Há momentos que não cabem nas palavras e determinam instantes que brotam no fluir do tempo fazendo verter indefiníveis emoções.

Se a vida for um sopro nós existimos no veemente brotar do vento ante a sucinta fluência do tempo. Partem e volvem os nossos dias nos sussurros da ventosidade. Enegrecem e aclaram as nossas noites na sua flutuação. No seu seio sonhamos os nossos sonhos e advogamos os nossos arbítrios.
Alguém, um dia, oferecendo-me uma caneta, dizia: «Isto não é uma prenda. É um utensílio para escrever.» Era uma caneta encarnada, quase marron. Dois ou três fios de ouro longitudinais estampavam-lhe elegância e finura fazendo dela a minha caneta preferida.
No desnovelar da vida há muito mais quem a tome por enigmática do que quem a julgue entendível. Porém, o seu todo é realmente complexo e tenta-nos a ideia de que o problema poderá estar em simplificá-la. Eis, assim, a razão pela qual se abreviam conceitos para facilitar a sua interpretação.
Daqui, do âmago deste meu olhar pensado, antes que o entardecer se estabeleça, encosto-me ao peitoril e cruzo o cristal da janela para contemplar céus e terra. Observo o galopar das nuvens a caminho das labaredas de um sol que se incendeia com o vir da primavera. Vejo a serra a contrapor-se num imenso verde renovado. Repete-se, este espectáculo, de tarde em tarde. Sempre eu o procuro porque ele sempre me comove. É como se o visse, cada vez, pela primeira vez.
Sinto a escrita como hipótese de admitir pensamentos intersectados em sentires que embalado em vivências recheadas de argumentos e sensações. Escrever é, pois, uma regularidade minha que cumpro numa sucessividade de registos, apostos em brancuras motivadoras, vulgarmente chamadas folhas de papel.