Passado o Natal, com a aproximação da Passagem do Ano, ressurgem balanços e liberam-se vontades de expurgar o que de menos bom ocorreu no ano que finda.

O fanatismo e fundamentalismo são estados psicológicos que levam o homem a mostrar o que de pior consegue. As acções tomadas por quem está imbuído daqueles estados, atingem por vezes as raias da irracionalidade.
Vai realizar-se no próximo dia 2 de Junho (domingo) mais uma edição da feira concurso do Jarmelo, na qual os criadores de gado apresentarão os seus bovinos a concurso e os amigos aproveitarão para passar bons momentos de convívio.
A reforma administrativa do território poderá conduzir a uma substancial perda de freguesias nos distritos da Guarda e de Castelo Branco por força das agregações propostas pela Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa do Território (UTRAT). Apenas Manteigas mantém intacta a sua estrutura administrativa do território.
À chegada, Junho costuma fazer-se acompanhar dos primeiros calores estivais. Não tem sido tanto assim este ano ainda que o sol principie a fazer-se de ouro. É, também, por esta época que o céu inventa a cor azul celeste.
O Monte de Santa Bárbara eleva-se ligeiramente a sul do Monte do Jarmelo, plenamente integrado na zona jarmelista. Ambos nascem da mesma base. O do Jarmelo mais alto e o de Santa Bárbara, mais baixo e mais a norte. Ambos se observam mútua e irmãmente.
No domingo, dia 6 de Junho, o Jarmelo voltou a ser palco de mais uma edição da sua Feira, que mais uma vez procurou promover o mundo rural de toda a região beirã. Integrado na 27.ª edição da Feira do Jarmelo decorreu, em paralelo, o 2.º Concurso Nacional Bovino da Raça Jarmelista. Reportagem da jornalista Sara Castro e imagem de Miguel Almeida da LocalVisãoTv (Guarda).
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No domingo, dia 6 de Junho, o Jarmelo voltará a ser palco de mais uma edição da sua Feira, que mais uma vez procurará promover o mundo rural de toda aquela região. Também integrado na 27.ª edição da Feira do Jarmelo, irá decorrer este ano, o 2.º Concurso Nacional Bovino da Raça Jarmelista.
Este texto poderia ser escrito por Medina Carreira – todos liam, mas depois ninguém levava a sério – acrescentando no entanto umas quantas baboseiras típicas de quem nunca fez nada, mas numa manjedoura farta, se acha no direito de emitir opinião.
O «Jarmelista» Agostinho da Silva esteve à conversa com a jornalista Sara Castro em São Pedro do Jarmelo junto ao monumento a Inês de Castro. Imperdível.
O Capeia Arraiana aproveita para desejar a toda a equipa da Guarda da LocalVisãoTv um 2010 cheio de sucessos televisivos. E para o Agostinho um abraço arraiano e muitas conquistas pela causa jarmelista na próxima década.
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A Marreca e a Amarela são duas mediáticas vacas do Jarmelo, na Guarda. O processo de reconhecimento da raça jarmelista iniciou-se há dez anos tendo-se concretizado há apenas dois. Logo aí os criadores da raça mirandesa entraram com uma acção judicial. Para eles tudo se parece resumir aos euros dos subsídios. Para Agostinho da Silva tudo se resume à sua crença na raça jarmelista e no desenvolvimento apoiado na divulgação das suas terras.
Durante a visita à freguesia de São Pedro do Jarmelo tivemos o privilégio de ter como guia Agostinho da Silva, ilustre autarca e defensor da raça jarmelista. A ronda terminou na terra das forjes, Donfins do Jarmelo, na oficina do último fazedor de tesouras de tosquia, Mateus Filipe Miragaia, o ferreiro que começou a aprender a arte «com 15 ou 16 anos» e nos diz que apesar de ser o último «já é tempo de apagar a forje e de me reformar».
Mateus Filipe Miragaia nasceu a 25 de Outubro de 1941 na terra dos ferreiros, na Donfins do Jarmelo, no seio de uma família de agricultores. Mas, por influência dos Augustos dos Monteiros, passou a mexer nas alfaias antes de elas serem «butadas a uso», ou seja, passou a produzi-las nas forjes de ferreiro.
O último artesão fazedor de tesouras de tosquia do País, recebeu-nos à entrada da sua oficina, «da sua forje», como gosta de lhe chamar. Homem de bigode farfalhudo e sorriso fácil cumprimentou-nos com um aperto de mão. De mão de ferreiro que o tempo foi queimando com a cor do ferro e das faúlhas de fuligem.
Disparou logo em direcção ao Agostinho da Silva. «Então ouvi dizer que não queres recandidatar-te à Junta de Freguesia. E que estória é essa de quereres ser presidente da Câmara da Guarda?» E o Agostinho, naquele seu jeito tranquilo, lá foi obrigado a desvendar-lhe o seu «marketing político».
«Uma senhora cá da terra, casada com um ferreiro, teve oito ou nove filhos, e um deles saiu um pouco mais escuro. A partir daí ficou aquela expressão que aos ferreiros até os filhos saem pretos», começou por nos dizer em tom de brincadeira mestre Mateus.
Noutros tempos havia bastos agricultores e faziam-se no Jarmelo enxadas e machados, em ferro e aço. Mas para fazer seis ou sete enxadas era preciso muito material e dois homens a trabalhar durante todo o dia. As tesouras, com menos investimento, eram vendidas mais caras. A feitura obedece a um segredo. «Não é bem um segredo. Tem que ser bem feita do princípio ao fim. E bem amolada. A roçadoira ou qualquer outra peça de ferramenta se não corta à primeira, corta à segunda. A tesoura se fica mal feita nunca mais corta. Tem que fazer um arco porque se estiver encostada uma contra a outra começa a mastigar a lã e já não corta. A tesoura é uma peça de arte que exige muita perfeição.» Afia as tesouras «de ouvido» pelo toque. O certificado final de qualidade é dado com um corte num pedaço de lã.
– Quanto tempo leva a fazer uma tesoura de tosquiar?
– Costumo dizer que quando vivia para trabalhar fazia uma por hora mas como agora já trabalho para viver faço umas dez por dia. Mas quase não há encomendas. Os poucos pastores que ainda por aí andam utilizam máquinas eléctricas e os tosquiadores, que também vão minguando, já poucas tesouras compram.
– E como é que sabemos se a tesoura é sua?
– Em primeiro sou o único a fazê-las no País. Mas há várias marcas. A minha marca é «Augusto Jarmelo». Não sou eu. É o senhor com quem eu comecei a trabalhar aos 15, 16 anos e depois fiquei-lhe com a oficina. Se for para a zona de Mangualde encontra tesouras destas com a marca «Verdugo». São encomendas que eu tenho e onde coloco o cunho do meu cliente. As «JAP» (José Augusto Pires) de Coimbra também são feitas por mim. No início eram três irmãos e todos cunhavam o pé de pito ou folha de oliveira. Dois dos irmãos seguiram outra vida e apenas ficou o JAP. Já faleceram todos.
Noutros tempos não havia aços laminados e a tesoura era feita de pedaços de ferro e uns bocadinhos de aço, denominados calços. Um bom mestres e um aprendiz jeitoso conseguiam tirar cinco calços com o calor de uma única ida ao lume. «A tempra é o aquecimento com arrefecimento rápido. Como o aço tem muito carbono e o ferro tem pouco é possível ligá-los a quente e à martelada. As tesouras vergam mas não partem. A liga é importante porque permite aos tosquiadores afiar várias vezes as tesouras», esclarece Ti Mateus.
– Mas os ferreiros e os serralheiros trabalham com as mesmas ferramentas…
– Parece a mesma coisa mas é muito diferente. Hoje em dia qualquer pessoa é serralheiro. As máquinas são tão perfeitas que basta saber tirar medidas e cortar. Mas os ferreiros trabalham «à martelada». É preciso saber martelar. A tesoura leva muita mão-de-obra. O ano passado fiz 400 tesouras para o cabaz de Natal de uma empresa de Lisboa que faz projectos de pontes metálicas.
Mateus Miragaia reconhece que foi difícil iniciar-se na arte. A primeira peça que fez foi uma machada. A tesoura foi mais tarde. «Alguns andaram vários anos a aprender e nunca foram capazes de fazer uma tesoura que tosquiasse», lembra com rigor acrescentando que «depois de estar bem forjada e martelada a tesoura vai ao desbaste nos esmeris, ou seja, à pedra de amolar e também aí é preciso muita arte».
No pátio da sua residência, brinquedos em ferro enferrujado são testemunhas das brincadeiras dos cinco filhos e dos outros meninos da aldeia. Mateus Miragaia construiu baloiços, o cavalo mecânico e um escorrega em ferro para que todos as crianças do Jarmelo pudessem brincar depois da escola. «Eram cinco e tive de lhes inventar brincadeiras», diz-nos enquanto carrega num botão para fazer funcionar electricamente os gingarelhos.
Do outro lado da casa um terreno em terra batida enquadra duas balizas de futebol. «Fiz aqui grandes jogatanas com os filhos do Ti Mateus», recorda com prazer Agostinho da Silva.
Terminamos a visita num antigo lagar transformado em adega saboreando uma excelente geropiga. Mateus Miragaia, o último fazedor de tesouras de tosquiar de Portugal, deixa-nos uma última tesourada: «Portanto, como vê, a martelada ainda tem algum valor.»
Um bem-haja ao Agostinho da Silva pela amizade e pela disponibilidade para nos levar à descoberta das suas terras e das suas gentes.
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O Largo da Igreja de Cima, a pedra de montar para o cavalo de Inês de Castro, a Fonte de Santa Maria, o Redondel, o conjunto escultório em ferro, a pedra das medidas dos feirantes, os pais de Agostinho da Silva e… aquelas de quem se fala: as vacas jarmelistas.
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Fotos Capeia Arraiana – Clique nas imagens para ampliar |
Há muito que estava prometido o encontro no Jarmelo com Agostinho da Silva. O espírito de missão que leva este homem a defender a causa da vaca jarmelista é digno de registo. Com discurso rápido e fluente o irreverente presidente da Junta de Freguesia do Jarmelo mistura a polémica sadia com algum marketing provocante. A conversa fez parar o tempo lá riba no marco geodésico onde, musicadas pelas brisas beirãs, se avistam paisagens a perder de vista desde a Guarda até Ciudad Rodrigo. «Preparo-me para ser candidato à Câmara da Guarda. Mas não vale a pena escrever isso porque quero apenas abanar um pouco o estado das coisas em relação à raça jarmelista», diz-nos com um sorriso matreiro, Agostinho da Silva enquanto nos guiava pelos terras e terreólas da sua freguesia desenhada pelos martelos dos ferreiros de outros tempos.
«Quando iam comprar as vacas, escolhiam as que dessem muito leite… paridas de pouco tempo, p’ra se ver o amoijo, se tinha bom amoijo alguma coisa havia. As vacas cá se iam seleccionando, uma vaca que desse muito leite, o proprietário depois de ver que não dava leite, engordava-a e procurava vendê-la… ia procurar outra… a este mercado aqui… ou até Pousafoles do Bispo, Vila do Touro, Alfaiates, para onde tinham ido as nossas bezerras, aquelas que mais tarde dessem bom amoijo, iam-se lá comprar, tanto assim, que uma vez veio de lá uma vaca de Pousafoles para o Ti Órfo… era uma vaca muito linda! Muito bem posta, mas não era grande; tinha o focinho amacacado assim de sapo, virado p’ra diante… mas é lindo o focinho curto.» (retirado do livro das memórias do Silva da Ima, pai do nosso entrevistado).
Agostinho da Silva nasceu a 15 de Dezembro de 1965 na Ima do Jarmelo. Depois da Escola primária entrou para a ordem religiosa missionária Verbo Divino, no Tortosendo. Frequentou a Escola António Arroio, em Lisboa, entrou na Belas Artes do Porto, onde fez o curso de Design de Comunicação. É, actualmente, presidente da Junta de Freguesia do Jarmelo (um conjunto de várias povoações), vive em Porto da Carne (e em breve na Guarda) e vai sempre que pode à aldeia que o viu nascer – Ima do Jarmelo –, uma terra onde ainda resistem cerca de 20 pessoas. Fotógrafo, designer e professor de Artes Visuais é um dos maiores activistas da campanha contra a extinção da raça jarmelista. Foi, com muito orgulho, que nos mostrou a vaca e a bezerra, dois exemplares lindíssimos, que mantém na «loja» de seus pais na Ima do Jarmelo.
Iniciámos a nossa visita guiada pelo Largo da Igreja de Cima onde se percebe na muralha a intervenção sofrida por um portal alargado. Agostinho da Silva recorda a memória dos mais antigos sobre o que aconteceu…
– As procissões antigamente saiam da igreja de cima passavam na vila e entravam na igreja de baixo e no ano seguinte era ao contrário – ainda hoje as pessoas vão à missa ao domingo, alternadamente, a São Pedro e São Miguel – e como passavam por aqui e a portaleira era um pouco estreita havia sempre uma picardias entre quem levava o andor e… empurra para lá, encontrão para cá riscando as madeiras… e o padre para acabar com isso mandou deitar abaixo um dos lados da portada.
A cada passada é possível chutar pequenos calhaus negros duros e pesados. Deixamos a explicação para o nosso anfitrião. «Isto é escória de ferro. Na reconquista de Portugal aos mouros um grande núcleo de ferreiros veio implantar-se no Jarmelo. No início do século XX tinhamos 120 forjas de ferreiro na região do Jarmelo. A vaca jarmelista é bastante parecida com a asturiana de Los Valles. E a minha teoria está associada a isto. Quando vieram os carregos com os bens dos ferreiros asturianos eles também trouxeram os carros e as vacas. Eram comunidades fechadas auto-suficientes que associadas ao microclima que aqui existe apuraram uma raça diferente de todas as outras.»
Continuámos até um espaço no interior das muralhas, nas ruínas da antiga Vila do Jarmelo. «Aqui actuou o Chuchurumel, no Dia do Património.» – E o que é o Chuchurumel? – «É um grupo constituído por César Prata e a Julieta Silva cantam cantigas populares, tradicionais. Fizeram um levantamento, sistematizaram as recolhas e concretizaram, aqui, uma apresentação com 15 temas.»
Mais à frente percebem-se as marcas do que sobra das paredes em pedra de uma casa. «Aqui viviam os pais de Pero Coelho, um dos assassinos de Inês de Castro. Quando D. Pedro subiu ao trono mandou arrasar a vila do Jarmelo que o povo vai lembrando com a lenda – não ficou pedra sobre pedra e que salgou as terras para que elas nunca mais produzissem – mas a verdade é que as terras são pobres. Perto da ribeira faz-se algum cultivo mas afastando-nos 50 metros é só centeio e mato.»
A intervenção que houve no Castro foi coordenada pela Câmara da Guarda, com um arqueólogo e com uma equipa de quatro pessoas que estiveram aqui a trabalhar cerca de um ano. «Notamos é a falta de datação de objectos. Chegámos a pensar num campo de férias com características especiais, por exemplo, vocacionado para a história mas ainda nada se concretizou», esclarece Agostinho da Silva.
O carreiro bem trilhado levou-nos a um dos sítios mais emblemáticos das terras do Jarmelo. A pedra de montar. Mais uma vez deixamos a explicação para o nosso guia. «Esta é a famosa pedra de montar mas parece que não estava aqui. Foi aqui colocada há cerca de 60 ou 70 anos. Tem talhada uma ferradura e uma poça para colocar a ração e está associada à lenda de que Inês de Castro montava neste pedra para o cavalo.»
A visita ao Jarmelo tem um ponto de passagem obrigatório. O marco geodésico. Substituiu uma antiga torre de menagem e permite desfrutar de uma paisagem a perder de vista desde a Guarda até às planícies espanholas de Ciudad Rodrigo.
«Todas as aldeias do Jarmelo tinham o chamado caminho da missa – por momentos era carreiro, outras era caminho, outras era atalho – e a cerca de 100 metros da igreja estava uma lasca, uma pedra espalmada, onde as mulheres metiam por baixo as alpargatas espanholas (com sola de borracha e pano preto) e calçavam os sapatos. No regresso voltavam a calçar as alpargatas. Naquele tempo havia uns sapatos para ir para à missa e uns sapatos para o trabalho do campo. Eu que não sou assim tão velho tive as primeiras sapatilhas aos 10 anos quando fui para o Seminário para o primeiro ano do ciclo. Mas não fomos tão massacrados nem traumatizados como são os miúdos de hoje em dia», recorda o autarca do Jarmelo.
A paragem seguinte foi na Fonte de Santa Maria, onde apesar de Setembro já ter terminado, ainda pingava. A guardá-la, um imponente castanheiro com mais de cinco séculos, olha-nos com desinteresse. Junto ao largo da feira um curioso redondel talhado na encosta…
– Há uns anos largos – nos tempos em que havia dinheiro para apoiar a feira por parte do Ministério da Agricultura – e sendo secretário de Estado, o doutor Álvaro Amaro e sendo presidente da Câmara da Guarda, o senhor Abílio Curto, concederam-nos um fundo para a construção do redondel. Ainda está inacabada mas tem imenso potencial. Eu e o arquitecto Isidro, que está com a dinâmica cultural da Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, organizámos aqui uma iniciativa com piada. Esticámos uma tela e projectámos uns vídeos para a população.
– Este conjunto em ferro que nos liga à morte de Inês de Castro está com um aspecto muito interessante…
– O conjunto escultórico surgiu um pouco em tom de contra-corrente como muitas das coisas que costumamos fazer. Foi uma iniciativa do arquitecto Isidro e o autor foi o filho do ferreiro das tesouras de tosquia. A partir da imagem de Bordalo Pinheiro fez-se esta encenação à escala um e meio que representa o assassinato de Inês de Castro. Lançamos esta iniciativa nos 651 anos da sua morte. Como o Jarmelo não contou para as verbas as comemorações oficiais nós, em tom de pirraça, resolvemos comemorar no ano seguinte.
As aldeias de Ulgueiar e de Donfins do Jarmelo – onde vive o Ti Mateus Miragaia (o último ferreiro fazedor de tesouras de tosquia do país e com quem iremos publicar muito em breve um «à fala com…») – conservam ainda a traça bastante próxima do que eram as casas de outro tempo. O chafariz tem duas bicas. – «Quando andávamos na escola costumavam dizer que uma era para as pessoas e a outra para os animais e os ciganos. Coisas de miúdos.» – A Ulgueira tem muitos vestígios judaicos e uma característica muito especial. É a aldeia das meninas. Aquelas que não se casavam, e foram muitas, ficavam menina Zézinha, menina Aninhas ou menina Mariazinha para a toda a vida.
– «A escola era aqui na Urgueira para os das terras de Donfins, Ima, Devesa e Alto de Valdeiras e da Ulgueira. A caminho da escola tínhamos o jogo das nascentes onde os mais velhos ganhavam sempre. Escolhíamos uma nascente no caminho e todos os dias tentávamos afundá-la para que não deixasse de deitar água.»
Ainda houve tempo ao final da tarde para conhecer Joaquim Monteiro da Silva e mulher, pais de Agostinho que, curvados ao peso da idade, andavam a tratar dos campos de milho e com quem, depois de saber que eramos do Sabugal, recordou com emoção as suas viagens até aos mercados das vacas em terras raianas.
E, claro, tudo terminou com uma visita aos dois exemplares jarmelistas (uma vaca e uma bezerra) que Agostinho da Silva, orgulhosamente guarda na «loja» de seus pais na Ima do Jarmelo.
Provocador lançou a última aguilhada: «Vou concorrer a presidente da Câmara Municipal da Guarda. Mas não vale a pena escrever isso. Não tenciono ir até ao fim. É só para ter tempo de antena para a vaca Jarmelista.»
Mas… lá acabou por concordar com a divulgação da novidade.
jcl
Contrariamente ao que se possa pensar, quase todas as intervenções que aqui tenho tido, poderiam ser interpretadas como apoio ao executivo e não o contrário. Vejamos que faço aqui apelo ao equilíbrio que deve haver pelo menos na mesma unidade geográfica/administrativa.
Alguém aqui é contrário à igualdade de oportunidade ou condições de vida entre as gentes do mesmo concelho?
Volto aqui a reafirmar que aquilo de que nos queixamos em relação ao Litoral (Lisboa) é à mesma escala (ou até maior o abismo) verdade em relação ao próprio concelho.
Como não temos escola primária, não podemos lançar o Magalhães… também não temos mar… nem sequer água para todos.
O lançamento (apresentação pública) que hoje aqui fazemos é um Kit. Um kit para visitantes a terras do Jarmelo pois os que lá moram… amanham-se de outras formas, talvez herdadas desde antes da nacionalidade.
Trata-se de um kit de necessidades básicas, como disse, mais dirigido aos que visitam ou se pretendam instalar nas terras do Jarmelo.
Este kit é composto pelas analogias que seguem:
– Garrafa de água, que analgésicamente substitui a própria torneira ou contador.
– Papel higiénico, que analgésicamente substitui o saneamento
– O paralelipípedo granítico, que por analogia substitui o piso das ruas e acessos.
Embora se diga tratar-se de um analgésico (pelo menos é o que diz a embalagem) e como não sei o que significa… aviso que nenhum dos componentes, deve ser entendido como supositório.
O uso deste kit, é da exclusiva responsabilidade dos utentes.
A obtenção deste kit, não isenta a cobrança pela C. M. Guarda da taxa (ao que parece de 200€) referente à fossa, que se cobra a quem quiser fazer uma habitação nessa aldeias que não têm saneamento.
Será que esta taxa deve ter como objectivo diminuir a percentagem de habitações sem saneamento? Pelo raciocínio lógico quem não tem casa, também não tem falta de saneamento nem de água ou piso.
Quanto à validade deste kit; este género de produtos, expira a cada 4 anos que passam.
O Jarmelo, desde o tempo de D. Afonso IV (pai de D. Pedro) deixou de ter influência… Basta recordar que um dos conselheiros reais da altura (equiparado hoje a amigo pessoal de Primeiro Ministro) de nome Pêro Coelho, era do Jarmelo… daí para cá… D. Pedro mandou destruir a vila do Jarmelo e salgar como castigo, as suas terras; dizem por lá as pessoas que desde então, pouco ou nada tem acontecido de relevante.
Guarda, 30 de Setembro de 2008.
Agostinho da Silva
Presidente da Junta da freguesia de S. Pedro do Jarmelo
As Jornadas Europeias do Património celebrar-se-ão em Portugal, nos dias 26, 27 e 28 de Setembro. O Jarmelo, de Agostinho da Silva, está na rota das actividades.
O património vai estar em destaque no distrito da Guarda e, em especial, no Jarmelo do activista (e defensor) da vaca jarmelista Agostinho da Silva.
Com o tema proposto «no Património… acontece» pretende-se propiciar novas oportunidades de reencontro das pessoas e das comunidades com o mundo do património e dos monumentos, reforçando essa ligação através de acções que promovam a sua reapropriação com um carácter efémero.
Propõe-se, por isso, que seja feito um especial investimento na implementação de actividades que estimulem a aproximação e o envolvimento da população com o património, com o objectivo a dar a conhecer as potencialidades, de incentivar o acesso à oferta cultural e o usufruto dos espaços patrimoniais.
Com este objectivo, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo irá promover no dia 28 de Setembro, no Jarmelo, um conjunto de actividades no sentido da divulgação e promoção do Castro do Jarmelo.
15.00 horas – Palestra «Património Cultural, uma riqueza ainda incompreendida», proferida pela arqueóloga Clara Portas.
17.00 – Inauguração oficial da página da Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo («jarmelo.net») da autoria de curiosos e amigos jarmelistas voluntários que assim pretendem divulgar o Jarmelo.
18.00 – Actuação nas ruínas da antiga vila do Jarmelo do grupo «Chuchurumel», que editou, em 2007, um dos melhores discos de música portuguesa.
O Capeia Arraiana aproveita para endereçar os parabéns ao Agostinho da Silva por mais esta iniciativa em defesa da «marca Jarmelo».
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