No tempo em que, assiduamente, habitava a aldeia que me habita, os aldeões desafiavam o inverno em casas de paredes maciças que hoje pouco mais recolhem que silêncios.

Talvez referir, hoje, um sítio onde a escassez de gente constrói silêncios ímpares. Porventura revelar uma aldeia, de rua única, onde hortas incultas são o desboque de travessas estreitas. Quiçá falar de um lugar bucólico que se expõe, serenamente, à tarde fria. Eventualmente garantir que, neste pequeno burgo, existem dois pequenos bares aptos a aviar os sedentos de cerveja, os amantes de bom vinho caseiro ou os viciados em café.
Há muito tempo que as nossas aldeias começaram a sinalizar as suas ruas, largos, praças e becos, de acordo com as suas tradições, costumes, religiosidades, profissões, edifícios e pessoas ilustres. A minha aldeia é das poucas excepções que, no seu mapa toponímico, não tem uma figura destacável.
Nota prévia: este puzzle de imagens sobre a minha aldeia é uma pequena mostra que visa retratar duma forma subjectiva sem atender aos gostos ou estilo de ninguém senão o meu. Tem por fim fazer um repositório do mundo passado e irrepetível…
Subi ao alto das torres de menagem dos nossos castelos, ao cimo das montanhas – assim começa o texto poético de Alcínio, onde se misturam sentimentos de nostalgia, revolta e inconformismo face ao estado das nossas aldeias e ao futuro que as espera.
Estamos em meados do século XVIII. É fulcral a agricultura, apoiada na pecuária, mas também o é a caça e até, em pequeníssima escala, a pesca. Assim se faz a vida: com base na terra, na serra e na água. Ontem como hoje e como há pelo menos três mil anos? É que, por mais tecnologia que exista, a paparoca é sempre feita do mesmo… ou melhor: antes fosse… com tanta dose de químicos, o que por aí se come é cada vez mais de «plástico». Mas volto ao século XVIII: retomo uma parte do material disponível: as respostas que os párocos da zona dão ao Governo do Marquês sobre a vida, os locais e as pessoas daqui. Hoje, vou «pegar» sobretudo nas respostas do Casteleiro e da Moita para a hidrografia e ainda nas do Vale para a orografia da região. De caminho, sugiro que leia a edição n.º 42 do «Serra d’ Opa».
«Haja saúde e coza o forno», sentenciava o nosso povo, querendo afirmar a importância maior que tinha a saúde e o pão, alimento de todos os dias. Em verdade, a alimentação nas aldeias baseava-se no pão, que se embutia só ou com peguilho. Mas para que houvesse pão na mesa, tinha que funcionar o forno, onde era confeccionado.
Na aldeia o forno era comunitário e no seu uso valia o sistema da adua, com regras ancestrais religiosamente cumpridas, para que ninguém se visse privado de usufruir de um bem essencial.
O forno era construção sóbria, normalmente dentro de uma choupana ou casebre, no meio da povoação, para que todos lhe tivessem fácil acesso. Tinha, por regra, uma arquitectura circular, em forma de cúpula, erguida em tijolo-burro. A cobrir a cúpula era colocada uma camada de terra barrenta, o que ajudava a preservar o calor. A parede exterior, que envolvia a cúpula, era edificada em granito ou em xisto, conforme a morfologia do terreno em que assentava a aldeia. O forno tinha apenas uma boca, por onde entrava a lenha, se retirava a cinza, assim como entrava e saía o pão no acto da cozedura. Ao redor tinha pousos de pedra, para aí se colocarem as masseiras, que traziam a massa tendida e levavam o pão no final da operação. Também ao redor existia sempre uma grande pia de pedra, que se mantinha cheia de água, para nela se embeber o trapo com que se varria o forno.
Para cada fornada era necessário aquecer o forno, metendo-lhe dentro mato seco, a que se apichava lume, cabendo ao forneiro voltear o fogo com a ajuda do ranhadouro, ou bulidor, que não era mais que um varapau comprido, manejado com habilidade para rapidamente espalhar o braseiro por todo o espaço interior. Depois de bem aquecido, era preciso retirar os restos da combustão, o que se fazia com o manejo do mesmo ranhadouro. No fim, para limpar os restos de cinza, usava-se o varredouro, ou vasculho, outro varapau, com um trapo atado na ponta, que, encharcado na água da pia, lavava o solo do forno.
Entretanto, já a forneira amassara e tendera o pão, dando-lhe a forma devida, e trouxe-o para junto da boca do forno, dentro de um tabuleiro. O forneiro, com o manejo da pá, ia acomodando o pão, no soalho do forno, chispando depois a porta de ferro, para manter a alta temperatura.
Dado que em muitas ocasiões uma fornada levava pão de mais de uma pessoa, era uso colocar-lhe um sinal identificativo, para não houver enganos. Ao fim de cerca de uma hora, a porta era franqueada, e verificava-se o estado da cozedura. Se dado por apto, o pão era retirado com a pá e colocado no tabuleiro, onde a dona o transportaria para casa.
Em muitas terras, os fornos comunitários tinham proprietário, estando aqui designado um forneiro, que tinha por responsabilidade manusear o equipamento e ainda um joineiro, que era quem tinha a incumbência de arranjar e transportar lenha para uso do forno. Também aqui era livre o acesso ao forno, tendo porém os utilizadores que deixar a «poia», no fim de cada cozedura. Isso era a paga ao proprietário, ao forneiro e ao joineiro e consistia num pão para cada um dos intervenientes referidos.
Geralmente os fornos eram também o local onde a rapaziada se juntava nas noites inverniças, aproveitando o ar quente que ali se sentia. Os fornos eram, assim, um equipamento essencial das aldeias, onde o povo se juntava periodicamente, não apenas para cozer o pão, mas também para falar da vida, conviver, propagar e recolher todas as novidades da terra.
Paulo Leitão Batista
«Há Tourada na Aldeia», do realizador Pedro Sena Nunes, estreou na sexta-feira, 30 de Abril, no Grande Auditório da Culturgest, integrado no Festival Indie Lisboa. No final a plateia, bem composta, aplaudiu durante alguns minutos o documentário que transmitiu – a quem conhecia e a quem não conhecia – o espírito e a alma dos povos raianos. Em foco estiveram as festas e as Capeias Arraianas em quatro aldeias do concelho do Sabugal. «Filmei em treze mas, com muita pena minha, foi impossível colocá-las todas no filme», disse o realizador na breve apresentação antes do início da projecção.
O Grande Auditório da Culturgest recebeu durante o Indie Lisboa 2010 dois filmes documentários que tiveram como pano de fundo as terras raianas do concelho do Sabugal. Na sexta-feira, 23 de Abril, estreou «Muito Além», do realizador luso-alemão Mário Gomes com raízes em Aldeia da Ponte e, uma semana depois, no dia 30, foi a vez do tão aguardado «Há Tourada na Aldeia» que teve como media partner o Blogue Capeia Arraiana.
O realizador, Pedro Sena Nunes, fez uma pequena introdução antes do filme perante uma plateia entusiasta e bem composta com estudantes de cinema, com cinéfilos, com espectadores que nunca tinham ouvido falar de capeias e com muitos raianos como, por exemplo, o professor Adérito Tavares.
Pela tela passaram os momentos marcantes da alma raiana: os encerros, as capeias, as festas de Verão e infelizmente muitas casas de pedra com as portas de madeira definitivamente fechadas. É com muita curiosidade que se vão adivinhando as vozes dos muitos narradores que na primeira pessoa vão esclarecendo o espectador sobre o que vai acontecendo na tela. São muitas as caras conhecidas da Raia que aparecem a legendar as imagens em Alfaiates, nos Forcalhos, em Vale das Éguas (onde assistimos a um monumental banho nas águas do Côa do presidente Fernando Proença) e em Aldeia da Ponte.
No final o realizador foi brindado com uma prolongada salva de palmas reconhecendo que a prova foi superada.
Após a projecção do filme decorreu um debate onde foram colocadas algumas questões a Pedro Sena Nunes.
«Filmei muito. Filmei em todas as aldeias. Em todas as aldeias encontrei e lidei com particularidades únicas. Mas, com muita pena minha, quando começámos a montar percebemos que era impossível mostrar as 13 aldeias onde estivemos. O cinema é feito de decisões e, infelizmente, algumas pessoas ficaram de fora», começou por explicar o realizador.
Uma espectadora – que reconheceu nunca ter ouvido falar em capeias – quis saber se já conhecia a região raiana e as «estranhas» touradas que felizmente não magoavam o animal. O cineasta esclareceu que «é um olhar sobre uma região que não é a minha» acrescentando que «o filme sobre as capeias faz parte de um projecto mais amplo denominado Microcosmos, uma colecção de olhares sobre o meu país»
O projecto Microcosmos é uma série de documentários. Um documentário por província. Já foram feitos filmes em Trás-os-Montes, Minho, Beira Litoral, Beira Baixa e Algarve e agora, para simbolizar a Beira Alta, o cineasta escolheu as capeias da Raia sabugalense.
«A memória de um país pode e deve ser retratada de forma directa. Quero filmar nos labirintos da memória».
«Neste trabalho estiveste mais distante, não te envolveste tanto», observa outra espectadora. «Sim, achei que devia deixar falar os da terra e penso que consegui. Não foi necessário narrador. A história é contada pelos olhos de quem a conhece e dos mais diversos pontos de vista».
Questionado sobre como tinha sentido a desertificação das aldeias que filmou o realizador Pedro Sena Nunes respondeu: «Vivi a realidade das festas de Verão e do mês de Agosto e sei que tudo se altera nos restantes onze meses do ano. A desertificação é um facto mas não quero acreditar que um dia apenas se vai ouvir falar francês aos rapazes que agarram ao forcão».
O professor Adérito Tavares, especialista em capeias, aproveitou para dar os parabéns ao realizador e para destacar um momento mágico: durante um eterno minuto a imagem «fica em câmara muito muito lenta» e todos os espectadores param de respirar enquanto assistem «à luta» entre o touro encornado nas galhas medindo forças, olhos nos olhos, com os rapazes que agarram ao forcão.
O filme «Há Tourada na Aldeia» podia perfeitamente chamar-se «Terras do Forcão». Ao longo da projecção vivemos dois sentimentos intensos. Por um lado interpretar a «visão de fora para dentro» de um realizador que soube colocar na tela toda a nossa alma raiana e por outro perceber em cada novo plano que estávamos perante um trabalho que irá fazer parte do património cultural da Capeia Arraiana e do Sabugal.
E porque há factos que são notícia… ouvimos o realizador afirmar que teve o apoio de todas as autarquias onde filmou os outros documentários do projecto Microcosmos e na Câmara Municipal do Sabugal, entre 2008 e 2009, sempre se recusaram a recebê-lo. Na ficha técnica apenas surge uma breve referência ao nome de António dos Santos Robalo. Curiosamente a newsletter da Câmara Municipal do Sabugal destaca a estreia de «Há Tourada na Aldeia» e ignora «Muito Além» que também foi filmado em terras raianas. Ele há coisas…
jcl
Sexta-feira, 29 de Agosto de 2008, 15 horas. Data histórica para os de Aldeia de Santo António. As sensações e as emoções estavam à flor da pele. O sonho de alguns, liderados por Joaquim Ricardo, tornou-se realidade. Tinha chegado a hora de inaugurar as instalações do Lar da Liga dos Amigos de Aldeia de Santo António que acrescentará mais qualidade de vida à população idosa da freguesia.
A inauguração do Lar da Liga dos Amigos de Aldeia de Santo António teve início com a cerimónia religiosa que contou com uma presente muito especial: o reverendo Padre Soita, antigo pároco de Aldeia de Santo António, que apesar de retirado para um merecido descanso no Colégio da Cerdeira não quis deixar de se associar a este momento histórico.
A cerimónia oficial contou com a presença do Secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, da Governadora Civil da Guarda, Maria do Carmo Borges, do Vereador António Robalo em representação do presidente da Câmara Municipal do Sabugal, e do representante da Direcção-Geral da Segurança Social da Guarda.
Após a recepção de boas-vindas, foram asteadas as bandeiras de Portugal, da Uniao Europeia, do Município do Sabugal e da Liga dos Amigos de Aldeia de Santo António.
Nos jardins envolventes do edifício uma pedra gravada fica a testemunhar e perpetuar o momento. O acto simbólico de descerramento, apadrinhado por Joaquim Ricardo, esteve a cargo do Secretário de Estado, Pedro Marques.
A sessão solene decorreu no auditório do Lar com discursos do Presidente da Liga, Joaquim Ricardo, do Vereador António Robalo e do Secretário de Estado, Pedro Marques.
No final, um lanche permitiu a todos os presentes conviverem em clima de orgulhosa satisfação.
O Lar da Liga dos Amigos de Santo António é, agora, uma realidade oficial com capacidade para 21 utentes em regime de internato, 15 no Centro de Dia e 30 com apoio domiciliário. Mas o mérito da iniciativa tem ainda mais um número muito importante: foram criados 20 postos de trabalho directos.
E terminamos com chave de ouro. Com o nome dos fundadores. Joaquim Fernando Ricardo, Alexandre Manuel Neca, José Soares Ricardo, António Vinhas Ricardo, José Joaquim Mota, José Jorge, Leonel Francisco, Alexandre Birra e José Pires Ricardo.
Leia o discurso de Joaquim Ricardo, Presidente da Direcção do Lar: aqui.
O Capeia Arraiana associa-se ao marcante momento felicitando em nome de todos os que tornaram o sonho em realidade e dos obreiros-fundadores do projecto o seu grande protagonista: Parabéns Joaquim Ricardo.
jcl
GALERIA DE IMAGENS – 14-8-2008 |
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Fotos Capeia Arraiana – Clique nas imagens para ampliar |
Aldeia de Santo António – «Agora há outras pontes, mas esta, do Sabugal, é mítica: abriu as portas de Portugal a Ribacôa e as portas de Ribacôa a Portugal.» Assim pensava e escrevia recentemente mestre Pinharanda Gomes na sua crónica dominical. De facto quando se fala de Aldeia de Santo António é obrigatório falar da ponte que une e… divide como nenhuma outra as duas margens da Côa porque… para lá da ponte mandam os que lá estão. Mais do que uma rivalidade ou uma guerrilha é o orgulho do «Bairro da Ponte» que vai passando de geração em geração ao jeito de sentido de vida.
Fomos até Aldeia de Santo António para dar continuidade ao tema «Equipamentos Sociais nas Freguesias do Sabugal» recuperados ou construídos, desde 2001, pelas Juntas de Freguesia ao abrigo das delegações de competências, atribuição de verbas e apoio suplementar da Câmara Municipal.
Encostado ao cajado enquanto olhava de soslaio para o carro que acabava de parar a poucos metros o pastor aguardou para perceber ao que vinhamos. As ovelhas e as cabras fizeram, também, uma pausa na escolha das ervas que iam petiscando no verde lameiro junto a um bonito fontanário empedrado.
Estávamos junto ao edifício da sede da Junta de Freguesia de Aldeia de Santo António, presidida por Maria Delfina Alves. Aldeia de Santo António é uma das 40 freguesias do concelho do Sabugal e inclui as localidades de Urgueira, Alagoas e Ameais.
O edifício rasteiro, cor de cal, está «escondido» pelo arvoredo verdejante e fresco. Observado exteriormente apresenta-se com bom aspecto. Recuperado pela Junta de Freguesia serve actualmente como auditório, posto médico (dependendo da afluência de utentes) e como assembleia de freguesia.
Não muito longe crianças a brincar provocam um som cada vez mais raro nos tempos que correm. São os miúdos de Aldeia de Santo António, Sortelha e Bairro da Ponte que utilizam um moderno infantário construído de raiz na sequência de uma candidatura ao POCentro3.
«Tivemos a capacidade de ir buscar cerca de 20 milhões de euros ao QCA3-POCentro que incluía sub-programas e eixos comunitários para infra-estruturas de saneamento básico», esclareceu-nos, depois, o Presidente Manuel Rito Alves a propósito do Jardim de Infância.
E porque o Bairro da Ponte tem a sua identidade própria foi construído na estrada de acesso à Senhora da Graça um pavilhão cultural que serve para reuniões, para torneios de sueca e como secção de voto nas eleições.
A freguesia de Aldeia de Santo António tem muitos «bairros» e identidades. O Bairro da Ponte do Ti Zé Ricardo, o Bairro da Sacor do meu amigo Paulo Leitão, a estrada da Senhora da Graça, a estrada para Santo Estêvão ou a estrada para Sortelha. Todos diferentes e todos iguais até porque nos permitem avistar em inúmeras perspectivas (qual delas a melhor) o castelo que há só um em Portugal.
jcl
É já neste domingo, dia 1 de Junho, no dia a seguir à Capeia Arraiana no Campo Pequeno, da Casa do Concelho do Sabugal que vai ter lugar na Escola Agrícola da Paiã, na Pontinha, o tradicional «Pic-nic de Aldeia da Ponte em Lisboa».
Como manda a tradição, esta realização anual já se realiza há mais de 50 anos, inicialmente com o encontro de conterrâneos, num restaurante da zona de Lisboa, para um almoço, prolongando-se durante a tarde.
A partir do ano de 1973, deu-se a mudança para «pic-nic», com o primeiro, desta nova era, a ser efectuado no Parque de Monsanto, casa habitual dos «pic-nics» da nossa Aldeia.
Há uns anos a esta parte, as dificuldades em conseguir Monsanto têm-se tornado difíceis ou incompatíveis com os anseios da nossa gente, por um motivo ou por outro, razão pela qual se tem variado o local de realização, cada ano que passa.
Como habitual, o programa contempla todos os ingredientes inerentes a esta realização, com a abertura do jogo de futebol, «Casados-Solteiros», seguindo-se o almoço.
Pela tarde, a criançada terá as suas afamadas corridas, bem como os jogos habituais para os adultos, seguindo-se o convívio habitual destas realizações.
Esteves Carreirinha
Aldeia da Ponte – Se dúvidas houvesse sobre a natureza raiana dos de Aldeia da Ponte elas ficam desfeitas quando se avista um estranha parede em pedra granítica que dá forma à Praça de Touros.
Quem entra em Portugal pela fronteira de Vilar Formoso e escolhe a direcção do Sabugal, passa pela estação da CP onde a história está contada em azulejos e cruza com a velha locomotiva BA101 da linha da Beira Alta. Silenciosa e imponente descansa agora, resguardada de vandalismos, recordando-nos outros tempos e a importância que o caminho-de-ferro teve no desenvolvimento da nossa região.
Avançando pela estrada nacional 332 com os marcos fronteiriços por companheiros de janela avistamos alguns quilómetros à frente ao desfazer uma curva rápida uma estranha parede granítica no cimo de uma elevação. Alta e circular com portões de dimensões generosas destaca-se do casario e da longa planície que se estende a perder de vista até terras espanholas. Estamos em Aldeia da Ponte cujo nome deriva de uma ponte romana sobre o rio Cesarão classificada de interesse público pelo Instituto de Património Cultural. Terra raiana de encerros e de capeias que se orgulha de possuir uma singular praça de touros. Obra do querer e da vontade das suas gentes incentivadas por António Chorão, reconhecido aficionado da festa brava.
Mas o nosso destino é o equipamento social junto ao longo lameiro onde as peripécias do aviador Raul da Casaca Azul foram descritas de forma superior pelo Esteves Carreirinha nosso companheiro de lides aqui no Capeia Arraiana.
Junto aos ringues de futsal na sede da Associação dos Amigos de Aldeia da Ponte tinhamos à nossa espera o jovem presidente da Junta de Freguesia José Francisco Martins Nabais.
Afável no trato guiou-nos, orgulhoso, pela obra feita e falou-nos das infra-estruturas que os habitantes de Aldeia da Ponte têm ao seu dispor em toda a aldeia.
O complexo desportivo arrancou com uma candidatura da Associação e do Governo Civil da Guarda através da DRAOT-Direcção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território e apoiada pela Câmara Municipal do Sabugal.
No final de 2001 a primeira fase do complexo desportivo foi ampliada para o dobro do espaço e passou a incluir os ringues de futebol e os balneários e a sede com bar e salão polivalente.
Em 2004 foi remodelado o piso sintético do ringue de futebol para evitar mazelas e lesões nos craques futebolistas. Encostados à parede da sede entram em jogo na terceira parte os assadores e o balcão de finos e refrigerantes.
«Para concretizar estes objectivos tivemos todo o apoio da autarquia. Aproveitámos a delegação de competências, a transferência das verbas que nos foram destinadas e o acompanhamento burocrático por parte dos serviços camarários. Estas instalações são frequentadas todos os dias e em especial ao fim-de-semana. Temos um professor que vem dar aulas de ginástica duas vezes por semana. Tem alunos de todas as idades e o ambiente é espectacular», diz-nos com satisfação José Francisco Nabais.
«O Bar é explorado pelos mordomos das Festas de Santo António que promovem aqui festas na passagem de ano, baptizados e os bailaricos da festa do Santo Cristo a 13 de Maio», acrescenta o autarca pontense recordando a famosa discoteca improvisada do mês de Agosto onde foram batidos os records de venda de minis no concelho.
Aldeia da Ponte dispõe de um moderno espaço associativo, cultural, desportivo e social muito acolhedor e funcional rodeado pela natureza e a poucos metros da mítica raia.
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Na minha meninice, eu e os meus primos, vinhamos pelos caminhos de terra batida até estes lameiros de Aldeia da Ponte. Atávamos os burros junto à raia e iamos a pé até Albergaria onde comprávamos pão e outros produtos que escasseavam em Portugal. O regresso era mais penoso porque os burros iam carregados com os alforges cheios e nós tinhamos que voltar pelo nosso pé. Um dia de aventuras «adrenalinado» com a sombra dos fantasmas dos guardas-fiscais e dos carabineiros.
jcl