O Entrudo longe de ser a festa vistosa hoje em muitas cidades, com carros alegóricos e muita menina quase despida sambando, era uma pausa na dureza do trabalho e trazia uma certa alegria à povoação.

As aldeias serão como as pessoas? Terão vida própria e irrepetível? Pois bem: trago hoje duas ou três situações de outros tempos. Uma reposição, pois já tinha escrito algumas destas linhas noutros locais e noutras ocasiões. São retalhos, de facto. Retalhos da vida de uma aldeia perdida no meio das serranias da Beira. A minha aldeia, a mais encantadora de todas – sejam elas quais forem e valham o que valerem…
Estávamos longe dos carnavais de agora, com actores de telenovelas brasileiras bem pagos a servir de primeiras figuras, com escolas de samba brasileiras ou já portuguesas imitando aquelas a desfilar em carros alegóricos de festividades, de factos políticos ou factos históricos, em trajos carnavalescos ou da época a que se reportam os factos.
Terça-feira Gorda que, na região sempre foi dia de guarda – não sei se não deveria empregar-se aqui o qualificativo de santo, pois os divertimentos a que o povo se entrega, se por vezes podem estragar o corpo, são perfeitamente inócuos ou mesmo benéficos para a alma – é que a farsa se completa.
Na noite de 20 de Fevereiro, a partir das 21h30, as ruas da Guarda vão dar lugar à folia carnavalesca da quinta edição do espectáculo «Julgamento e Morte do Galo do Entrudo».
Tal como em edições anteriores, esperam-se milhares de pessoas para seguir o cortejo do galo entre o Jardim José de Lemos e a Praça Velha da cidade. Trata-se de um espectáculo comunitário e de expiação, baseado em tradições populares da região como a «Queima do Entrudo» e o «Julgamento, Morte e Testamento do Galo», um Carnaval cem por cento português, onde desfilam centenas de participantes oriundos das colectividades do concelho e também actores, músicos e animadores profissionais como a companhia de animação de rua Kull D’Sac (Valladolid, Espanha) e os seus números e malabarismos com fogo ou a música animada do Grupo de Zés P’reiras, Gigantones e Cabeçudos (Braga) e da Banda Sociedade Musical Estrela da beira (Seia).
Ao desfile não faltará também o culpado por todos os males e injustiças acontecidas no ano que passou, ou seja, o galo, que na Praça Velha será punido! Ele acabará por arder na fogueira, libertando o povo de todos os males que aconteceram no ano anterior. Mas antes, porém, ele terá um julgamento “justo” e terá direito a pedir um último desejo!
Estão convocados para esta audiência especial, cujos textos têm a autoria de Daniel Rocha, a juíza (interpretada por Filipa Teixeira), o advogado de acusação, Zé Povinho, (interpretado pelo actor Valdemar Santos), o advogado de defesa, Duarte Lima-te (interpretado por João Pereira), o presidente do júri e testemunha de defesa, Ismaltino Orais (interpretado por Albino Bárbara), o justiceiro, D. Pedro (interpretado pelo actor José Neves) e haverá ainda a participação especial do clown Det Schafft.
Mas como de resto é sabido, o galo será condenado e «assado» na fogueira.
E no final da noite, à semelhança do sucedido nas últimas edições, o público será convidado para uma deliciosa e quentinha Canja de … galo!
O Julgamento e Morte do Galo do Entrudo tem coordenação geral de Américo Rodrigues, o Galo é uma criação do artista plástico Bruno Miguel em colaboração com João Pires e Raquel Cardoso, a música original é do projecto guardense Micro Animal Voice.
Como já referimos anteriormente, a edição de 2012 do Julgamento e Morte do Galo do Entrudo volta a contar com a adesão das colectividades do concelho da Guarda. Participam nesta 5ª edição: Alunos do Curso de Artes da Escola Secundária da Sé; Aquilo Teatro; Associação Cultural Copituna d’Oppidana; Associação Cultural e Recreativa da Sequeira; Associação de Jogos Tradicionais da Guarda; Associação Desportiva, Recreativa e Cultural da Rapoula; Centro Cultural da Guarda; Clube de Montanhismo da Guarda; Gambozinos e Peobardos – Grupo de Teatro da Vela; Grupo de Cantares da Arrifana – Associação Cultural; Grupo de Cantares S. Miguel da Guarda «A Mensagem»; Grupo de Concertinas Estrelas da Serra; Rancho Folclórico de Videmonte; Raiz de Trinta – Associação Juvenil e Oficena (TMG).
O Julgamento e Morte do Galo do Entrudo é uma produção da Culturguarda EM para a Câmara Municipal da Guarda.
A iniciativa está inserida na Candidatura (CMG) Política de Cidades – Redes Urbanas para a Competitividade e Inovação (QREN) [Cidades parceiras: Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco].
plb (com TMG)
A tradição do enterro do Entrudo em Famalicão da Serra, no concelho da Guarda. Reportagem da jornalista Paula Pinto com imagens de Miguel Almeida da Redacção da LocalVisãoTv (Guarda).
jcl