A frágua era a oficina onde antigamente trabalhava o ferreiro e o ferrador, dando apoio à actividade agrícola que era a principal ocupação das pessoas das aldeias.
A preparação das ferraduras para vacas, burros e cavalos e das relhas para os arados dos lavradores, constituíam a principal actividade das fráguas (ou forjas). Também se faziam noras de tirar água, rastos para as rodas dos carros de vacas, enxadas, ganchos e outros instrumentos agrícolas, procedendo-se ainda à sua reparação. Era também aí que o lavrador ia afiar as picaretas e os malhos. O Mestre e os aprendizes viviam numa labuta contínua, para corresponderem aos pedidos de assistência.
A frágua, com as variantes fráugua e frauga no léxico raiano, era pois a oficina do ferreiro, bem caracterizada pela presença, a um canto, do fole gigante, com o qual se soprava à fornalha onde o carvão incandescia e dava calor aos metais. Sobre um madeiro estava a indispensável bigorna, que consistia num bloco maciço de ferro fundido, próprio para sobre ele malhar o ferro incandescente para lhe dar forma. Ao lado da fornalha e da bigorna estava sempre a masseira com água para arrefecer os metais.
Os ferreiros eram quase sempre também alveitares, tratando os animais doentes. Onde houvesse vaca ou burro em sofrimento era ao ferreiro que cabia dar-lhe o tratamento necessário, deslocando-se para isso a casa dos lavradores, munido de um conjunto de instrumentos que ele próprio fabricava.
O ferreiro era no geral um homem de forte compleição física, cuja musculatura fora desenvolvia de martelo em punho, ao malhar o ferro sobre a bigorna. Acautelado, usava na função um avental em couro, para resguardo das faúlhas incandescentes expelidas pela fornalha, e trabalhava de camisa arremangada, porque sentia sempre calor, fosse pelo efeito da fornalha, fosse pelo constante esforço na sua função.
O conhecido adágio, em casa de ferreiro, espeto de pau, tornou comum a ideia de que o ferreiro era pessoa descuidada e mal organizada, mas manda a justiça considerar que isso não correspondia à verdade. O ferreiro era antes alguém que se dedicava aos outros, pois trabalhava para toda a aldeia, não tendo tempo para se dedicar às suas próprias coisas, daí o conhecido rifão popular.
Perto da oficina do ferreiro, havia sempre o tronco, equipamento constituído por quatro ou seis pedras ao alto, com paus de atravesso, que servia para segurar os animais a quem eram colocadas ferraduras.
Há muito que não restam fráguas nas aldeias. São apenas memória que importa preservar, porque a actividade do ferreiro foi essencial à economia rural dos nossos antepassados.
Paulo Leitão Batista