José Leite de Vasconcelos, o grande etnógrafo e antropólogo português nasceu em 7 de Julho de 1858 em Ucanha, concelho de Tarouca, na Beira.
Durante a sua vida, dedicada ao estudo e à investigação antropológica, publicou mais de 1200 estudos e empenhou-se na criação do Museu Etnográfico, hoje Museu Nacional de Arqueologia. Esse museu guarda um invulgar espólio documental, com mais de 24 mil documentos epistolares de José Leite de Vasconcelos, parte dos quais estão agora em exposição naquele museu, a par de uma mostra fotobiográfica.
Licenciou-se em medicina na Universidade do Porto e foi durante três anos delegado de saúde. Em 1888 tomou posse como conservador da Biblioteca Nacional, em Lisboa, passando então a dedicar-se por inteiro ao estudo da Arqueologia.
Em 1901 doutorou-se em Filologia pela Universidade de Paris e fundou a revista cientifica «O Archeologo Português», órgão oficial do museu, cuja edição ainda se mantém actualmente.
Investigador incansável, gostava de pisar o terreno e contactar com o povo. Correu o País de lés a lés, falou com as pessoas, observou as suas tradições, recolheu testemunhos do saber popular, analisou documentos e efectuou escavações.
Enquanto peregrino do saber arqueológico deixou uma obra de vulto, onde se distingue «Etnografia Portuguesa», de dez volumes, contendo o que apurou sobre o saber do povo português, incluindo referências à origem da nação, ocupação do território, religiosidade popular, tradições sociais e culturais.
Dessa vastíssima obra respigámos uma importante referência às nossas terras, que a seguir transcrevemos:
«Casas do concelho do Sabugal:
No concelho do Sabugal, pelo menos em algumas povoações que percorri (Aldeia do Bispo, Aldeia Velha, Souto, Vila Boa, Rendo), as casas têm, frequentemente, balcões exteriores que dão para a rua, ou para um curral, isto é, para um recinto descoberto mas murado, onde às vezes sobe uma alpendrada ou cabanal, nomes que ambos se usam conforme as terras, onde se aguardam aprestos de lavoura (carros, arados, etc.). O balcão consta de escadaria de pedra, encimada de um lajedo ou pátio descoberto, ou com telhado suspenso por colunas, a que também se chama alpendrada. As casas dos pobres são imundíssimas e rodeadas de estrumeiras, que até dificultam a passagem. À entrada das casas, que são altas e têm por baixo lojas para os animais, há uma saleta para a cantareira cheia de pratos na parte superior, e os cântaros da água na inferior. Segue-se a cozinha, com caniço, onde pende uma corrente que sustenta uma caldeira sobre o lume. Na parede do lar há um missão, espécie de poial para o lume a não queimar; correspondente à boneca do Sul. Também na cozinha está a pilheira, um compartimento para a cinza. Aos lados da saleta de entrada ficam os quartos de dormir.»
Aqui fica a nossa sentida homenagem ao grande etnógrafo português que foi José Leite de Vasconcelos.
plb