Category Archives: Lembrando o que é nosso

Novela na Raia – Prefácio
No Verão passado o Augusto Simão, que tem acompanhado os meus artigos aqui no Capeia Arraiana, apreciando-os, lançou-me um repto em Quadrazais: «Por que não escreves um romance sobre Quadrazais. Tu é que és a pessoa indicada para o fazer.» Não estando á espera dum repto desses, fiquei sem saber o que responder, senão um «Talvez!» sem convicção. A ideia ficou cá no fundo da memória, sem grande probabilidade de a trazer ao de cima.

Homenagem a outro símbolo da Raia – o(a) Burro(a)
Quantas alegrias deste à garotada por uma cavalada! Se acompanhávamos os pais ou só a mãe para um prédio mais longe, como o Covão, tinhas de carregar com os 4 ou, pelo menos, com 3, um sobre o teu pescoço e o último quase a cair do rabicho. Eras o meio de transporte de pessoas e materiais. Eras tu que carregavas com as andilhas com 4 cântaros cheios de água que daria de beber aos donos ou serviriam para fragar a casa. Mas também com as cangalhas, quando era preciso carregar esterco, palha ou lenha. Também te punham os alforges para ires ao mercado e vires de lá carregado de coisas que alegrariam a criançada e abasteceriam a casa. Melancia, melão, cerejas, frutas diversas, cebolas, feijões, pífaros de barro, e sei lá que mais! Alguns até te arranjavam um carrito ou carroça para transportares mais coisas. Coitado de ti! Confundiam-te com uma vaca ou um macho.

Ode ao Castanheiro
Não queria iniciar novo tipo de escritos, estes já não sobre Quadrazais mas mais ligados à minha vida de jovem aventureiro, sem dedicar um texto à árvore que alimentou os quadrazenhos e outros povos da Raia de Riba Côa e outras regiões de Portugal durante anos, quiçá durante séculos, enquanto a batata não chegou à Europa e a par desta depois da sua introdução em Portugal. Quadrazais, terra de castanheiros ancestrais como haverá poucas, tinha de viver das castanhas. Cruas, cozidas, assadas, pisadas, em caldudo e a qualquer refeição. Que bom aquecer as mãos ao debulha-las saídas do assador que repousa sobre o lume! Até puxam por uma copa de aguardente! E nunca aí se matou alguém por causa das castanhas.

Cruzes e Cruzeiros em Quadrazais
Por se celebrar o dia de Santa Cruz em 3 de Maio, vou dedicar este meu artigo às cruzes e cruzeiros em Quadrazais. Como em outras terras, sempre que alguém morria de morte natural, mas sobretudo de morte violenta, acidente ou morte matada, como dizem os brasileiros, era hábito colocarem uma cruz no local, hoje substituídas por ramos de flores. Isto se os mortos fossem adultos e da terra. Por isso o Moca da Torre, que foi morto à entrada do caminho para o Ozendo, à Desperdiz, onde hoje está a casa da ti Alice, por ser da Torre não teve direito a cruz no local. O Moca tinha matado o Diamantino e é possível que tenha havido vingança dos torrenhos.

Calçadas e calçadinhas
Calçada é uma rua empedrada. Inspirou poetas, como António Gedeão, falando da calçada de Carriche, em Lisboa – «Sobe que sobe, Luísa sobe, sobe a calçada!» – diz o poeta. Outras calçadas existem em Lisboa, umas com história, outras nem por isso. Nas primeiras incluirei a Calçada do Carmo, onde fica o quartel general da GNR, onde se refugiou Marcelo Caetano e Américo Tomás no 25 de Abril de 1974; a Calçada do Combro, onde fica um quartel da GNR, instalado no antigo convento de Stª Catarina; a Calçada da Estrela, que vai da Rua de São Bento até ao Largo da Estrela, ficando à sua direita a Assembleia da República e a morada do primeiro-ministro; a Calçada do Grilo, onde existia o convento dos frades grilos; a Calçada da Ajuda, onde ficam vários quartéis, o de Cavalaria 7 e o de Lanceiros 1, entre outros, não estivesse ao lado o Palácio de Belém, morada dos Presidentes da República e perto do Palácio da Ajuda, morada dos últimos reis, que era necessário proteger. De menor importância histórica serão a Calçada da Boa Hora, a Calçada do Marquês de Abrantes e muitas outras.

O Padre Velho
Como escrevi na página 61 do 1.º volume da minha obra «Para que não se Perca a Memória de 400 Anos de Vida em Quadrazais», em 1893, por decreto de 29/4, foi nomeado pároco colado de Quadrazais, José António Gonçalves de Aragão, a quem o rei D. Carlos concedeu, em 7/7/1893, a mercê de «o bispo da Guarda o apresentar na igreja paroquial de Nossa Senhora da Assunção, de Quadrazais, vaga de pároco colado, devendo gozar de todos os proventos, como pároco da mencionada igreja e bem assim de quaisquer honras e prerrogativas que a elas andarem legalmente anexas, ficando, contudo, sujeito a qualquer alteração que, de futuro, possa vir a ser competentemente feita na circunscrição paroquial». O texto desta mercê concedida pelo rei D. Carlos, que se encontra na Torre do Tombo, em Lisboa, vem transcrito na pág. 321 do terceiro volume da minha citada obra.

Quadrazenhos que foram Guardas da Alfândega (2)
Na semana passada tive a agradável surpresa de receber cópia da «Relação Geral dos Empregados e Guardas da Fiscalisação do Contracto de Tabaco e Sabão da Repartição do Sul e Ilhas», que me havia sido prometida pelo Dr. Rui Carreteiro, funcionário da Fundação Eugénio de Almeida, com o meu compromisso de não a publicar ou reproduzir. Por isso, apenas poderei falar dela e comentar o que respeita aos guardas quadrazenhos. Por falar em Repartição do Sul e Ilhas, leva a crer que haveria uma Repartição do Norte e Centro. A meu pedido, o Dr. Rui Carreteiro informou-me no passado dia 10 de Abril que um incêndio nas instalações em Lisboa, no séc. XIX, destruiu muita documentação, incluindo possíveis relações de empregados do Norte e Centro. Uma pena!

Quadrazenhos que foram Guardas da Alfândega (1)
Já havia encontrado nos arquivos paroquiais no séc. XIX um quadrazenho como Guarda do Tabaco, o que muito me intrigou, até porque nenhum documento na Torre do Tombo fala desta actividade por parte de quadrazenhos.

Ai que saudades da minha infância! (2)
HOMENAGEM AO MEU TIVOLI – Nas aldeias quase todas as famílias têm animais: um burro, um cão ou um gato. Quem tem espaço em frente da casa, o curral, e um telheiro (cabanal) tem ainda um cavalo, galinhas e, às vezes, coelhos, patos, perús ou mesmo gansos. Antigamente usavam a loije, andar térreo, para as vacas, burros ou cavalos. É o que acontecia frequentemente com os lavradores que tinham vacas. Havia quem tivesse galinhas ou porcos num pequeno espaço debaixo da escaleira (no poleiro das pitas) e (na cortelha), que se passeavam durante o dia pelas ruas, tal como os cães. (Parte 2 de 2).

Ai que saudades da minha infância! (1)
HOMENAGEM AO MEU TIVOLI – Nas aldeias quase todas as famílias têm animais: um burro, um cão ou um gato. Quem tem espaço em frente da casa, o curral, e um telheiro (cabanal) tem ainda um cavalo, galinhas e, às vezes, coelhos, patos, perús ou mesmo gansos. Antigamente usavam a loije, andar térreo, para as vacas, burros ou cavalos. É o que acontecia frequentemente com os lavradores que tinham vacas. Havia quem tivesse galinhas ou porcos num pequeno espaço debaixo da escaleira (no poleiro das pitas) e (na cortelha), que se passeavam durante o dia pelas ruas, tal como os cães. (Parte 1 de 2).

Termos castelhanos usados em Quadrazais e na Raia (2)
PREFÁCIO. Desde pequeno que, na aldeia, sempre ouvi gente pronunciar palavras espanholas ou que eu pensava serem espanholas. Não era para admirar, dado o contacto diário com Espanha por parte dos contrabandistas ou de todos os que diariamente atravessavam a raia para comprar um trigo, uma lata de azeite, uma boina, um véu ou, simplesmente, uns caramelos. (Parte 2 de 2).

Termos castelhanos usados em Quadrazais e na Raia (1)
PREFÁCIO. Desde pequeno que, na aldeia, sempre ouvi gente pronunciar palavras espanholas ou que eu pensava serem espanholas. Não era para admirar, dado o contacto diário com Espanha por parte dos contrabandistas ou de todos os que diariamente atravessavam a raia para comprar um trigo, uma lata de azeite, uma boina, um véu ou, simplesmente, uns caramelos. (Parte 1 de 2).

História da morte da Senhora Albertina do Chico
Certa tardinha de Inverno cai um daqueles nevões frequentes no Quadrazais de antanho, de cujos efeitos bem me lembro. Mas o quadrazenho tinha de viver e não seria a aproximação de um nevão que o impediria de calcorrear os caminhos de Valverde, de carrego às costas, que lhe mataria a fome por uma semana.

Quadrazais – Arrolamento dos bens da Igreja (2)
O arrolamento dos bens da Igreja de Quadrazais está registado num documento dactilografado que se encontra na Biblioteca Central do Ministério das Finanças. Os documentos foram transcritos tal como foram escritos inclusive com os erros que contêm. (Parte 2 de 2).

Quadrazais – Arrolamento dos bens da Igreja (1)
O arrolamento dos bens da Igreja de Quadrazais está registado num documento dactilografado que se encontra na Biblioteca Central do Ministério das Finanças. Os documentos foram transcritos tal como foram escritos inclusive com os erros que contêm. (Parte 1 de 2).

O João Troncho
Por ser meio-irmão de outros filhos do casal, sentiu-se sempre posto de lado. Trabalhar não era muito do seu jeito, pelo que enveredou por negócios ilícitos de contrabando, não tivesse ele no sangue esse modo de vida do quadrazenho. Não seria, certamente, a primeira vez que transportara tabaco ou outros produtos para Espanha. Desta vez, porém, quis arriscar mais…

História Breve – O Raúl
O Raul, filho da Ti Sansão do Tonhinho, que tinha vacas a meias com o António Mocho, à falta de quem andava normalmente com as vacas, vai dar a jeira ao Lourenço Meneiro, sobrinho da Telvina Meneira, que morreu ou mataram em terras de Espanha, onde vivia havia muitos anos com a ocupação de pastor.

O Guto
Como a grande maioria dos quadrazenhos sem grandes terras que mantivessem uma família e ocupasse os seus membros no amanho daquelas, o Augusto, após ter acabado a escola, começa a calcorrear as veredas para Espanha, donde trazia a sua lata de azeite, uma boina, um frasco de Ceregumil, um saquito de pimentão e um ou dois pães de trigo, senão ainda algum corte de pana para umas calças ou casaco e um outro véu, se lho encomendassem.

O Enchopipo
Dos nascidos em Quadrazais, é o único José que ficou conhecido por Tché. Terceiro varão do Mérico Barreiro e da Aurora Patchinha, tornou-se personagem típica em Quadrazais.

Quando meu pai era vivo…
…Felizmente, pelo Natal, o madeiro à praça aquecia todos os que a ele se chegassem, já que o espírito do madeiro era aquecer o Menino que nascera no frio. E até dava para levar umas brasas para casa para aquecer a casa…

O Pão-Leve
Era costume dar como prenda um pão-leve a quem casasse, ao médico ou a pessoa a quem se devia grande favor, já que os custos com ovos, farinha e açúcar eram insuportáveis para gente tão pobre para o poder ter frequentemente à mesa.

O perigo das guardas das escaleiras
As casas antigas de Quadrazais dos remediados ou mais abastados tinham a loije no rés-do-chão e acedia-se ao 1.º andar por uma escaleira exterior, em cantaria. Em frente à porta faziam uma espécie de balcão que era delimitado pelas guardas, uma pedra de cantaria de cerca de meio metro de altura e um metro ou mais de comprimento em frente da porta e outra um pouco mais curta atrás.

Novo Dicionário da Gíria Quadrazenha (3)
«Novo Dicionário da Gíria Quadrazenha – Português/Gíria». São 613 termos no total, sendo 365 criados por mim (os antecedidos por asterisco). (Da letra R à letra Z.)

Novo Dicionário da Gíria Quadrazenha (2)
«Novo Dicionário da Gíria Quadrazenha – Português/Gíria». São 613 termos no total, sendo 365 criados por mim (os antecedidos por asterisco). (Da letra E à letra Q.)

O Cristão
Apesar de ser natural do Soito, viveu em Quadrazais muitos anos, ocupando-se do amanho de terras de quadrazenhos com as suas vacas. Um filho, já falecido, casou com uma quadrazenha, cujo pai tinha a alcunha de Maneta.

Novo Dicionário da Gíria Quadrazenha (1)
«Novo Dicionário da Gíria Quadrazenha – Português/Gíria». São 613 termos no total, sendo 365 criados por mim (os antecedidos por asterisco). (Da letra A à letra D.)

Os Possessos e Esquizofrénicos
Em todas as aldeias há pessoas cujas atitudes estranhas levam os demais a dizer que estão possessas do demónio. A Igreja Católica instituiu mesmo o cargo de Exorcista para expulsar o demónio dos possessos, seguindo o que Jesus fizera quando expulsou os demónios de pessoas e aqueles possuíram porcos que se afogaram. Eram conhecidos locais onde essa prática era conhecida, como junto da relíquia de Vera Cruz em Portel e os jornais noticiaram recentemente quem era o exorcista que está no activo.

Novo dicionário da gíria quadrazenha (4)
Vocabulário do «Novo Dicionário da Gíria Quadrazenha – Gíria/Português». São precedidos de asterisco os termos que eu criei (357), num total de 659. (Da letra S à letra X.)

A morte do cabritinho
As personagens das histórias de Do Azeite ao Sabão e de O Filho do 46, Zé Bicho e Toninho Presas, foram-no também de uma outra história passada em França, nos arredores de Paris.

Novo dicionário da gíria quadrazenha (3)
Vocabulário do «Novo Dicionário da Gíria Quadrazenha – Gíria/Português». São precedidos de asterisco os termos que eu criei (357), num total de 659. (Da letra M à letra R.)

O filho do 46
O pai, o 46, viera de Ramalde, região do Porto. Dizem que matou um homem ou um soldado do quartel em que fazia o serviço militar, onde tinha o n.º 46. Fugiu para Quadrazais, terra de acolhimento de homiziados. Como soube que Quadrazais o acolheria é coisa que desconheço. Aí exercia o ofício de caliador com um soitenho e, por ser o único na aldeia, trabalho não lhe faltava. Aí casou com a Erutildes Presas, de quem teve o Toninho…

Novo dicionário da gíria quadrazenha (2)
Vocabulário do «Novo Dicionário da Gíria Quadrazenha – Gíria/Português». São precedidos de asterisco os termos que eu criei (357), num total de 659. (Da letra D à letra L.)

Novo dicionário da Gíria Quadrazenha (1)
Vocabulário do «Novo Dicionário da Gíria Quadrazenha – Gíria/Português». São precedidos de asterisco os termos que eu criei (357), num total de 659. (Da letra A à letra C.)

Histórias – O Nano
Era da família dos Rodrigues Bicheiro. Tinha emigrado para a Argentina pelos anos 20/30 ou já nos anos 40 do século passado com mais uns dezanove, a avaliar pela fotografia tirada em solo argentino e que publiquei no primeiro volume da minha obra «Para que não se Perca a Memória de 400 Anos de Vida em Quadrazais», ou talvez mais, já que na fotografia não identifico o irmão do meu avô Braga, o João Lhalhão e o Simão Ferrador, entre outros. Na fotografia, que aqui tento reproduzir, o Nano aparece a tocar concertina. A vida não lhe deve ter corrido bem, como a muitos outros, e ei-lo de novo na terra.

Considerações sobre a Gíria Quadrazenha
No prefácio aos Galramentos entre códrazenhos, que publiquei no Capeia Arraiana (30 de Dezembro de 2016), afirmei a intenção de dar vitalidade à Gíria Quadrazenha, nem que tivesse de criar novos termos, já que as línguas evoluem.

O Demónio
De vez em quando apareciam na aldeia missionários que pregavam durante uns dias e presidiam a outros actos religiosos.

Histórias em Gíria – No Marcado
Maquina-se uno lúzio uno Códrazenho ó marcado do Sabugal e dirijumpe-se a uno vandedor de calcantes, já que necitava d’unês calcantas.

No Mercado
Vai um dia um quadrazenho ao mercado do Sabugal e dirige-se a um vendedor de calçado, já que necessitava de umas botas.

Histórias em Gíria – O Sameão
Morarsia ó Santabastião, ó lado da marraina de moienes Dulce, tunhindo im frente o coime do manês das bichês e o Cometa por baro perto.