Peço desculpa pela intromissão. Mas isto passou das marcas todas. Um economista inglês de alta responsabilidade europeia desmascara a banca alemã de forma inequívoca. Tudo o resto, a história que andam a contar, é tudo treta. Mas esta novidade tem uma semana – e no entanto não passa nos telejornais.
Ler MaisJá por mais que uma vez, nesta «raia da memória», pedi títulos emprestados. Volta a ser o caso de hoje: «Noite e nevoeiro» é o título de um admirável filme de Alain Resnais sobre o Holocausto, um verdadeiro libelo acusatório sobre a barbárie nazi e, simultaneamente, uma reflexão sobre os limites da crueldade humana.
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Ler MaisNoite de Dezembro fria e noveirada. Aproximava-se a hora do jantar de aniversário de uma das prestigiadas colectividades desta cidade. Todos os anos me inscrevo porque devemos festejar estas efemérides. Chego ao restaurante e nem viva alma. Apenas o dono e os empregados. Está tudo atrasado porque se espera por uma individualidade vinda da capital.
Enquanto aguardo vejo as notícias, sem antes o chefe da casa me esclarecer que anda quase tudo a gamar. É nas auto estradas sem custos, com portagens, as licenças municipais para tudo e mais alguma coisa a subir vertiginosamente com custos a exceder o dobro, as da saúde com uma vistoria de minutos, passa para cá mais de cem euros, é os medicamentos, é tudo…
Qualquer dia fecho a porta porque não posso suportar tantos encargos fiscais.
Olho para as notícias da TV e é o desfilar infindável do rosário da crise.
Assaltos de todas as formas e feitios, é o roubo das caixas multibanco, das ourivesarias, dos restaurantes, dos cafés, dos fios de ouro, e até na minha aldeia, Bismula, que nunca é notícia, este dia foi-o em todos os órgãos de comunicação social escrita e falada, porque uns larápios foram aos postes dos telefones, serraram-nos e levaram os fios de cobre de milhares de metros, deixando-a sem comunicações.
Um vice-reitor de uma universidade diz que a maioria da geração da actual classe política veio de universidades privadas e mais não digo…Que quer dizer este ilustre senhor? Foi a crise?
Por causa da crise está à venda no Bairro Alto – Lisboa, uma Igreja por dois milhões de euros, esperando que não vendam o Céu, porque os pobres já lá não chegam.
Também por causa da crise ouvi uma boa notícia, o preço das Eucaristias não vai subir de preço mantendo-se os dez euros por intenção e o remanescente vai para a Diocese.
Estava-se na crise, quando chegou o desejado dirigente acompanhado pela direcção e entidades oficiais, já alguns dos inscritos para o manjar iam mordiscando o pão com manteiga, azeitonas, pedaços de chouriça e morcela.
Vem a crise dos discursos, e o Presidente aos costumes disse nada, convidando todos para que no próximo ano estivessem presentes, se entretanto o São Pedro não os chamar para prestarem contas dos nomes bonitos que chamaram ao árbitro, aos jogadores e aos associados de outros clubes, dando a palavra ao autarca de freguesia que foi uma malícia ouvi-lo, ainda por cima é todo virado para o vermelho. Lá foi adiantando que ainda vem longe as eleições, que não trás nada na manga por causa da crise, que tem duas filhotas uma do clube da concorrência e a outra sim do aniversariante. No próximo ano espera estar presente com a filha.
O autarca municipal que é da cor verde salvou a honra do convento, começando por cumprimentar o Sr. Presidente que acaba de conhecer. Eu digo, talvez pela malvada crise quando foi eleito não foi apresentar cumprimentos à edilidade municipal, como mandam as regras protocolares. Destacou a acção social e centro de encontros da referida colectividade, à qual desejou as maiores felicidades.
A seguir falou o representante da tribo maior, que veio da capital do império, começando por esclarecer o atraso. Era a primeira vez que vinha ao Fundão, apanhou muito nevoeiro que lhe dificultou a viagem, mas chegou ao destino. Não aconteceu o mesmo ao nosso Rei D. Sebastião, que o Povo continua à espera, num dia ou noite de nevoeiro. Informa que veio a custo zero. Será que não pagou as malditas portagens? Se a crise de golos não for como as finanças do país, espera ser campeão do futebol indígena.
Perante tanta crise, o profissional da rádio meteu no saco o gravador e foi-se embora, porque não podia colocar no ar tanta falta de qualidade oratória.
Por causa da crise, a Banda Musical não colocou colunas de som na sala, mas ouviu-se e bem.
Que mais irá acontecer. Maldita crise. Que vá para o Diabo que a carregue.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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Em tempo de férias há uma tendência natural para esquecer os problemas. Depois de aceitarmos não ser possível fazer aquelas férias com que sonhámos todo o ano, resta-nos aproveitar o sol. Esquecemos já o deficit e as medidas para o combater. Esquecemos o aumento do IVA, o imposto excepcional sobre os rendimentos do trabalho ou simplesmente as medidas alternativas que foram propostas, mas que o governo não aceitou.
Ler MaisA crise económica mundial é coisa séria, no entanto, não resistimos a dar uma «solução» para acabar com a dita cuja…
Numa pequena vila do Interior em que nada de especial acontece, a crise sente-se. Carregada de dívidas toda a gente deve a toda a gente.
Subitamente, um turista entra no pequeno hotel local. Pede um quarto e coloca uma nota de 100 euros sobre o balcão. Pega na chave e sobe ao 3.º andar para inspeccionar os aposentos que lhe indicaram, na condição de desistir se estes não lhe agradarem.
O dono do hotel pega na nota de 100 euros e corre ao fornecedor de carne a quem devia 100 euros.
O talhante pega no dinheiro e corre ao fornecedor de leitões a pagar 100 euros em dívida há algum tempo.
Este por sua vez corre ao criador de gado que lhe vendera a carne (100 euros) que por sua vez corre a entregar os 100 euros a uma prostituta que lhe cedera serviços a crédito.
Esta recebe os 100 euros e corre ao hotel a quem devia 100 euros pela utilização casual de quartos à hora para atender clientes.
Neste momento o turista desce à recepção e informa o dono do hotel que o quarto proposto não lhe agrada, pretende desistir e pede a devolução dos 100 euros.
Recebe o dinheiro e sai.
Não houve neste movimento de dinheiro qualquer lucro ou valor acrescido. Contudo, todos liquidaram as suas dívidas e agora a população desta vila já encara o futuro com optimismo.
jcl