Na noite de quarta-feira, dia 19 de Julho, a Câmara Municipal do Sabugal levou o documentário sobre a Capeia Arraiana ao Teatro Municipal da Guarda (TMG), depois de ter sido exibido em várias freguesias da raia sabugalense.
Ao fim de dois anos de recolha de imagens e depoimentos está finalizado o documentário sobre a crise na indústria dos lanifícios na região da Serra da Estrela, chegando agora a hora de o espectador o poder visionar nos ecrãs dos festivais de cinema documental. O realizador do filme, Luís Silva, explica em entrevista todo o processo desde o inicio das filmagens e o que pretende com este documentário.
– Está terminado o documentário sobre os lanifícios. E agora, qual vai ser o próximo passo?
– Inicialmente pensei fazer uma ante-estreia onde pudesse juntar todos os entrevistados e entidades e outras pessoas que colaboraram na realização do filme, no entanto e uma vez que só agora concluímos a pós-produção e com o mês de Agosto em que muitas pessoas se encontram de férias fica muito em cima da realização de alguns festivais onde vou inscrever o filme e daí tornar-se complicado gerir esses timings. O próximo passo é a inscrição do filme nos vários Festivais de cinema documental que existem ao nível nacional a começar pelo CineEco para o qual já foi enviada a inscrição que terminava o prazo no dia 15 de Agosto aguardando agora por Setembro que será o mês em que ficaremos a saber se o filme foi ou não seleccionado. O que posso dizer relativamente a quem queira ver o filme é que aguardem que seja seleccionado para algum destes festivais e se assim for será feita a devida comunicação com o dia e a hora onde pode ser visto. Pelo que este tema representa para as gentes e comunidades da região da Serra da Estrela, quero levar o filme o mais longe possível daí estar a ser preparada uma versão em Inglês para poder concorrer a festivais de cinema documental também a nível internacional.
– O que pretende com este trabalho?
– A indústria dos Lanifícios é de grandes tradições na nossa região, não só porque é uma região onde abunda a água daí a maior parte das fábricas terem sido construídas junto de rios e ribeiras, pois há 2 séculos atrás a força motriz das fábricas era a roda que se movia com a força da água que por sua vez fazia movimentar os engenhos que colocavam em andamento a maquinaria para a produção de tecidos, mantas, cobertores e outros, mas também porque cá existem rebanhos em grande numero dos quais através da tosquia se obtem a lã para a produção destes produtos laneiros. Apesar disso convem referir que a lã também vinha do Alentejo e há até quem diga que é uma lã melhor, contudo estes são os dois principais factores pelos quais aqui se instalaram estas fábricas. Além de querer dar a conhecer através do filme estes aspectos acima referidos, pretendo ao mesmo tempo tentar saber as razões, os motivos, que estiveram na base do declinio destas empresas que chegaram a empregar no Concelho de Manteigas, Gouveia e Seia mais de 20.000 pessoas e que hoje é um sector que não ocupa nestes 3 concelhos sequer mil pessoas. Para se ter uma ideia do que representou a força desta industria basta ver que provavelmente algumas cidades conseguiram esse titulo graças aos milhares de operários que vieram viver para estas terras, pois, caso contrário provavelmente algumas destas cidades ainda seriam vilas.
– Que orientações seguiu na escolha dos entrevistados e dos locais?
– Para obter uma diversidade de respostas decidi seguir uma linha de recolha de depoimentos que passassem por ex-operários, ex e actuais empresários deste sector, sindicalistas e políticos, pois dessa forma foi possível cruzar informações dos variados pontos de vista que permitam ao espectador no final do filme ficar com uma noção mais exacta do que aconteceu. Como se pode calcular os ex-operários têm as suas próprias justificações, os sindicatos, os políticos e os industriais também as têm, pois cada um conforme as suas responsabilidades têm justificações diferentes e algumas iguais o que se traduz numa abrangência de opiniões maior, sendo que no final sobressaem conclusões no mínimo muito interessantes.
– Quanto tempo demorou a fazer e quais os passos?
– Ao fim de quase dois anos de filmagens e recolha de depoimentos e testemunhos de pessoas que sempre trabalharam neste ramo na nossa região da Serra da Estrela (Manteigas, Gouveia, Seia) terminou no passado mês de Julho a edição e pós-produção do filme «Lanificios.doc». Após um trabalho inicial de investigação que passou pela leitura de livros publicados sobre esta matéria, consulta de fotografias, assim como pela consulta de jornais da época e recolha de depoimentos, passámos para o terreno onde percorremos várias localidades desde Manteigas, Gouveia, Vodra, Seia, S. Romão, Loriga, Alvoco da Serra e outras. Visitámos e recolhemos imagens também na Covilhã. Acompanhou-me nesta recolha de imagens o meu Assistente de Realização Nuno Pinheiro ao qual competiu também a recolha de fotografias.
– Quais as expectativas?
– Relativamente aos Festivais onde vou inscrever o filme espero que seja seleccionado na maior parte deles, pois é essa a intenção de um realizador quando faz um filme poder mostrá-lo ao maior número de pessoas e públicos diferentes, mas, ao mesmo tempo poder divulgar a nossa região da Serra da Estrela e as nossas gentes, pois, para se ter uma ideia a Banda Sonora do filme é toda original e foi David Fidalgo, um compositor de Paranhos da Beira (Seia) que a fez. A Realização e produção, assim como a pesquisa e a recolha de fotografias foi feita por gente da nossa região, sendo que é esta ideia que também pretendo passar. Temos gente no nosso Distrito com espírito de voluntariado mas acima de tudo com muita capacidade também ao nível da sétima arte e das novas tecnologias da informação e comunicação. As expectativas também recaem sobre a forma como os entrevistados vão fazer a sua análise á sua participação no filme no particular e no global, pois é sempre preocupação de um realizador, pelo menos é minha, que os entrevistados se sintam bem no final do filme com a sua participação mas acima de tudo com o projecto com o qual colaboraram e acreditaram.
– Próximos projectos?
– Para já quero divulgar o máximo possível este documentário pois á imagem dos meu ultimo realizado em 2009 «Os Últimos Moinhos» estes projectos têm os seus custos e quando estes são suportados por mim próprio torna-se difícil por muitas ideias que tenha de fazer mais, com mais regularidade mas concerteza irão aparecer mais.
Para concretizar este documentário foram, entre outros, entrevistados Santinho Pacheco (ex-Governador Civil da Guarda), Carlos João (coordenador do Sindicato dos têxteis da Beira Alta), João Clara (proprietário da fábrica EcoLã – Manteigas), João Fernandes (ex-proprietário da Fisel, Vodratex e outras em Seia), Camello (proprietário da fábrica Camello, S. Romão), Eduardo Brito (ex-presidente do Municipio de Seia), Filipe Camelo (presidente do Município de Seia) e ex-operários da Fisel e Vodratex.
Página oficial do documentário «laticinios.doc». Aqui.
jcl (com Luís Silva)