A candidatura de Ana Isabel Charters pelo CDS-PP foi uma surpresa. Os documentos foram entregues na tarde de segunda-feira, 17 de Agosto, pelo mandatário Francisco Pires Costa Paula, de Pousafoles do Bispo, e por Cristina Isabel Gamboa Metello de Seixas, presidente da concelhia centrista na Guarda. Ana Isabel Charters é filha de D. Luísa Lasso de La Veja Y Pedroso Charters, viscondessa de S. Sebastião, da Aldeia Histórica de Sortelha.

Ana Isabel Charters, 58 anos, tem duas filhas e cinco netos e pertence a uma família nobre com casa em Sortelha desde o século XIII.
A actual secretária do Presidente do CDS-PP, Paulo Portas, estudou na Guarda até aos 15 anos e terminou o liceu em Lisboa tendo frequentado durante um ano a École Schulz, em Genéve, na Suíça.
No seu curriculum pessoal pode ler-se que iniciou a actividade profissional aos 22 anos no Banco Português do Atlântico onde se manteve até ser convidada para secretária do Ministro das Finanças, João Morais Leitão. Entre 1981 e 83 manteve-se nos gabinetes governativos como secretária de João Salgueiro, Ministro de Estado, das Finanças e do Plano.
Entre 1983 e 88 foi secretária de Álvaro Barreto, primeiro no Ministério do Comércio e Turismo e posteriormente no Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação.
No final de 88 regressou à actividade privada como secretária de administração da empresa Ibercrédito, do Grupo Hispano-Americano onde esteve durante cinco anos.
Em 1993 foi convidada para secretária do Secretário de Estado das Finanças e do Tesouro, Francisco Esteves de Carvalho, onde permaneceu até ao final do mandato.
No mesmo ano participou nas eleições presidenciais como secretária do General Soares Carneiro na sua candidatura à Presidência da Republica (AD) e foi vogal na Junta de Freguesia do Coração de Jesus em Lisboa.
Na nova legislatura foi secretária do líder parlamentar do CDS, Jorge Ferreira, passando a secretária de Paulo Portas quando este assumiu a presidência do CDS em 98 tendo-o acompanhado no Governo como Ministro de Estado, da Defesa Nacional e do Mar. Durante a presidência de José Ribeiro e Castro manteve as funções de secretária do presidente do partido.
– A sortelhense Ana Isabel Charters é, actualmente, secretária do presidente do CDS, Paulo Portas. Como gostaria de se apresentar aos sabugalenses?
– Como uma filha da terra que um dia as circunstâncias familiares obrigaram à migração para Lisboa, que voltou sempre que pôde e que é em Sortelha que se sente em casa.
– A sua candidatura foi conhecida em cima da data limite para entrega dos processos no Tribunal. Porquê?
– Assumir uma candidatura é um acto de responsabilidade. Tenho marido, sou mãe, sou avó, e exerço a minha profissão em Lisboa. Todos estes factores tiveram de ser tidos em conta antes de poder aceitar o convite que me foi feito.
– O concelho do Sabugal tem 40 freguesias. Por que razão apenas constituiu listas em duas delas?
– Eu fui convidada pelas estruturas locais do CDS-PP para me candidatar e sinto-me muito honrada. A constituição das listas e das freguesias onde o CDS-PP concorre não dependeram de mim. No entanto, o facto de o CDS-PP concorrer a algumas freguesias – para além da corrida à Câmara e à Assembleia Municipal – revelam por si só que há um espaço para o CDS-PP e que há quem se disponha a dar a cara por ele: os resultados eleitorais dirão o resto.
– Conhece os elementos do actual executivo camarário? O que pensa da sua gestão?
– Saí daqui depois de ter feito o Liceu na Guarda e hoje sou avó. Passaram muitos anos e, fora de Sortelha, há muitas pessoas que não conheço: os mais novos do que eu, os que vieram de fora, outros que nunca cheguei a conhecer. Mas tenho acompanhado a actividade do Concelho, sempre que aqui venho estou atenta às diferenças, ao que é novo, ao que vai sendo feito, às opções que são tomadas, à velocidade que é imprimida ao que se faz. E, embora acredite sem qualquer dúvida que quem se dedica à política, seja ela local ou nacional, tem sempre a intenção de melhorar a vida das pessoas, dou sempre comigo a pensar no que não foi feito, noutras prioridades e opções, noutra forma de utilizar os dinheiros públicos, no que falta fazer ainda para que a vida no Sabugal possa atraír os mais jovens, possa trazer felicidade aos mais idosos, possa garantir o ganha-pão aos que têm uma família para sustentar.
– Estão em curso obras camarárias para a construção de uma ligação à A23. Concorda com o traçado e com a decisão de ser financiada exclusivamente com dinheiros municipais?
– Não há memória de estrada construída cujo traçado não tenha motivado a contestação de uns e a satisfação de outros. É assim por natureza: uns vêem o traçado beneficiar-lhes a vida e os outros pretendem para si o mesmo benefício, nunca sendo possível agradar a todos. O Concelho tem 40 freguesias e nunca seria possível dar resposta favorável às aspirações de todas elas. Não sou tecnicamente qualificada como o são os engenheiros de estradas e acredito, aqui também, que a Câmara dedicou à ligação à A23 o melhor que podia. Pior que tudo seria não haver ligação nenhuma à A23 ou aguardarmos anos e anos por uma solução que acabaria por atrasar o bem-estar de todos os que aqui vivem. A urgência na realização da obra, de que partilho, poderá ter justificado que a obra seja paga com verbas do orçamento camarário.
– A desertificação é um problema do nosso concelho. No seu programa eleitoral aponta medidas para contrariar o fenómeno?
– O abandono do interior em busca de melhores oportunidades, de acesso à educação para os filhos, de cuidados de saúde para os doentes e os mais velhos, da animação cultural mais alargada que as grandes cidades proporcionam, a par da crise da agricultura tradicional que passava de pais para filhos, levaram os nossos conterrâneos a procurar em Lisboa, no Porto e no estrangeiro o que aqui não encontravam. Eu própria saí daqui. Mas, 35 anos depois da Revolução, há que dizer que o País está mais próspero, está melhor, e oferece uma boa qualidade de vida mesmo no Interior. As novas estradas e auto-estradas tornaram os lugares mais próximos, as novas redes de transportes tornaram as viagens mais cómodas, os hospitais distritais permitem melhores cuidados na saúde, as escolas, as universidades e os institutos politécnicos permitem uma educação qualificada, os centros culturais garantem o acesso à oferta disponível, no supermercado mais próximo encontram-se os mesmos produtos que em Lisboa, no Porto ou em Braga. A pouco e pouco, o Interior vai-se tornando mais atractivo para quem o escolhe.
– Quais são as grandes apostas centristas para o desenvolvimento do concelho?
– O desenvolvimento do concelho passa necessariamente pelo desenvolvimento da economia local e é também por isso que as facilidades de acesso rodoviário são importantes e urgentes. Ninguém vem passar um fim-de-semana a uma unidade hoteleira ou almoçar num restaurante tradicional se gastar metade do tempo no automóvel; e ninguém virá fazer agricultura biológica ou constituir uma empresa de confecção ou de tecnologia avançada se o escoamento da produção não for assegurado de forma rápida e eficiente.
– Se for eleita vereadora assume o lugar?
– De tudo o que afirmei atrás decorre naturalmente que assumirei o lugar para que for eleita.
– Considera que o concelho do Sabugal tem tirado partido de ter Sortelha como uma das Aldeias Históricas de Portugal?
– Penso que ainda há muito a fazer. Sortelha pode ter melhor sorte.
– Vai fazer pessoalmente campanha no concelho? O que gostaria que não acontecesse nesta campanha eleitoral?
– Disse-o já. Eu acredito nos políticos. Acredito que todos os que se entregam à causa pública são bem intencionados e, independentemente do quadrante partidário a que pertencem, merecem admiração e respeito. Pela minha parte, vou dizer aquilo em que acredito e vou escutar as propostas dos meus adversários. Muitas das soluções que propuserem serão certamente importantes e deverão ser introduzidas. Espero que saibam escutar as minhas: a prática democrática passa por aí.
– Nas grandes entrevistas aos outros candidatos não foi colocada a questão dos incêndios. Como analisa os recentes acontecimentos?
– O recente incêndio veio pôr à prova a capacidade da Câmara no apoio directo aos mais prejudicados, nos recursos materiais colocados à disposição, no acesso ao Governo e na rapidez da resposta. No fim do seu mandato a Câmara vai ser julgada no dia das eleições pelo que fez ao longo dos últimos quatro anos e pela forma como soube reagir a esta catástrofe. Que venham todos às urnas e que, livremente, escolham a continuidade ou a mudança.
jcl e plb