João Valente vai prendar-nos com um excelente livro de poesias intitulado Cancioneiro da Raia Morena, a ser apresentado no próximo dia 17 de Fevereiro, pelas 18 horas, no Restaurante O Robalo, Sabugal.
A obra «Grande Cancioneiro do Alto Douro», da autoria de Altino Moreira Cardoso, é o resultado da recolha de música tradicional do Alto Douro, que reúne, em 640 páginas, cerca de 600 canções da Vinha.
A obra é composta por uma introdução histórico-literária, onde se insere uma tese demonstrativa da continuidade das cantigas populares de amigo galaico-portuguesas no cancioneiro do Alto Douro, seguida do Cancioneiro composto por cerca de 600 músicas e letras.
Num ensaio introdutório, o autor, antigo tocador de um rancho do Alto Douro e elemento do Conservatório e da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, estabelece e demonstra, em muitas cantigas do Alto Douro, marcas irrefutáveis da sua origem galego-portuguesa, difundida de Santiago de Compostela para Lamego durante as peregrinações e movimentos militares dos cruzados na fundação de Portugal por D. Afonso Henriques e revivificada nas vindimas, após a fundação da Região Demarcada do Vinho do Porto.
Cantar a Vinha
Vinho fino, vinho fino, de forte, faz-me falar, faz-me alegre, folgazão, só me estrova no andar!… Os olhos da vide choram |
Debaixo desta ramada as videiras dão anéis: por via de ti, menina, sofro as penas mais cruéis! Ó ramada, dá-me um cacho, |
Não se me dá que vindimem videirinha que eu podei: não se me dá que outros logrem quem eu por gosto deixei… A videira sempre chora |
Vinho fino, vinho fino, de forte, faz-me falar, faz-me alegre, folgazão, só me estrova no andar!… – Ó meu rico regadinho, |
– Ó meu rico regadinho, que levas na tua mão? – Um cacho de malvasia para dar ao meu João. Se quereis que eu cante bem, |
Quem quiser que eu cante bem, dêem-me vinho ou dinheiro: que esta minha gargantinha não é forja de ferreiro. As soidades são escuras, |
Venha o copo, venha o vinho, venha mais meia canada: eu cá sem copo não bebo e, sem vinho, não sou nada! O vinho é coisa boa, |
Quando me dói a cabeça e me quer cair ao chão, bebo mais uma pinguinha, quer ela caia, quer não. O vinho das nossas cepas |
Rapazes, quando eu morrer, levai-me devagarinho, fazei-me a cova bem funda, por cima, deitai-me vinho! Já comi e já bebi, |
Muita gente, por ser velha, logo sábia se imagina, o vinho, em novo, é mau, depois de velho, refina. São Miguel, o nosso amigo, |
aps