Em tempos recuados o Homem vivia sobretudo no campo, em estreito contacto com a Natureza, sujeito aos seus desmandos e caprichos, perante os quais era bastas vezes impotente. Para se proteger dos rigores climatéricos, dos temores da noite, do ataque de animais ferozes e de gente inimiga, procurava refúgio em abrigos naturais.
O troglodita alapardava-se em cavernas, grutas ou árvores ocas, aproveitando o que a Natureza lhe oferecia de mão beijada. Mas com o tempo aprendeu a dominar o meio, começando a edificar toscos abrigos, de muito precárias condições. De qualquer forma, eram uma resposta à necessidade de protecção temporária e ocasional, em locais onde o meio não oferecia amparo natural.
A verdade é que a construção de alguns desses toscos abrigos perdurou ao longo dos tempos. Estavam quase sempre ligados a uma actividade campestre, fosse pastoreio, caça, vigia de terrenos, ocupações que careciam de protecção em determinados momentos. Em muitos casos o aproveitamento da forma de um penedo ou de uma árvore, dava lugar a construções semi-naturais. Bastava o levantamento de uma parede ou o encosto de uma sebe de paus entrelaçados para se criarem condições de protecção.
Mas para além dessa construção semi-natural, extremamente tosca, havia também um conjunto de refúgios melhor arquitectados, ainda que igualmente rudimentares. Para abrigo de uma borrasca os pastores e cavadores erguiam exíguos refúgios em pedra, na forma de nicho, onde um homem cabia à justa, de pé ou agachado. Ainda hoje há desses abrigos ao redor dos caminhos, aguardando inevitável derrocada.
As pedras que foram as paredes destas «casotas» jazem amontoadas em carambola. A forma é arredondada ou de implantação quadrangular, sendo a cobertura constituída por grossas lascas encasteladas em falsa cúpula. Por norma um dos lados é aberto, sem qualquer porta.
Para além desses abrigos com cobertura há ainda, sobretudo em zonas planálticas, os chamados malhões. Trata-se de simples muros de pedra apinhada, de forma direita ou arredondada, sem qualquer cobrimento. Encostados aos malhões os camponeses protegiam-se do vento cortante e do sol abrasador. Por isso é ainda hoje vulgar encontrar vestígios destes abrigos, embora difíceis de identificar por se tratarem de simples amontoados de pedra solta, aparentemente sem qualquer finalidade prática.
A corrida à pedra de granito, transportada em plataformas para Espanha e outros destinos, selvaticamente sugada aos campos do planalto beirão, está a destruir estes importantes vestígios da arquitectura popular.
Paulo Leitão Batista