Célio Rolinho Pires, natural de Pêga, concelho da Guarda, dedicou parte da vida ao estudo aturado das formas das pedras que povoam os horizontes da nossa região beirã. Grande revelador de afectos, os livros que publicou vão de encontro à história e à vivência das pessoas e dos lugares, cabendo assinalar o grande momento que foi a sua oração de sapiência no I Capítulo da Confraria do Bucho Raiano, realizado no Sabugal.
No dia 16 de Agosto, foram inauguradas na Miuzela as instalações definitivas da Associação de Cultura Prof. Dr. José Pinto Peixoto, insigne cientista natural dessa freguesia do concelho de Almeida. Coube ao escritor e investigador Célio Rolinho Pires, natural de Pêga proferir no acto uma conferência, que nos transmitiu que publicamos na integra, embora, dada a sua extensão, dividida em três textos que publicamos em dias sucessivos.
No dia 16 de Agosto, foram inauguradas na Miuzela as instalações definitivas da Associação de Cultura Prof. Dr. José Pinto Peixoto, insigne cientista natural dessa freguesia do concelho de Almeida. Coube ao escritor e investigador Célio Rolinho Pires, natural de Pêga, proferir no acto uma conferência, que nos transmitiu e que publicamos na íntegra, embora, dada a sua extensão, dividida em três textos que publicamos em dias sucessivos.
No dia 16 de Agosto, foram inauguradas na Miuzela as instalações definitivas da Associação de Cultura Prof. Dr. José Pinto Peixoto, insigne cientista natural dessa freguesia do concelho de Almeida. Coube ao escritor e investigador Célio Rolinho Pires, natural de Pêga, proferir no acto uma conferência, que nos transmitiu e que publicamos na integra, embora, dada a sua extensão, dividida em três textos que publicamos em dias sucessivos.
«Na rota das pedras em busca do país que somos» é a mais recente publicação do escritor Célio Rolinho Pires. É um livro de roteiros, uma via que nos transporta pela história lusitana e pela cultura popular numa interligação entre a região raiana e muitas localidades da região centro. Reportagem e edição da jornalista Paula Pinto com imagem de Miguel Almeida da Redacção da LocalVisãoTv (Guarda).


Autoria: LocalVisãoTV posted with Galeria de Vídeos Capeia Arraiana
Célio Rolinho Pires é um ilustre beirão natural de Pêga (já no concelho da Guarda), escritor e homem de cultura. Foi o orador convidado para a oração de sapiência do I Capítulo da Confraria do Bucho Raiano que decorreu em Abril de 2010 no Sabugal. Mais uma personalidade ímpar (e desconhecida da maior parte da massa crítica sabugalense residente) que foi dada a conhecer a uma população adormecida do concelho do Sabugal. Agora foi, possivelmente, acrescentado à lista de potenciais merecedores da medalha de mérito cultural do concelho do Sabugal.
jcl
O escritor Célio Rolinho Pires, natural da freguesia de Pêga, no concelho da Guarda, proferiu a «Oração de Sapiência» durante as cerimónias do 1.º Capítulo da Confraria do Bucho Raiano que decorreram no Sabugal no dia 17 de Abril de 2010. O Capeia Arraiana publica o valioso escrito – dividido em duas partes – este domingo e o próximo. (Parte 1).

A cerimónia de entronização da Confraria do Bucho Raiano e dos seus confrades, o desfile de confrarias e o almoço do Bucho, realizados no sábado, dia 17 de Abril, trouxeram protagonismo ao Sabugal, cidade que concentrou a atenção da imprensa regional.

Representantes dos órgãos de comunicação de referência da região vieram até ao Sabugal para acompanharem as iniciativas ligadas à realização do primeiro Capítulo da recém-criada Confraria do Bucho Raiano, que tem sede na cidade.
A presença na cerimónia de D. Manuel Felício, bispo da Guarda, onde benzeu as insígnias, a homenagem a personalidades, a comparência de confrarias vindas de todo o país, o desfile pelas ruas do Sabugal integrando a centenária Banda da Bendada e, também, o almoço do Bucho, primorosamente servido no RaiHotel, foram os grandes atractivos. O 1.º Capítulo da Confraria deu um colorido diferente ao Sabugal, tal como o deu o Encontro da Juventude Diocesana, realizado na mesma data.
A cerimónia do Capítulo, teve lugar no Auditório Municipal. Dentre os presentes contavam-se representantes do movimento confrádico nacional. Para além das «confrarias madrinhas» – da Chanfana (Vila Nova de Poiares) e do Queijo Serra da estrela (Oliveira do Hospital) – marcaram ainda presença: Confraria do Bucho de Arganil, Confraria Gastronómica do Pinhal do Rei (Leiria), Confraria dos Gastrónomos de Lafões (Vouzela), Confraria do Bodo (Pombal), Confraria do Azeite (Fundão), Confraria dos Sabores Raianos (Almeida), Confraria dos Nabos e Companhia (Mira), Confraria da Cereja de Portugal e Confraria da Lampreia (Penacova).
Quanto a convidados de honra, contou-se com a presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, Madalena Carrito, o Bispo da Guarda, D. Manuel Felício, o Governador Civil da Guarda, Santinho Pacheco, o Presidente da Câmara de Manteigas, Esmeraldo Carvalhinho, o Presidente do Tribunal da Relação de Évora, Manuel Nabais e o responsável cultural do INATEL da Guarda, Joaquim Igreja.
A cerimónia iniciou-se com a actuação da Banda da Bendada no palco, tendo depois falado o presidente da Câmara, António Robalo, que saudou os presentes e deu as boas-vindas ao Sabugal. O Bispo da Guarda benzeu as insígnias da confraria, compostas por medalhas, estandarte, varal e chambaril, desejando depois longa vida à Confraria e uma actividade profícua, seguindo sempre o ideal das confrarias: a cooperação e a amizade entre os seus confrades.
Constituída a mesa, presidida pelo Grão-Mestre, Joaquim Leal, iniciou-se a cerimónia, com a lição de sapiência do escritor Célio Rolinho Pires, que recordou as antigas matanças, os rituais que lhes estavam associados e os sabores que advinham do porco e que a dona de casa preparava ao longo de todo o ano, dentre os quais o bucho, peça do enchido que contribuía para união familiar, porque era degustado em família no domingo de Carnaval.
As confrarias madrinhas entronizaram os maiorais da confraria do bucho raiano, o Grão-Mestre, o Chanceler e o Vedor-Mor, e depois estes, já investidos de funções, entronizaram os restantes 37 confrades do bucho, que receberam a insígnia e o respectivo diploma.
A confraria homenageou o presidente da Câmara do Sabugal, António Robalo, e o presidente da Junta de Freguesia do Sabugal, Manuel Rasteiro, conferindo-lhes o título de Cavaleiro da Confraria, tendo em conta o apoio notável que ambos têm dado à associação.
O desfile com os confrades e seus acompanhantes, precedidos pela Banda da Bendada, foi do auditório ao RaiHotel, onde os participantes posaram para a foto de família.
Depois chegou a hora do almoço do bucho, degustado no restaurante D. Dinis por cerca de 140 pessoas, que aderiram à iniciativa.
O próximo capítulo da Confraria do Bucho Raiano acontecerá no concelho do Sabugal, no dia 5 de Março, sábado de Carnaval. De permeio haverá ainda o já habitual almoço de Lisboa, que acontecerá em Novembro deste ano.
plb
A sabedoria popular guarda sabores antigos que tomam parte da nossa cultura e dos nossos afectos, como o fez notar o escritor Célio Rolinho Pires, grande conhecedor dos usos e costumes do povo.
Conhecido pelos seus estudos e escritos sobre o valor das pedras que povoam os horizontes da nossa região beirã, Célio Rolinho Pires, natural de Pêga, é também um revelador de afectos. É neste espírito que se enquadra o seu livro de recordações intitulado «Rosas de Santa Maria», publicado em 1997. É um livro de vivências e de saudades de um tempo que só a memória conserva. Nesse tempo o ciclo anual da vida aldeã estava perfeitamente demarcado, inclusive na gastronomia, com ementas próprias em cada época.
De todas as quadras anuais ressalta o Entrudo, tempo de excessos em toda a linha, incluindo na alimentação. A carne reinava neste época, como que a prepar o corpo para as privações e exigências da Quaresma. Dentre as iguarias deste tempo de festança pontuava o bucho servido com grelos e batata cozida:
«A ementa típica para esta quadra é guardada intencionalmente no masseirão ou salgadeira: pé de porco, orelha e quiçá o rabo, salvo seja, tão simplesmente cozidos na altura ou previamente condimentados e “enchidos” no estômago ou na bexiga do falecido bácoro de que resulta o tão falado bucho, paio ou palaio. Curtido e seco no fumeiro, cozido ao lume, em panela de ferro, com batatas e grelos de nabos, é comer e gritar por mais.»
A saborosa citação foi retirada do capítulo «o ciclo dos vivos», que nos dá conta das andanças periódicas que sujeitavam o viver colectivo nas aldeias de antanho. Ali se lamentam as tradições perdidas e a descaracterização da vida aldeã com a progressiva ausência de fenómenos gregários que o tempo cilindrou impiedosamente.
A referência à tradição alimentar torna premente a importância da recuperação de sabores antigos, onde exista uma réstia da naturalidade dos alimentos e onde se reponham as formas de cozinhar e os segredos que a cozinheira conhecia e que faziam com que produtos simples e até banais, viessem à mesa transformados em iguarias de divinal sabor e riquíssimo teor alimentício.
O livro «Rosas de Santa Maria» é pois um repositório de memórias, onde perdura o sentimento do navegador que há muito partiu para longa viagem, sulcando os mares, e a um tempo regressa ao porto de partida. Traz com ele novas experiências, outros conhecimentos e até diferentes formas de pensar a vida e o mundo. Mas ali, à vista das terras que envolvem o porto de abrigo, o viajante reencontra as paisagens e as gentes que sempre fizeram parte do seu imaginário, mas que os seus olhos não observavam há longo tempo. Perante este esplendor, o navegante abre o baú das memórias e revela a quem o ouve, as vivências marcantes do seu passado.
«Sabores Literários», crónica de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
O primeiro Capítulo de Entronização da Confraria do Bucho Raiano acontecerá no Sabugal, no dia 17 de Abril (sábado). Nessa data os confrades farão o juramento de honra e receberão as insígnias, numa iniciativa em que se espera juntar no Sabugal confrarias de todo o país, representando os mais variados sabores da nossa gastronomia tradicional.

Churras são as ovelhas autóctones cobertas de lã grosseira, em contraponto às ovelhas merinas, mais recentes, que produzem lã mais fina. Ora o povo dizia «tchurras» e há na freguesia o topónimo «Panchorras» (ou Panchurras), na margem esquerda da ribeira do Boi. Portanto Pêga era terra de ovelhas e, necessariamente, terra de pastores, ou «pegureiros».
Em 1758 o pároco da freguesia, face aos quesitos do inquérito promovido pelo Marquês de Pombal às paróquias do Reino, respondeu: «Nesta terra não há coisa digna de memória de que se possa fazer menção». Célio Rolinho Pires nunca se satisfez com aquela resposta. Um dia vieram parar-lhe às mãos os «Livros Velhos da Irmandade das Almas», e tornou-se-lhe aí clara a necessidade de se fixar a memória desta terra do extremo sul do concelho da Guarda.
O valor de Pêga começa na sua gente. Gente de paz e de coragem, mandada à vida, nas lutas e labutas do quotidiano. Agarrada à rabiça do arado na decrua e sementeira da terra, de foice em punho ceifando o centeio, pegada ao cabo do mangual malhando o pão para alimento de todos os dias. Gente dedicada ao trabalho árduo para garantir a sobrevivência, mas também com propensão para a comédia no tempo do Entrudo e o bailarico nas noites festivas. Também havia a tristeza, que o este povo enfrentava estoicamente: a miséria dos pedintes, o drama dos expostos, a mágoa perante a morte, aqui especialmente aliada ao percurso fúnebre da aldeia anexa, Monte Vasco, para o cemitério da freguesia.
É tudo isso que Célio Rolinho Pires nos retrata no seu livro, fazendo ainda uma incursão aos vestígios de eras remotas, bem expressos nas pedras.
Um livro que resultou de trabalho aturado, de uma investigação profunda, feita por homem escrupuloso, também ele gente que nasceu, cresceu, viveu, e vive, na aldeia de Pêga, entre os seus. «Pêga – Terra de Panchurras» não é uma monografia qualquer, feita para reunir o essencial da memória da terra. O professor Célio vê mais longe, e foi em busca das origens. Explana a forma como a terra nasceu e se manteve ao longo dos tempos, explica as suas tradições mais marcantes, elucida a forma peculiar como o povo se exprime.
Referencia-se o mais ilustre descendente de Pêga: o escritor Nuno de Montemor ou, de verdadeiro nome, Joaquim Augusto Álvares de Almeida. Embora nascido em Quadrazais, o pai era de Pêga, oriundo de uma família de gente honrada, com alguns teres e com boas casas de lavoura, além de forte propensão para o negócio.
Hoje os caminhos vicinais estão ao abandono. Já ninguém os percorre para ir às tapadas e aos chões, onde agora cresce o matagal. Por isso, a pensar em novos tempos, o autor apresenta um mapa com a Rota das Pedras, em que sugere passeios ao redor da aldeia, percorrendo os antigos caminhos carreteiros, em busca dos vestígios de antigamente.
Uma monografia essencial, que o autor justifica assim: «Para que os futuros meninos de Pêga, estejam onde estiverem, saibam que também eles tiveram avós e que há uma terra, algures, que estará sempre à sua espera».
plb
No dia 15 de Agosto, por ocasião das festas de Pêga, freguesia do distrito da Guarda, Célio Rolinho Pires fez a apresentação pública da monografia da sua terra de nascimento e de vivência. O salão da Junta de Freguesia encheu-se de gente para assistir a um momento impar para Pêga, que foi o culminar de um longo e exaustivo trabalho de investigação.
O livro, intitulado «Pêga – Terra de Panchurras», é um olhar profundo à história de uma terra antiga, cujo povo viveu durante séculos em pura comunidade. Aldeia de lavradores, pastores, padeiros e almocreves, Pêga foi sempre terra de referência no âmbito regional. Há vestígios dos povos da antiguidade em variados locais do seu termo, foi ponto de passagem de primeira importância, era local de basta produção de gado ovino e seus sucedâneos e celeiro de abastecimento aos povos em redondo. Em suma, esta terra de pastores (pegureiros) e de ovelhas (churras) teve grande relevância histórica, daí a importância deste profundo trabalho literário, que enriquece o acervo bibliográfico das terras beiroas.
Na simbólica cerimónia estiveram presentes, ladeando o escritor: Virgílio Bento, vice-presidente da Câmara da Guarda, Padre Morgado, pároco da freguesia, Crespo de Carvalho, escritor e pensador da Guarda, e Maria Augusta Carvalho Martins, veneranda mulher da terra, amiga íntima do autor, a quem coube apresentar a obra literária.
Virgílio Bento destacou a importância da salvaguarda da memória: «é a memória que nos permite construir a nossa identidade. Sem ela não teríamos capacidade de aprendizagem daí a importância da obra literária de Célio Rolinho Pires, que vai agora no seu quinto livro dedicado à salvaguarda da memória das nossas terras».
Crespo de Carvalho revelou que se apaixonou pela «teoria das pedras»: «O professor Célio tem a coragem de olhar, ver, meditar e daí tirar conclusões, sendo um verdadeiro cientista e historiador».
Por sua vez, Maria Augusta Martins falou ao coração dos conterrâneos.
«Só um homem que conhece bem a nossa terra é capaz de escrever o que ele escreve. Uma vez perguntei-lhe:
– Ó Célio. Como é que te metes-te nesta história das pedras?
E ele respondeu-me:
– Foi por acaso. Vi pedras de variados feitios que apareciam em locais diferentes e daí meditei em como é que tal podia acontecer. Descobri que isso tinha algum significado, e assim nasceu o estudo das pedras.
Estou de acordo com as teorias que ele nos tem revelado. Há coisas com verdadeiro sentido histórico que é preciso revelar ao mundo. E eu vou mais longe: é necessário que esses achados não se percam. As figuras rupestres de Foz Côa foram protegidas, e ainda bem, mas nós também aqui temos coisas que devem ser preservadas porque as pessoas, mesmo sem quererem, podem destruir o património que as nossas terras guardam.»
O autor fechou os discursos de circunstância. O seu grande objectivo é honrar a terra e todos os que nela nasceram. Um livro pressupõe um plano de longo prazo, que amadurece e fica pronto para vir a público. Mas aqui não pode haver pressas. Como um puzzle, as suas peças têm de encaixar perfeitamente.
«Atrevo-me a dizer que as palavras, as frases, os temas, os subtemas que integram o livro são como as componentes de um automóvel. Tudo funciona em interdependência e complementaridade para que o veículo se mova e nos leve, pois é essa a sua função».
Para Célio Rolinho Pires «Pêga – Terra de Panchurras» é sobretudo um livro de afectos:
«Por isso este livro não é meu nem é de ninguém em particular, é dos Pires, dos Rolinhos, dos Mateus, dos Adriões, dos Canários, dos Álvares de Almeida, dos Canhotos, dos Gregórios, dos Esteves, dos Monteiros, dos Gonçalves, dos Fernandes, de todos. Daí a necessidade de o dar a conhecer e o devolver aos verdadeiros donos».
A obra apresenta um mapa, que pretende ser um roteiro de alguns vestígios históricos que existem na freguesia, mas o autor avisa: «não se admirem se ao procurarem fazer o percurso em caminhos milenares não conseguirem passar. Não se espantem ainda se alguns dos vestígios já lá não estiverem. Há coisas que sendo de todos não são de ninguém mas há quem não pense assim!».
plb