O inverno fere a noite chuvosa e fria, sortida de vento que soa a negro e abre portas à fantasia. As estrelas fugiram deixando o céu tingido de escuro e levaram, com elas, o declivoso vulto da Serra.

O inverno fere a noite chuvosa e fria, sortida de vento que soa a negro e abre portas à fantasia. As estrelas fugiram deixando o céu tingido de escuro e levaram, com elas, o declivoso vulto da Serra.
Nós, os humanos, temos, obviamente, muitas visões em comum. Concordamos na ideia do bem e do mal. Coincidimos no conceito de guerra e paz. Convergimos sobre o que é justo e o que o não é. Enfim, aceitamos, universalmente, tudo isto e muito mais. Mas, quanto a gostos? Diz o povo que eles não se discutem.
«Uma andorinha não faz a primavera» e «por morrer uma andorinha não acaba a primavera», são duas citações proverbiais que remontam aos tempos de Aristóteles e que, neste caso, nos fazem relacionar andorinha com primavera. Elas estão por isso a chegar.
Cultivo, desde garoto, este gosto, aparentemente alheado, de ver cair a chuva, de a acompanhar no seu encontro com o mundo, com as casas, as árvores e os solos. Gosto de lhes seguir o caminho por valetas e regueiros, de assistir à formação dos charcos, de observar o escorregar das gotas em desenhos rendilhados nos vidros das janelas.