Depois de uma passagem pelo Indie Lisboa em 2009, chega às salas «Louise-Michel», a terceira obra da dupla Gustave de Kervern e Benoît Delépine. Uma comédia negra sobre o capitalismo e as suas consequências junto de uma fábrica numa aldeia francesa.
Roman Polanski está a viver uma fase atribulada na sua vida, fruto de um crime cometido no passado pelo qual decidiu fugir à Justiça. Polémicas à parte, isso não o impediu de apresentar um grande filme.
Protagonizado por Ewan McGregor, «O Escritor Fantasma» é a história de um escritor sem nome, que é contratado para escrever a autobiografia de um antigo primeiro-ministro britânico, interpretado pelo anterior James Bond, Pierce Brosnan. À partida nada podia ser mais simples, mas a proposta do realizador polaco cedo nos leva para a área dos thrillers políticos, género que se pensava ter ficado perdido nos idos anos 1970, quando chegaram às salas de cinema títulos como «Os Homens do Presidente».
Neste caso, apesar de nunca assumido, percebe-se que a história podia ser decalcada da realidade actual, pois este ex-primeiro ministro esconde segredos que bem podiam ser os de Tony Blair, com algumas nuances. A começar pelas acusações de que é alvo sobre a Guerra no Iraque, que o levam a ser investigado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a Humanidade. A sua sorte é que está em território norte-americano, país que não reconhece este órgão da Justiça internacional, logo safo de julgamento. Blair nunca foi acusado de nada, mas há quem defenda a sua presença perante a Justiça para responder sobre esta questão.
Todos estes factos vão sendo desvendados aos poucos pelo escritor fantasma, que vai descobrindo os segredos do passado deste antigo homem de poder, que parece ser influenciado por todos os que o rodeiam, à medida que a sua investigação o leva para caminhos estranhos. Desde a descoberta de um anterior escritor que fez um primeiro esboço da obra e morreu misteriosamente, passando por ligações à CIA e a presença de antigos colaboradores do primeiro-ministro que de repente viram para o outro lado da barricada.
Com esta obra Polanski apresenta um dos grandes filmes deste ano, com McGregor em boa forma, que nos faz voltar atrás no tempo, quando os thrillers políticos fizeram História em Hollywood. Este consegue não só ser uma grande história, bastante actual e que nos dá uma boa imagem dos jogos de poder e as ligações escondidas nas relações políticas, como tem um final bastante surpreendente e irónico, que acaba fora do plano, mas que deixa bem perceptível o que acontece.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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