Antes da chegada dos chafarizes com água canalizada e condições de asseio, a água para abastecimento das nossas aldeias repousava nas fontes de chafurdo, ou de mergulho, onde se enchiam caldeiros e cântaros.
A água é, dos bens comunais, o que cuja falta mais preocupa a colectividade. Água é fonte de vida e, na sua escassez, a existência humana torna-se penosa. Isso era ainda mais sentido quando não existiam as comodidades de hoje, em que o precioso líquido nos entra pela casa adentro, bastando rodar uma torneira.
Na aldeia antiga, a água ia buscar-se à ribeira, ao poço ou à fonte mais próxima. Claro que uma aldeia existia onde houvesse água, fosse ela oriunda de um curso a descoberto, ou resultante de captações locais, que garantissem o abastecimento da comunidade. Mas a água potável nem sempre era abundante. Para sua garantia, escavava-se uma captação, via de regra um poço ou uma fonte, em local acessível.
O mais comum era a aldeia abastecer-se numa ou mais fontes de mergulho, ou de chafurdo, onde, às tardes, as raparigas se dirigiam com os cântaros de barro de duas asas, carrejados sobre a cabeça, assentes nas rodilhas, ou molides, para melhor equilíbrio. Este tipo de fonte, antes tão comum e hoje quase desaparecido, consistia numa poça de água, de pouca profundidade, escavada no local onde a mesma remanescia. Para protecção era construída uma meia cúpula de pedra, com maior ou menor estilo, mas deixando sempre suficiente espaço para o manobrar do cântaro ou do caldeiro. Muitas fontes deste género estavam desniveladas em relação ao solo, sendo necessário construir uma escada de acesso, pela qual se descia até à tomada da água. O estilo, forma geral, era simples, pois havia nela apenas a componente prática, que revelava algumas preocupações básicas: garantir o acesso fácil, protegê-la dos detritos e evitar que os animais ali fossem dessedentar-se.
Na fonte de chafurdo cada utilizador mergulha o recipiente na água, assim o enchendo. Ora, sendo a fonte utilizada por toda uma comunidade, cada utilizador terá que ter o máximo cuidado, evitando enludrar a água. Era até comum ver ao lado da fonte uma pequena lata ou caço de barro, que tinha em vista servir de copo a quem passava e pretendia matar a sêde.
A manifesta falta de higiene deste tipo de fonte, levou à sua progressiva substituição pelo chafariz, construção mais sóbria, em que a água caía de uma caneira ou de um tubo para o pio onde se ia acumulando. Para além do asseio, o chafariz permitia o aproveitamento da água do pio, que servia para dessedentar os animais ou para lavagens. Muitos chafarizes tornaram-se vistosos monumentos, substituindo as antigas fontes, que foram soterradas, assim desaparecendo.
Importaria nos dia de hoje recuperar algumas destas fontes de chafurdo, atendendo ao que elas representam na história da vida aldaneja, quando a existência era difícil, com muitas provações. A fonte de mergulho era um bem essencial, de que toda a população necessitava, a par com o forno. Lá diz o rifão: água e lenha, cada dia venha.
Paulo Leitão Batista