A gastronomia sabugalense é rica e variada…

Tenho na memória, que na minha aldeia arraiana, Bismula (Sabugal), o primeiro peixe que saboreei foi a sardinha. Naqueles tempos difíceis uma sardinha dava para três irmãos. Actualmente, vendidas aos preços dos Santos Populares, os pobres nem lhes tocam, é só cheirá-las…
A 4.ª Feira das Artes e Cultura e Festas do Bacalhau em Almeida. Reportagem da jornalista Sara Castro e imagem de Sérgio Caetano da LocalVisãoTv (Guarda).
jcl
Alves Redol destacou-se como romancista e dramaturgo, sendo considerado um dos grandes expoentes do neo-realismo literário português. «Barranco de Cegos» é o seu último livro, editado em 1962, e considerado a sua obra-prima. Em sinal diferente das obras anteriores, a intervenção política e social é posta em segundo plano, centrando-se nas personagens e na sua evolução psicológica.
O livro retrata a vida de um rico lavrador do Ribatejo, que simboliza o poder agrário, cuja história Redol relata a partir de 1891, ano da revolta republicana do Porto. Senhor duma vila, dos terrenos envolventes e de toda a gente que ali habita e trabalha, Diogo Relvas era amo implacável, castigando os que lhe desafiavam o poder, mas compensando os que lhe eram inteiramente fiéis.
Cada homem e respectiva família dependiam por inteiro do proprietário, que tudo administrava com mão de ferro. O seu domínio estendia-se pela Lezíria e também por alguns montes no Alentejo, criando gado cavalar e touros bravos, que eram o regalo das corridas de Portugal e de Espanha. Contrário aos avanços da indústria, que em seu entender ameaçavam o poder da lavoura e os bons costumes, embrenhava-se também nas lides da política, intervindo a favor da monarquia, que se queria de novo absoluta para destronar a força dos liberais e dos republicanos. Influenciava os demais proprietários e mantinha apertado controlo aos movimentos da sua descendência, querendo evitar a decadência do seu império.
Senhor de vida austera e regrada, não evitava porém os desmandos dos filhos e demais jovens descendentes dos proprietários da lezíria, que se entretinham em jogos de sorte e de amores fugidios.
A páginas tantas, quando já se inalava o odor da queda da lavoura tradicional, com o avanço do caminho-de-ferro e das fábricas, descreve-se uma caçada às lebres. Seguiam os ilustres monteiros a cavalo e, após um contratempo, os jovens proprietários e sua companheiras, embrenhados na lide, juntaram-se para descansar e retemperar forças. Sendo momento de descontracção, aproveitou-se para comer. Mas, impondo-se ração de campanha, o acepipe não teve ares de fidalguia, sendo antes uma simples punheta de bacalhau, preparada pelo maioral dos campinos, que acompanhara a comitiva.
«O Salsa pusera-se a preparar uma pívea de bacalhau, desfiando-o o melhor que podia, a frio, após o que se dispunha a temperá-lo com bom azeite da casa, vinagre e pimenta de mão larga, boa para puxar a pinga, sim senhor, enquanto outro campino cozia em duas caldeiras de folha, com lume de bosta de boi, o feijão branco e o toucinho que dariam o caldo.
Começara o Salsa a tratar do torricado, cortando fatia finas de pão de milho que torrava em lume brando, e sobre as quais largava um fio de azeite para lhes dar mais sabor.
– Falta muito, maioral? – perguntava a Quintela, a quem o susto parecia ter arrancado um apetite voraz.
– Da minha mão está pronto…
E assim que os vinhos chegaram com o almoço preparado pela cozinheira dos Relvas, abancou perto do lume, comendo o bacalhau desfiado à mão (não havia garfo melhor que o de cinco pontas) e já a inventar novo capricho. Gostava de saber até que ponto fechava os homens na sua mão pequena.
– Quem comer dum lado não pode petiscar do outro. Nada de lambarices…»
«Sabores Literários», crónica de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
A convite da Confraria do Atum de Vila Real de Santo António reuniram-se no sábado, 21 de Novembro, na cidade fronteiriça do levante algarvio 13 confrarias gastronómicas de todo o País. Após ter sido entronizado confrade de honra o presidente do município local, Luís Gomes, aproveitou para divulgar que vai ser criado um núcleo museológico onde o atum será rei. A Confraria do Bucho Raiano do Sabugal marcou presença nas festividades do I Capítulo dos confrades do atum.
A viagem de automóvel até ao Algarve foi longa e molhada. A deslocação teve como objectivo representar a Confraria do Bucho Raiano na jornada de apadrinhamento da recém-constituída Confraria do Atum de Vila Real de Santo António.
Os membros das 13 confrarias convidadas concentraram-se na Praça Marquês de Pombal, sala de visitas da cidade desenhada com ruas perpendiculares e casas de dois pisos pelo secretário de Estado do Reino do Rei D. José I.
Antes do desfile dos confrades trajados a rigor pelo centro urbano até ao Centro Cultural António Aleixo os participantes foram presenteados com uma prova de vinhos e degustação de queijos algarvios numa enorme tenda branca montada no meio da praça.
Após a recepção e as boas-vindas a todos os participantes as confrarias desfilaram pelas principais artérias do centro da cidade até ao Centro Cultural António Aleixo
O protocolo da entronização teve lugar no Centro Cultural António Aleixo e foi antecedido de um prelúdio musical interpretado pelo pianista Osvaldo Azul. O pároco local deu início à cerimónia com a benção das insígnias dos novos confrades.
Após a entronizado como «confrade honorário» o presidente do município local, Luís Gomes, revelou durante o seu discurso que tinha sido dado o primeiro passo para transformar a cidade na capital do atum e conquistar novos visitantes pelo paladar. O executivo camarário tinha assinado – momentos antes – um protocolo que prevê o lançamento de um concurso público para iniciar no primeiro semestre de 2010 as obras do núcleo museológico dedicado ao atum.
Os representantes das confrarias madrinhas – Gastrónomos do Algarve e da Chanfana de Vila Nova de Poiares – discursaram na cerimónia do I Capítulo da Confraria do Atum onde estiveram representadas a Confraria do Bucho Raiano do Sabugal, dos Gastrónomos do Algarve, de Baccus, da Chafana, do Melão de Almeirim, do Velhote, da Lampreia de Penacova, do Bacalhau, do Azeite do Fundão e do Queijo da Serra da Estrela e do Queijo da Ilha de São Jorge.
A ementa do jantar incluiu alguns pratos exótico ou pouco habituais. As entradas tinham Muxama de Atum, Estupeta de Atum, Troncos de Atum com sementes de sésamo e Salada de Atum com couscous. Como pratos principais foram confeccionados Orelha de Atum, Feijoada de Atum, Bifinhos de Atum à Portuguesa e Bifinhos de Atum à Vila Real de Santo António. As sobremesas dividiram-se entre salada de frutas e… gelado de atum.
Segundo o Presidente da Confraria do Atum, Luís Camarada, a jornada teve como objectivos a promoção do atum e da cidade e a conquista para Vila Real de Santo António do título de «capital gastronómica do atum».
Recorde-se que a Confraria do Atum – criada em Outubro de 2008 – já realizou diversas actividades, entre as quais uma Estupeta Gigante e, em Maio de 2009, o I Congresso do Atum que decorreu em Vila Real de Santo António.
O Capeia Arraiana aproveitou para estar à fala com o presidente da Confraria do Atum, Luís Camarada. A entrevista com o principal dinamizador da promoção do atum algarvio vai ser publicada na próxima quarta-feira.
jcl
Segunda-feira é dia de publicar a «Imagem da Semana». Ficamos à espera que nos envie a sua escolha para a caixa de correio electrónico:
capeiaarraiana@gmail.com
Local: Restaurante Sol-Rio, Sabugal.
Legenda: Tertúlia sabugalense da «Punheta de Bacalhau».
Autoria: Capeia Arraiana.
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Junho é mês de santos populares um pouco por todo o País. Lisboa tem o Santo António, o Sabugal e o Porto o São João mas o concelho de Almeida apostou no bacalhau para cativar os espanhóis. A nova receita até já tem marca registada: «O Bacalhau em Estrela.»