Relatório de algumas intervenções dos militares do Comando Territorial da Guarda da GNR e do Serviço da Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA). Destaque para os casos de violência doméstica e a recolha de animais selvagens em diversas localidades do distrito da Guarda.
ALMENDRA e CASTELO MELHOR conceder forais a determinadas aldeias, o Rei reconhecia a sua importância para a defesa do território nacional. Quando essas aldeias entretanto concelhos, perderam essa importância, foram extintos os concelhos. É importante, é necessário, é justo, reavivar a memória dos mais esquecidos.
Ela chama-se Valerie Censier e ele Jorge Ribeiro. Ela é francesa e ele nasceu no Porto. Ela é artista plástica e ele músico. Ambos são vegetarianos. O casal tem um modo de vida adaptado (e actualizado) dos movimentos hippies que promoveram a paz, o amor e o respeito pelos outros e pela Terra. Ainda em comum têm o voluntariado na ASTA. Vivem em Almendra numa casa senhorial que viu transformado o piso térreo em estúdio de som e atelier de cerâmica e pintura. No ar o cheiro a alecrim dá as boas-vindas perfumadas às visitas.
Almendra é uma vila medieval do concelho de Foz Côa, situada na região de Riba-Côa no distrito da Guarda. Apresenta um conjunto de edifícios quinhentistas bem conservados como a Igreja Matriz, a Capela da Misericórdia e um grande número de janelas manuelinas. Em redor podem ser visitados o Parque Arqueológico do Côa, o Museu do Côa, a aldeia histórica de Castelo Melhor e a união entre os rios Côa e Douro. Paisagens magníficas no Douro Internacional que podiam ser admiradas numa inesquecível viagem de comboio que os poderes do Terreiro do Paço entenderam deixar ao abandono. Coisas deste país chamado Portugal que esqueceu e tem medo de promover as regiões raianas da Beira e Trás-os-Montes.
Fomos ao encontro da Valerie Censier e do Jorge Ribeiro que vivem em Almendra, no concelho de Foz Côa. Recebeu-nos sentada na berma da estrada. Após umas boas-vindas calorosas conduziu-nos por uma ruela íngreme onde se sente no ar um suave aroma a alecrim que rodeia a antiga casa senhorial de dois pisos. O sotaque da artista plástica e ceramista Valerie não escondem ao fim de 20 anos de contacto com o portuense Jorge as suas origens francesas. Nos primeiros tempos dividiam-se entre França e Portugal. «Passávamos cá o Inverno. Na minha primeira visita a Portugal apaixonei-me pelos azulejos das estações dos comboios. São simplesmente fantásticos. A minha base de estudo da cerâmica é o azulejo tradicional mas quando comecei a trabalhar em Almendra necessitei de redescobrir as cores, novos materiais numa pesquisa autodidácta», explica-nos Valérie no seu atelier do rés-do-chão onde molda, pinta, coze e seca as suas criações em cerâmica partilhando o espaço com os estúdio de som e os instrumentos musicais de Jorge Ribeiro.
– Os azulejos portugueses eram diferentes? O que sentiu?
– Os azulejos eram muito figurativos e não tinham cores. Apenas o azul e o branco. Os meus vidrados com muitas cores são feitos com uma espécie de pó-cola que depois de misturado em água produz uma textura com cores. A cor final é, por vezes, uma surpresa. A região tem muito barro vermelho, tipo terracota, com magnésio e o barro – vermelho ou branco – também tem a sua influência. Muitas das minhas peças têm tons terra.
– Quanto tempo demora a criar um objecto? São todos para vender?
– Não ligo ao tempo. Depende da ideia. Tenho que passar todos os dias por aqui. A inspiração surge quase sempre e se estou concentrada é mais rápido mas há trabalhos em que paro e recomeço muitas vezes. Tive que aprender a separar-me das minhas peças mas custa sempre muito porque fazem parte da minha essência. Tenho bons preços e o Jorge é muito comercial mas vender arte é muito difícil nos dias de hoje. Gosto muito de viver aqui por detrás dos barrocos mas está a ser difícil sobreviver. Tenho peças expostas à consignação em muitas lojas da região como, por exemplo, na Casa do Castelo no Sabugal.
A arte de Valerie é única e surpreende pelas coloridas pinceladas que se transformam em azulejos vidrados e pelas peças em barro que molda com as mãos. Mais um grande valor artístico escondido em Terras de Riba-Côa.
Jorge Ribeiro é músico e voluntário na ASTA – Associação Sócio-Terapêutica de Almeida, onde formou o grupo musical «Pé Coxinho» com jovens utentes. A associação está localizada muito perto da Cerdeira do Côa na localidade de Cabreira do Côa.
– Há trabalho para um músico nestas terras raianas entre a Beira Alta e o Alto Douro?
– Tenho vários projectos simultâneos em grupo e a solo. Trabalho muito por temas mas há muitos anos que faço músicas e letras de sensibilização ecológica. Os meus espectáculos são um misto de música e teatro. É um processo exigente que me obriga a praticar muito em frente ao espelho. Tenho vários trabalhos em parceria como, por exemplo, «O Burro» com a Associação para a Preservação do Burro ou o «Música Paleolítica» com o Parque Arqueológico do Côa. Mas, claro, gostaria de poder actuar mais.
– É voluntário na ASTA. Pode falar-nos da associação?
– A ASTA é uma associação que lida com jovens com deficiência mental. Uma deficiência não é uma doença é algo que a pessoa vai ter que saber viver com ela até ao final da vida. A nossa intervenção terapêutica vai no sentido de os fazer felizes. Tirei dois cursos e durante cinco anos praticamente vivi na associação. Aprendi muito no contacto pessoal com os companheiros que agora se denominam utentes porque as terminologias vão mudando ao longo do tempo definidas pela Segurança Social. No entanto eu mantenho o termo «companheiros». Dei outro valor à vida e surpreendi-me porque descobri em mim mesmo recursos que não imaginava possuir. Vi com um novo olhar as qualidades e os talentos que têm porque trabalho com eles a música, a dança e a expressão dramática. A Valerie enquanto foi voluntária trabalhou a cerâmica. A associação permite ainda actividades nas áreas da carpintaria, tecelagem e agricultura biológica. Os 33 companheiros são todos diferentes e têm idades entre os 20 e os 35 anos. Há alguns que requerem uma atenção individualizada e a tempo inteiro. A ASTA é praticamente uma utopia. Fica num local ermo e nunca ninguém acreditou que a Maria José iria conseguir construir e organizar uma obra como aquela. Mas aproveito para destacar o senhor Luís Queirós, da Marktest, natural de São Pedro do Rio Seco que ofereceu à ASTA três casas recuperadas no centro histórico de Almeida denominadas «O Canto Com Alma» que vão servir de palco a várias actividades. Além disso como presidente da Fundação Vox Populis lançou o «Prémio Ribacôa» no valor de 10 mil euros para encontrar a melhor ideia para o desenvolvimento de Almeida que foi ganho por um rapaz universitário de Lisboa. Os voluntários da ASTA promovem a igualdade em ambiente terapêutico rural ajudando os companheiros a caminhar em família e comunidade dignificando-os como seres humanos.
Valerie e Jorge. Uma forma (apenas) diferente de viver a vida.
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Contacto atelier: 279 713 335.
Email: jodamusica@hotmail.com
Página Web da ASTA. Aqui.
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O Capeia Arraiana aconselha a leitura da entrevista do mecenas Luís Queirós ao jornal «A Guarda». Aqui.
jcl
Ela chama-se Valerie Censier e ele Jorge Ribeiro. Ela é francesa e ele nasceu no Porto. Ela é artista plástica e ele músico. Ambos são vegetarianos. O casal tem um modo de vida adaptado (e actualizado) dos movimentos hippies que promoveram a paz, o amor e o respeito pelos outros e pela Terra. Ainda em comum têm o voluntariado na ASTA. Vivem em Almendra numa casa senhorial que viu transformado o piso térreo em estúdio de som e atelier de cerâmica e pintura. No ar o cheiro a alecrim dá as boas-vindas perfumadas às visitas.
GALERIA DE IMAGENS – ALMENDRA |
Fotos Capeia Arraiana – Clique nas imagens para ampliar |
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