A atrelagem do gado bovino fazia-se por intermédio de jugos e cangas, pelos quais se puxava o carro e o arado. O jugo e a canga são porém instrumentos muito diferentes, variando a sua forma de terra para terra.
A canga consiste numa trave de madeira trabalhada e adaptada a ser colocada sobre o cachaço de dois animais de tracção, para que puxem ao carro ou lavrem a terra. A melhor das cangas é feita em madeira de nogueira. Ao centro tem os castelos, que é a parte recortada da canga, por onde passa o tamoeiro (ou bardão), nome dado à tira forte de couro usada para prender a cabeçalha (ou cambão) à canga. Tem ainda quatro hastes, chamadas cravelhas (ou chavetas), cuja função é encaixarem no pescoço das vacas. Na extremidade das cravelhas prende o barbante, que é uma correia de couro, ou corda, que passa por baixo da barbela dos animais. Ao centro está o vergueiro, que consiste numa barra de ferro cuja função é evitar que a canga revire quando os animais fazem tracção. A canga encosta ao cachaço do animal, mas para além do barbante, que a prende ao pescoço, também é segura aos chifres, através da apeaça (ou piaça), que é uma correia de couro.
O jugo é por sua vez uma trave de madeira com duas curvaturas, próprias para encaixar na nuca das vacas, para fazerem tracção. É uma espécie de canga, com a diferença de não possuir cravelhas, assentando as curvaturas, ou gamelas, directamente na cabeça dos animais, sendo cingidas aos cornos através de uma correia. A esta correia chamavam soga ou corneira, e era mais pequena do que a apeaça, usada com a canga. Para protecção da nuca dos animais era colocado um pedaço de pele de cabra ou de ovelha, chamada melena (ou molena) que se colocava entre o jugo e a cornadura das vacas. Tal como a canga o jugo também tem castelos, por onde passa o tamoeiro.
Pelo descrito se verifica que a canga e o jugo são instrumentos diferentes. A canga aplica o «sistema jugular», em que o animal puxa com a corcova do cachaço e a cabeça tem liberdade de movimentos. O jugo aplica o «sistema cornal», em que o animal puxa com os chifres, estando a cabeça completamente impedida de movimentos, sendo portanto o jugo de uso mais penoso para os animais.
Na região de Riba Côa, tanto a canga como o jugo tem formas simples e práticas, mas noutras partes do país estes instrumentos assumem formas melhor elaboradas, onde o artista que os produziu espelha o seu saber e a sua arte. Exemplos disso são os jugos de tábua usados no Minho e noutras terras do norte, os quais são altos e profusamente entalhados e vazados, o que lhes deixa uma decoração muito vistosa.
Paulo Leitão Batista