O Chico não gozava de grande fama. Conheciam-no pelas rixas que provocava…

As nuvens refaziam-se em grupos enegrecidos ameaçando ofuscar a claridade celeste. Dir-se-ia que a natureza já previa o desfecho e que o chão se dispunha a receber a chuva exalando, de antemão, um intenso odor a terra malhada…
Não sei por que obtusa razão eu cheguei a convencer-me de que era um expedito pescador desportivo. Treinava as funcionalidades piscatórias sob os freixos da Ribeira da Pega, à sombra dos amieiros da Ribeira das Cabras e, mais esparsamente, nas margens do Côa.
Era uma carreta de nariz comprido sob dois minguados para-brisas que lhe sugeriam um olhar meditado. Porém, vestia-se de um cinzento astuto que tanto reluzia ao sol como se ofuscava com penúria de luz. Surgia do imprevisto, da circunscrição do Monte do Jarmelo, num rolar travado.
O tempo até parece perfeito. Alternam-se verões e invernos. Intercalam-se outonos e primaveras. Confrontam-se frios e calores. As secas abeberam-se em chuvas. Crescem os dias ao invés das noites. Inverte-se o crescimento e minguam os dias enquanto medram as noites. Tudo se encaixa dogmaticamente e se prefigura como se fosse infalivelmente programado.
O Zeca Testas usufruía de uma fronte exagerada e plana o que, no dizer do povo, indicia inteligência. Apesar disso, usava, em jeito de disfarce, uma boina azul, grande, suja e gasta. O nariz apontava-lhe, a custo, sob a pala e, os respiros ínfimos e sucessivos, trejeitavam um sensor ressonante. O casaco, espesso, descaia-lhe para a direita e arrebitava-se-lhe do lado esquerdo.
Neste suceder de manhãs que o inverno nos garante, impõem-se cautelas face a frios desmedidos. Contudo para quem colha, na imagem da montanha, um alento de vida, não haverá contrariedade que consiga roubar-lhe o gosto pelos horizontes montesinos.