Quando ligamos a televisão sabemos que é Natal. Porquê? Porque vemos lindas imagens frias e sem existência junto a tendas despidas de gente sem vida. Armam-se barracas mas destrói-se o espírito do Natal. Dar vida a quem a não tem…

Os recentes indicadores situam o nosso concelho entre os 50 municípios com menor poder de compra per capita. Sem horizonte de políticas de desenvolvimento local capazes, cumprirá à participação da sociedade civil um papel determinante. À falta de vontade política, que surja a vontade popular.
As medidas de austeridade conduziram-nos a uma situação de fragilização social. Ao fugir de um buraco financeiro fomos parar a um buraco social. A dívida Portuguesa continua a subir. A austeridade confirmou-se a pior das políticas sociais. Temos medo de um papão chamado mercado mas não nos importamos de trucidar o ser humano… Temos ainda medo de outros papões, que vêm do leste, mas o oeste já nos limpou há muito…
Cada vez que são publicados estudos atualizados sobre desigualdades sociais em Portugal, o cenário apresenta-se mais sombrio. O certo é que, segundo dados empíricos, se não fossem as transferências sociais, metade dos portugueses apresentavam-se em situação de risco de pobreza. Esta «luta de gerações» será um início ou um fim?
Vivemos num período de imensa desigualdade de oportunidades, de rendimento, de nível de vida, de emprego. A pobreza afeta acima de tudo as gerações mais novas, que se encontram ainda mais desprotegidas do que a geração da idade da reforma. E adormecemos? É hora de acordar!
Numa altura em que se debatem soluções para o nosso concelho é importante ter uma leitura real e não romanceada da nossa realidade. Há coisas que não se podem esconder. Não são obras do ocaso. Semearam-se ventos e agora quem colhe as tempestades?
A Europa está associal. O individualismo impera e reina. O Estado social, porque foge ao estereótipo das ideias mercantis, é combatido e destruído. Estamos a regressar aos primórdios da génese do Estado social. Nem tudo será mau. Recuar dará oportunidade de recomeçar.
No imaginário de todos nós existe uma ideia de realidade fictícia no país de Alice. Ora bem, nunca gostei do maravilhoso mundo de Alice. Aliás é tempo de desconstruir as realidades reconstruídas para desmistificar o que nos tem sido transmitido. É tempo de acabar com Alice (pedindo desculpa a todas as que se chamam Alice). É tempo do mundo real, chamado de vida!
Enquanto uma ou outra carta de garantias de governação nos vão sendo apresentadas, distraímo-nos com notícias de futebolês e de outros quadrantes. Mantegazza referia que, em certos casos, a ignorância é uma grande garantia da felicidade. Vivemos, então, num país muito feliz. E há quem proporcione essa felicidade.
Durante décadas tem-se vindo a questionar sobre o que na realidade provoca a transformação social. Estamos a mudar. E se não estamos, devíamos. As estruturas políticas partidárias encontram-se a definhar e o aparelho administrativo central e local não consegue acompanhar a rápida transformação em que nos encontramos.
O Povo tem um poder indiscutível. Tem um rio do seu lado. Tem o poder de querer ou não lavar uma roupa demasiada suja que, embora não seja sua, lhe veio parar às mãos. Então porque espera? Lavemos essa roupa. Que o rio seja a nossa alma, a nossa voz, o nosso poder. Podem comprar o chão deste povo. Mas não lhe comprarão a sua alma.
Tomamos por certa a liberdade que outros nos colocaram nas mãos. Seremos justos merecedores de algo que não conquistamos diariamente? Vivemos liberdades que aprisionam a mente, mesmo que o físico vagueie errante por aí. A liberdade será um aprisionamento se não for assumida e conquistada por cada um de nós.
Comemorou-se no dia 7 de abril o Dia Mundial da Saúde. Os sistemas privados têm vindo a conhecer, suportados por um estado liberal. A saúde compra-se e não basta ter dinheiro para a comprar. É preciso saber movimentar-se nos bastidores e nos meandros do funcionamento em que o sistema nacional de saúde se encontra.
É Páscoa, mas quem comerá o borrego? Quem sairá efetivamente do caminho do calvário agravado diariamente pelas questões sociais? É tempo de passagem, de mudança. Mas será para todos? Em tempos de Páscoa, mais do que certezas subsistem maiores dúvidas!
A locução latina primus inter pares significa «primeiro entre iguais», sendo usada para designar algo ou alguém que se destaca entre outros semelhantes. Estamos a presenciar reuniões de «Primus», mas será que o objetivo inicial não se converterá em assimetrias sociais?
A estratégia dos atores sociais passa pela habilidade em motivar os outros para uma causa pública. Movimentamo-nos para o interesse coletivo ou estaremos a ser sugados para uma causa que, sendo de outros, nos adormece e entorpece os sentidos sociais? É urgente uma nova arena com novos atores e novas políticas! Pior do que errar é nunca ter tentado mudar!