O grande Mestre da Filosofia Portuguesa, Pinharanda Gomes, natural de Quadrazais, publicou um ensaio notável acerca das linhas mestras do pensamento de Agostinho da Silva, um dos maiores pensadores lusófonos e profeta do mundo a haver.
«Agostinho da Silva – História e Profecia» é o título do ensaio sobre o filósofo nascido no Porto em 1906 e falecido em Lisboa em 1994, que passou parte da infância em Barca d’Alva, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo.
O ensaio fala das ligações de Agostinho da Silva à Escola Portuense, fundada por Leonardo Coimbra. Homem sonante do movimento da «Renascença» em Portugal, Agostinho da Silva levou para o Brasil a «Renascença Portuguesa», cujos valores transmitiu e fixou, especialmente através da chamada Escola de S. Paulo. Foi com o filósofo Agostinho que se renovou a «filosofia luso-brasileira».
Pinharanda Gomes relembra no seu ensaio que o grande legado de Agostinho da Silva foi «uma Filosofia da História, que entrança a finitude humana com a infinitude divina», segundo o mesmo ponto de vista de filósofos da Renascença, como Leonardo Coimbra, Teixeira Rêgo, Álvaro Ribeiro ou José Marinho.
O livro fala-nos também da «projecção do mundo novo, ou mundo a haver, a missão portuguesa», que Agostinho da Silva defendia. Um mundo centrado no Atlântico Sul, a «Lusitânia», onde o filósofo antevia como «o mundo a vir, sem lhe fixar datas aritméticas, pois esse mundo é um clima de vida e não uma época», numa espécie de messianismo português.
George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto em 1906, tendo-se nesse mesmo ano mudado para Barca d’Alva, onde viveu até aos seus 6 anos, regressando depois ao Porto. Dono de um percurso académico notável, cursou Filologia Clássica, tendo concluído a licenciatura com 20 valores. Com apenas 23 anos, defendeu a sua dissertação de doutoramento a que dá o nome de «O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas», doutorando-se «com louvor».
Foi para Paris, onde estudou como bolseiro na Sorbonne e no Collège de France. Regressou a Portugal e passou a leccionar numa escola secundária de Aveiro, até que, em 1935, foi demitido do ensino oficial por se recusar a declarar por escrito que não participava em organizações secretas e subversivas. Foi para Espanha, mas regressou com a eclosão da guerra civil.
Em 1943 foi preso pela polícia política e, no ano seguinte, saiu de Portugal no seguimento da sua oposição a Salazar, passando pelo Brasil, Uruguai e Argentina. Acabou por se instalar no Brasil, onde viveu até 1969. Deu aulas em diversas universidades brasileiras, ajudando à fundação de algumas delas e foi assessor do presidente Jânio Quadros.
Regressou a Portugal após a queda de Salazar e começou a leccionar em diversas universidades portuguesas.
A fase mais popular de Agostinho da Silva foi quando, em 1990, apareceu na televisão, numa série de treze entrevistas, denominadas Conversas Vadias.
Agostinho da Silva é tido como um dos principais intelectuais portugueses do século XX. Da sua ampla bibliografia, destaca-se o livro «Sete cartas a um jovem filósofo», publicado em 1945.
plb