Desde há séculos que a capela do Espírito Santo, à Lameira, é pertença de Quadrazais. Já o abade Paulo Correia da Costa, que até era quadrazenho, relata na resposta ao Inquérito do Marquês de Pombal em 1758 que Quadrazais tinha seis capelas (e mais uma na anexa Ozendo), quatro dentro da povoação e duas fora dela, a saber: a de São Jães (São Genésio) e a do Espírito Santo.
Ler MaisNascido em Quadrazais, concelho do Sabugal, Pinharanda Gomes é um dos mais prolixos escritores portugueses, com largas dezenas de livros publicados. Diversa é também a temática abordada, que vai da Filosofia à História, passando pela Religião, a Etnografia e mesmo a Biografia.
Para além da actividade literária propriamente dita Pinharanda Gomes é um homem da vida. Incapaz de recusar um pedido, a vida levou-o a manter colaboração, regular ou pontual, com uma imensidade de jornais e de revistas, a proferir largas dezenas de conferências, e a escrever perto de cem prefácios e posfácios em livros alheios, tendo ainda colaborado em dezenas de dicionários e enciclopédias.
A sua área de excelência é a Filosofia, onde integra o «pensamento português», na esteira de Leonardo Coimbra, Álvaro Ribeiro e José Marinho. Uma boa parte da obra literária está pois dedicada ao pensamento. Outra faceta importante, que talvez secunde o trabalho filosófico, é a dos textos de índole religiosa, alguns apologéticos outros historiográficos, todos realçando a profundeza e o enraizamento da doutrina católica nas convicções do nosso povo.
Dentro desse mesmo espírito se enquadra o volume «A Cidade Nova», que reúne um conjunto de reflexões acerca da religião e da sociedade. Seguiu-se a «Duas Cidades», sendo-lhe uma espécie de segundo volume, por dar continuidade ao tratamento dos mesmos temas. Os ensaios abordam a temática religiosa em diferentes quadrantes: a relação da Igreja Católica com as demais religiões, a renovação do pensamento católico, o papel de Maria no catolicismo e, por fim, o culto do Divino Espírito Santo em Portugal.
Precisamente neste último ponto, Pinharanda aborda a teologia do Divino numa perspectiva popular. Explica como esse culto se tornou tão celebrado entre o povo e como evoluíram as festividades, integradas no «ciclo da alegria», que se segue ao Domingo de Páscoa. Ali nos fala das loas, ou folias, dedicadas ao Espírito Santo, levando-nos até ao vôdo, ou bodo, que era a dádiva destinado inicialmente aos mais pobres e carenciados, e que depois evoluiu para lauto banquete, cuja confecção e composição variam consoante o lugar:
«O vôdo pode constar de caldo de carne, a sopa do Divino, e carne e pão e vinho, como nos Açores; ou leite, o que sucede em Vila Franca do Rosário (Açores) em que o promitente do voto traz as vacas para serem ordenhadas na praça pública e, o leite, distribuído pelos pobres. No Continente, onde o gado bovino de trabalho abundava mais do que o gado leiteiro, raro era o costume de matar a vaca. Preferiam-se os borregos, os cabritos, os coelhos, e outros animais miúdos, e também os comeres com ovos: chouriças embebidas em gema, fritas; enchidos vários; biscoitos de farinha triga e ovos, os coscoréis, espécie de filhó, amassada com ovos, uma base de farinha triga. Por então cantavam os moços:
É a moda dos coscoréis
E também a das rosquinhas
E também a das amêndoas
Que se dão às raparigas.»
«Sabores Literários», crónica de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
Esmaecem os clamores e os gáudios de Carnaval. Caminhamos para o fim do dia, e entramos em vésperas de tempo santo, que durará pelo menos doze semanas, com tendência para as treze – as cinco/seis da Quaresma e as sete entre a Páscoa da Ressurreição e o Domingo de Pentecostes, ou do Espírito Santo.