Em deambulação pelo Alentejo, percorrendo as estradas que cruzam as imensas campinas pejadas de sobreiros e oliveiras, podemos admirar a imensidão da paisagem. Para além das vistas desafogadas é importante tratar do estômago, procurando as iguarias da culinária local.
Quem siga pela auto-estrada nº.6, em direcção a Espanha, encontra a saída para Borba e Vila Viçosa poucos quilómetros após Estremoz. Tomando pois o percurso de Vila Viçosa pela velha estrada nacional, avista à esquerda, andado apenas um quilómetro, uma placa que indica Ourada. Metendo então por uma via estreita e sinuosa, em direcção á Ourada, o viajante descobrirá em breve, outra vez à esquerda, a placa indicativa de uma terra de nome curioso: Alcaraviça. É pois para Alcaraviça que o descobridor deverá rumar, á cata da antiga tasca do Zé Pina. Até lá andará em estrada estreita, que aos bordos segue pela vertente de uma pequena encosta, cruzando vinha e olival.
Encontrará a velha tasca numa graciosa encosta, em casa caiada, à moda das habitações das terras que se pisam. Está em local ermo, sem mais casario ao redor, mas de onde se avista soberba paisagem, sendo muito belo observar dali o pôr-do-sol neste tempo primaveril, em que o Alentejo abandona as vestes verdes para começar a trajar de amarelo.
A antiga taberna, deu agora lugar a espaço melhor cuidado. O bar foi ampliado, criou-se uma sala de refeições, dispôs-se novo mobiliário, decoraram-se as paredes com velhos utensílios da lavoura.
Gente nova toma conta do negócio, dada a aposentação do Senhor José Pina. Tendo enviuvado o velho taberneiro não se sentiu capaz de levar por diante a função. Contudo, a especialidade da casa continua a ser a sopa de tomate e o coelho assado na caçarola. Agora o bar chama-se «Espalha Brasas» e vêm servir à mesa com os salamaleques próprios dos restaurantes de nomeada, num ar de modernidade a que não estava habituado o normal cliente de Zé Pina, que via no local uma tasca das antigas, onde se bebia bagaço ao balcão e se falava alto para ser ouvido por entre a conversa brava que às vezes ocupava os alentejanos que ali aportavam.
De entrada o viajante terá ao dispor torresmos acompanhados por tiras de pimento cru, e ainda um saborosíssimo queijinho de ovelha curado. Quanto a bebida impõem-se beberricar do vinho corrente da cooperativa de Borba, ou, querendo coisa de maior reputação, um Marquês de Borba tinto, de reserva, que ali é apresentado a bom preço.
Para comer, já saberá o viajante ao que veio. Primeiro comerá uma bela sopa de tomate, que vem à mesa numa terrina. A água vermelha do tomate vem com ovos escalfados a boiar, restando meter-lhes a gadanha e puxar para o prato um par de cocharras, a que se juntam umas pequenas fatigas de pão de trigo que lhe colocam ao lado num açafate. É de comer e berrar por mais!
Depois é tempo de vir à mesa a caçarola de barro pejada de pedaços de coelho assado. Virá a escaldar, puxada directamente do forno, exalando um aroma formidável. Acompanha com batata cozida ou frita, ou então com um naco de pão. O comensal descobrirá aqui uma maravilha gastronómica, coisa única no país.
plb