Cerca de quarenta personalidades da cultura portuguesa, espanhola e brasileira, subscreveram uma carta dirigida ao reitor da Universidade de Lisboa propondo que seja concedido ao pensador Jesué Pinharanda Gomes, nascido em Quadrazais, o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia.
A revelação foi feita no sábado, dia 19 de Novembro, pelo Professor Renato Epifânio, no decurso da cerimónia de atribuição ao filósofo Pinharanda Gomes da Medalha de Mérito Cultural concedida pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL).
A proposta dirigida ao Reitor da Universidade de Lisboa é subscrita por professores de diversas universidades portuguesas, espanholas e brasileiras, bem como por outros vultos da cultura e do pensamento, nomeadamente os bispos D. Manuel Clemente e D. Januário Torgal Ferreira.
«Ao longo de meio século Pinharanda Gomes elaborou uma obra ímpar», lê-se na missiva, que se refere ainda ao pensador sabugalense como «uma marca essencial dos estudos contemporâneos da nossa história filosófica». Os subscritores, que já estabeleceram contactos com a reitoria da universidade no sentido de articular os termos do processo, consideram que a homenagem honrará a Universidade, na medida em que é seu dever reconhecer o mérito aos melhores.
Pinharanda Gomes, que acabara de receber a Medalha de Mérito concedida também pela Universidade, local em cujos bancos nunca se sentou enquanto aluno, tomou a palavra para expressar um duplo sentimento: por um lado sentia júbilo pela dádiva recebida, mas por outro sentia-se carregando um peso e uma dor, porque «nunca tive no meu horizonte qualquer distinção ou titularidade», disse.
Perante uma plateia repleta de professores e investigadores – onde destacamos o seu amigo João Bigotte Chorão – o pensador de Quadrazais disse que ao longo da vida enfrentou dificuldades e incompreensões, mas não ficou isolado: «nunca estive só, porque uma alma nunca está só, está sempre perante o Criador».
Pinharanda Gomes revelou que em 1959, após a sua infância em Quadrazais e os estudos de juventude na Guarda, onde ainda trabalhou como marçano numa loja comercial, foi para Lisboa «à procura de vida». Já na Capital, «matava a fome como podia quando descobri a Biblioteca Nacional e comecei a passar ali os dias lendo livros», disse o homenageado, que com a observação, a experiência e a preciosa ajuda de um funcionário, descobriu o «catálogo» da biblioteca e, a partir daí, passou «a mineiro e a contrabandista», embrenhando-se no estudo metódico e na investigação.
«Em 1 de Março de 1961 entrei, sem cunhas, na firma Tractores de Portugal, onde me realizei profissionalmente e de onde apenas saí quando me reformei, em 30 de Setembro de 2004», disse Pinharanda Gomes, que igualmente revelou ter pretendido entrar na Faculdade de Letras, tendo contudo desistido face à descoberta das tertúlias que se realizavam nos cafés, juntando escritores e pensadores. «Frequentei todas as tertúlias de Lisboa daquela época, das mais diferentes sensibilidades», revelou, dizendo que acabou por encontrar a tertúlia de Álvaro Ribeiro e José Marinho, onde descobriu a Filosofia Portuguesa, corrente do pensamento de que viria a tornar-se um dos nomes mais proeminentes.
1 – É com grata satisfação que assistimos ao sucessivo reconhecimento do relevante papel de Pinharanda Gomes na cultura portuguesa. É verdadeiramente emotivo constatar que um homem que nunca frequentou a Universidade, seja agora estudado pela Universidade e homenageado por aqueles que aprendem lendo a sua obra notável.
2 – Estivemos presentes no acto de homenagem acima noticiado e, no final, quando cumprimentávamos Pinharanda Gomes, perguntámos-lhe como estava o processo decorrente da cedência da sua biblioteca pessoal à Câmara Municipal do Sabugal e ouvimos, confrangidos, o seu lamento pela aparentemente pouca importância que estavam a dar ao assunto. Os livros foram para o Sabugal em Novembro de 2010 com a condição de que até ao final do ano lhe fosse enviado um inventário de tudo o que seguiu, para que se assinasse um protocolo. Em Abril de 2011 Pinharanda foi ao Sabugal apresentar um livro sobre as Invasões Francesas (a Câmara omitiu o seu nome no programa) e indagou sobre o assunto, tendo sido informado que a catalogação estava em andamento e quase pronta. Porém passado um ano sobre o transporte dos livros de sua casa para o Sabugal, nada mais lhe disseram e teme que o assunto tenha caído no esquecimento.
plb