirava a Obra Humana, Intelectual, Musical e Poética de Zeca Afonso.
Nesta ação cultural foram declamados poemas e cantadas baladas de Zeca Afonso. Um grupo musical do Fundão composto pelos dois irmãos Freires, por Adelino e a sua jovem filha, fecharam com chave de ouro esta tertúlia de um punhado de amigos.
Á meia-noite os presentes unidos, cantaram a senha, o hino que tem o nome de «Grândola, Vila Morena».
Em cada rosto respirava felicidade, fraternidade e igualdade…
Parabéns a este punhado de cidadãos que tiveram memória, que recordaram o Trovador do Povo.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes