:: :: CONGRESSO DO FORAL DO SABUGAL :: :: Há 20 anos, aquando da organização do Congresso procurámos reunir no Sabugal figuras ilustres do concelho. Enviámos várias missivas e uma delas seguiu para o poeta e jornalista Manuel António Pina que nos respondeu informando que não poderia participar por razões emocionais.
:: :: EFEMÉRIDES 2015 :: 19 DE OUTUBRO :: :: O Capeia Arraiana publica diariamente as efemérides mais relevantes de cada data… Hoje destacamos a morte de Manuel António Pina, em 2012.
Ler MaisHoje dia do septuagésimo aniversário do seu nascimento, dou a palavra a Manuel António Pina, Sabugalense a quem os homens transparentes muito agradecem a obra literária e o exemplo de vida.
Ler MaisA Biblioteca Almeida Garrett no Porto recebe a apresentação do «Clube dos Amigos à Espera do Pina», fundado por dez amigos do escritor como forma de preservar a sua memória e promover a sua obra literária. Tudo acontece no dia 18 de Novembro, data em que Manuel António Pina, nascido no Sabugal, faria 70 anos.
O escritor e jornalista Manuel António Pina, faleceu a 19 de Outubro de 2012. Um ano após o desaparecimento do poeta nascido no Sabugal, reproduzimos, em sua memória, parte da entrevista de vida que deu a Pedro Dias de Almeida (editor de cultura da revista Visão), em 2009, para a revista Praça Velha, editada pela Câmara Municipal da Guarda.
O lado sul da Praça da República, no Sabugal, junto à velha fonte circular, está a ser requalificado tendo em vista dar-lhe uma nova imagem.
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O Centro Cultural de Trancoso exibe de 22 de Abril a 29 de Maio a exposição «Manuel António Pina – escrever para vencer os pesadelos e salvar a vida» constituída por livros, artigos publicados em jornais e revistas, fotos e referências a prémios que foram atribuídos ao escritor, poeta e jornalista falecido em 2012. Ler Mais
O Museu Nacional da Imprensa instalado no Porto vai fazer uma sessão de homenagem a Manuel António Pina, no dia 13 de Abril, sábado, pelas 18 horas, no âmbito da Festa do Livro da FNAC Gaia Shopping.
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A biblioteca do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) assinalou hoje o início do segundo semestre letivo com a abertura de uma exposição dedicada ao escritor Manuel António Pina.
O ano que está prestes a findar foi marcado pela crise económica e social que o país atravessa e pelas medidas de austeridade sucessivamente impostas aos portugueses. A nível local, o mais marcante foram as peripécias em torno da empresa municipal Sabugal+ e os sucessivos erros da Câmara e consequente suspensão de obras. O ano 2012 ficou também registado, em termos noticiosos, pela jornada da volta a Portugal em bicicleta no concelho do Sabugal, as buscas da PJ na Câmara, o derrube de árvores centenárias no centro histórico da cidade, o processo de extinção de freguesias, o encerramento do tribunal do Sabugal, a morte inesperada do escritor Manuel António Pina. Já no final do ano falou-se nos nomes dos candidatos que encabeçarão as listas para as eleições autárquicas de 2013. Vamos revisitar as principais notícias que destacaram o Sabugal e a região durante o ano.
Soube da ausência (não da morte porque os poetas não morrem) de Manuel António Pina, na tarde de dezanove de Outubro. Foi um dia de Outono triste e cinzento. O céu chorava pequenas lágrimas de chuva nos breves instantes em que o dia se abraçava à noite.
Ler MaisO livro «Como se desenha uma casa», de Manuel António Pina, venceu a oitava edição do prémio de poesia Teixeira de Pascoaes.
O prémio literário foi criado pela Câmara Municipal de Amarante e a sua atribuição ao último livro de Manuel António Pina resultou de uma escolha entre 166 livros apresentados a concurso, de 159 autores.
A entrega do prémio, a título póstumo, está marcada para 15 de Dezembro, no auditório da Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, em Amarante.
Manuel António Pina, poeta, escritor, jornalista, Prémio Camões em 2011, natural do Sabugal, faleceu no Porto a 19 de Outubro deste ano, com 68 anos.
O prémio Teixeira de Pascoaes, de periodicidade bienal, foi instituído em 1997, aquando da passagem dos 120 anos do nascimento do poeta de Amarante.
plb
A Direcção e o Conselho de Administração da Sociedade Portuguesa da Autores (SPA) decidiram atribuir, a título póstumo, a Medalha de Honra da cooperativa ao poeta, jornalista, cronista e dramaturgo sabugalense Manuel António Pina, recentemente falecido.
A Câmara do Sabugal vai requalificar a Praça da República, arrancando os cotos das árvores que cortou em redor do chafariz, plantando de seguida, ao que parece, uns medronheiros.
Ler MaisEm homenagem ao escritor sabugalense Manuel António Pina, falecido esta sexta-feira, 19 de Outubro, transcrevemos, com a devida vénia, um excerto da entrevista que em 2009 Pedro Dias de Almeida, editor de cultura da revista Visão fez ao escritor sabugalense, dias antes do mesmo se deslocar ao Sabugal, onde foi homenageado pela Junta de Freguesia, descerrando uma placa na casa onde nasceu. A entrevista seria depois publicada na revista cultural Praça Velha, editada pela Câmara Municipal da Guarda.
«- Há vários temas recorrentes no teu discurso poético. Um deles é a infância. E, às vezes, associada à infância aquela ideia do regresso…
– A casa. É engraçado, e agora vou lá ao Sabugal, à primeira casa de todas…
– E perguntava-te se quando falas nisso há uma casa concreta na tua cabeça, uma casa a que sempre voltas…
– Lá do Sabugal pediram-me um verso para pôr lá na placa, na casa. Encontrei vários versos que falam nisso mas nenhum que servisse para pôr lá, eram todos muito grandes. Em alternativa propus-me ler alguns poemas que falam da casa, do regresso a casa. Mas… Não há nenhuma casa concreta, de facto. A casa é a origem, é a morte. Tenho um livrinho pequenino que se chama Um Sítio Onde Pousar a Cabeça, e a casa é também isso, o sítio onde pousar a cabeça. Isso em termos mais gerais. Agora, em termos mais particulares: eu tive uma vida… saí de lá do Sabugal, descobriram agora, com seis anos… eu não me lembro. O meu pai tinha uma profissão – era chefe de finanças, que acumulava com juíz das execuções fiscais – que estava abrangida pela lei do sexanato, só podia estar seis anos em cada terra. A ideia era mesmo não deixar criar raízes, amigos, influências, essas coisas. Como na altura não havia escolas e liceus em todo o lado, o meu pai começava a pensar mudar logo ao fim de três ou quatro anos para sítios onde houvesse ensino para mim e para o meu irmão… No sítio onde gostou mais de estar, que foi na Sertã, a situação arrastou-se, arrastou-se, e ao fim de seis anos foi mandado para os Açores, para Santa Cruz da Graciosa, mas como eu sofria dos pulmões conseguiu mudar… Para mim, tudo isto teve uma consequência: era uma situação quase de Sísifo, estava sempre a fazer amigos e a desfazê-los, e a fazê-los de novo com a consciência que eram para ser desfeitos, a estabelecer relações sabendo que iam acabar ao fim de três ou quatro anos. Os amigos mais antigos que eu tenho são aqui do Porto, de quando cheguei, aos 17 anos. E aqui, como havia vários bairros fiscais, o meu pai ia mudando de bairro.
– Mas quando falas de casa nos teus poemas da infância, nunca é essa casa do Sabugal? Não tens nenhuma recordação dela?
– Tenho… Mas agora confundo porque já lá voltei uma vez. A senhora que comprou a casa dos meus pais convidou-me uma vez a entrar. Tinha umas memórias assim muito obscuras. Ainda tenho uma espécie de melancolia por andar sempre assim a mudar de casa… Mas tenho memórias, claro. Lembro-me de alguns nomes de miúdos, mas não tenho amigos da escola primária. Fiz a primeira classe em Castelo Branco, a 2ª, 3ª e 4ª na Sertã, o 1 º ano de Liceu em Cernache do Bom Jardim, depois Santarém, o 3º outra vez em Cernache, o 4º em Oliveira do Bairro, o 5º e 6º em Aveiro, e o 7º é que já fiz aqui no Porto. Eu detesto viajar. Uma vez estava em Bordéus, fizeram-me uma entrevista e a jornalista disse-me “se calhar não gosta de viajar por ter andado tanto de terra em terra”, e eu tomei consciência disso, que se calhar é verdade… O melhor das viagens, para mim, é o regresso. Quando chego ao Porto, quando sei que atravessei a fronteira… Digo num poema meu: “O ideal é não nos afastarmos da casa mais do que nos permite metade das nossas forças”, que é para regressarmos. E falo também de “ver sempre ao longe a cor do nosso telhado”. O meu percurso biográfico sublinhou essa melancolia em relação às origens, à casa… Esta homenagem no Sabugal até me permite o reencontro com uma casa concreta, com raízes concretas… Na verdade, nunca tive raízes em parte nenhuma.
– Mas nasceste ali, naquela casa.
– Nasci ali, sim, naquela casa. E a minha memória mais antiga que tenho é do Sabugal. Tenho duas memórias muito antigas. Uma é muito vaga… Estas memórias não sabemos se fomos nós que as construímos, ou… Como aquela frase do William James: “A memória é uma narrativa que nós vamos construir com aquilo que desejamos e com aquilo que tememos”…
– E tu escreveste: “Por onde vens passado, pelo vivido ou pelo sonhado?”…
– Pois é. Anda tudo muito misturado. Não sei se foi a minha mãe que me contou… Como diz também o William James, nós não nos lembramos do passado, lembramo-nos da última vez que nos lembrámos. E quem se lembra de um conto, aumenta um ponto, ou diminui um ponto. Vamos construindo sempre uma narrativa… Mas esta eu sei que me lembro mesmo. A memória mais antiga que eu tenho é numa fonte de mergulho, eu devia ter uns três ou quatro anos – e ainda lá está essa fonte, eu já contei isto à senhora que está agora lá na casa, a Natália Bispo. Para mim essa fonte era muito grande, mas agora já verifiquei que é pequenina. Numa fonte de mergunho a água não corre, as pessoas apanhavam a água mergulhando um balde. Nesta minha memória estou com um chapéu de palha e há um miúdo qualquer que pega no meu chapéu de palha, atira-o à água, e vai-se embora. E eu não fui apanhar o chapéu, por orgulho, porque achava que era uma injustiça, ele é que devia ir… Ele não foi, e eu também não fui. Cheguei a casa sem o chapéu de palha e, deve ter sido muito traumatizante para ainda me lembrar, cheio de medo de ser castigado… E estava lá a minha mãe, com a melhor amiga dela, a Ti Céu. Lembro-me da minha mãe me ralhar e me dizer para ir lá buscar o chapéu, e eu dizer ‘não vou, não vou, não vou’, e a minha Ti Céu (que não era mesmo minha tia) é que acabou por ir lá buscar o chapéu. E deu-mo, molhado e tudo. Estava cheio de medo, mas não fui castigado. E tenho uma memória mais antiga, de que julgo que me lembro vagamente: estou sentado numa daquelas cadeiras altas, preso, porque era uma daquelas cadeiras para dar comida às crianças, e a casa está a arder. Isso aconteceu de facto. Tenho uma memória disso, foi aflitivo, pelos vistos. Não me lembro da casa a arder, na minha memória é fumo. E eu, ou esse de quem eu me lembro, está muito aflito, porque está amarrado, não consegue sair da cadeira… A minha mãe estava a dar-me de comer e, ao mesmo tempo estava a aquecer água num daqueles fogareiros a petróleo para dar banho ao meu irmão, 15 meses mais novo do que eu. O meu irmão começou a tentar dar à bomba do tal fogareiro e a água a ferver caiu para cima dele. Ele gritou e a minha mãe foi a correr para a cozinha, pensou que ele ia ficar cego. Pegou nele e desceu as escadas a correr, não sei para onde, para o hospital, para um médico qualquer… O fogareiro caiu e incendiou a casa, a cozinha começou a arder. Estes pormenores contou-me a minha mãe, depois. Eu estava lá sozinho, preso, e foi uma vizinha que viu a minha mãe a sair aos gritos de casa, e viu depois o fumo, que foi lá buscar-me. Só me lembro da parte do fumo e de ficar sozinho e cheio de medo, com a minha mãe a sair de casa aos gritos… As memórias que tenho dessa casa são essas. Depois tenho umas memórias obscuras de escadas, talvez por isso é que falo tanto de escadas, de corredores…
– Um portão velho…
– O portão velho de que falo mistura-se com outras casas, com a de Oliveira do Bairro, provavelmente… Havia o tal portão em ruínas, nas traseiras, por onde eu saía para ir apanhar o comboio para Aveiro, tinha uma ameixieira, e o tal portão velho de madeira… Mas misturam-se umas casas com as outras, a verdade é essa.
– O teu lugar da infância são lugares, vários lugares, não o associas ao Sabugal…
– São lugares, sim. Essa coisa do regresso a casa é tão importante para mim, que um dos meus pesadelos infantis era eu ir para a escola – nessa casa da Sertã, em que eu tinha que atravessar a rua para ir para a escola – e a certa altura começava a passar um comboio na rua que não me deixava voltar para casa… Esse comboio era um comboio eterno, sempre a passar, a passar, a passar; eu estava do lado de cá e havia esse comboio entre mim e a casa… Por isto tudo é que a casa aparece muito nos meus poemas. Casa. Mãe. Muito associada à infância, sim…
– Também falaste logo de morte, há pouco, a propósito da casa…
– Tem que ver, tem que ver… A morte também é uma mãe, é maternal, é um sossego. Sai-se do ventre da mãe e entra-se no ventre da terra, não é? Tem essa coisa de acolhimento, de serenidade, de tranquilidade. De regresso. É uma coisa engraçada: desde miúdo sempre tive uma noção circular de tudo. Concebia o mundo sempre numa estrutura circular. Havia uma frase engraçada que a minha mãe me dizia, e sei onde foi, foi em Castelo Branco, tinha eu 6 ou 7 anos, ou menos… Lembro-me de querer ir para a rua e a minha mãe não me deixar… [Pausa] Acho que eles estão enganados, eu devo ter saído do Sabugal com 4 anos, não foi com 6, porque ainda não dizia ‘érre’ dizia ‘éle’… Vivíamos nessa altura na casa do Bairro do Cansado e antes tinhamos vivido no bairro do quartel. Os meus pais viviam com bastantes dificuldades económicas, até arrendavam quartos, na primeira casa esteve lá um sargento, do quartel em frente. Tenho duas memórias dessa casa, também… E acho que é a primeira vez que estou a contar isso a alguém, normalmente ocorrem-me quando estou sozinho. Uma: um dia o sargento trouxe-me um pássaro que ele achou; eu andava excitadíssimo com o pássaro mas ele fugiu, deixei fugir o pássaro e fiz uma gritaria, queria o pássaro… Ali fiquei à janela com uma grande raiva ao pássaro por me ter abandonado. E lembro-me da frase do sargento: ‘Não te preocupes, logo te trago outro’ e de eu responder ‘não quero outro, quero aquele! Vamos lá buscá-lo de avião!’. Queria ir apanhá-lo de avião… Essa é uma. A outra memória tem a ver com a tal noção circular do universo. Lembro-me de a minha mãe não me deixar ir para a rua, para a ‘lua’, como eu dizia, e de eu dizer assim: “Ai, não deixas? Vais ver que quando tu fores filha e eu for mãe, também não te vou deixar!” A vida circular, lá está. Afinal ainda tenho outra memória, traumatizante… Os meus pais viviam com muitas dificuldades económicas, num andar, e um dia fui a casa da vizinha de cima e vi uma nota de 20 escudos, que em 1947 ou 1948 era muito dinheiro, em cima da mesinha de cabeceira. E roubei-os. Nunca falei disto, também…
– Então é uma grande confissão, agora…
– Não faz mal, já prescreveu… [risos]. Roubei-os para os dar aos meus pais, porque estava sempre a vê-los a discutirem por causa das despesas, porque não havia dinheiro… Aquilo afligia-me muito. Peguei nos 20 escudos e levei-os à minha mãe. Ela perguntou-me onde é que eu os tinha arranjado, e eu lá acabei por contar… E ela então obrigou-me a ir pôr o dinheiro outra vez lá em cima. Eu, claro, não queria ir, com medo de ser apanhado, encontrar a vizinha. Castigaram-me, e eu já estava a chorar desesperado, quando a minha mãe me disse “vai lá descansado que eu tenho a certeza que ela não está, nunca saberá”. Lá fui pôr o dinheiro no sítio onde estava e voltei para casa a correr. Soube depois que ela disse à vizinha para sair dali, para se esconder, para ir lá eu e aprender a lição. São estas as minhas primeiras memórias. As coisas mais traumatizantes que tive…
(…)»
A Câmara Municipal da Guarda aprovou na reunião desta segunda-feira, dia 22 de Outubro, um voto de pesar pela morte do escritor sabugalense Manuel António Pina.
O texto aprovado considera o poeta «um dos nomes maiores da Poesia e da Cultura em Portugal» e «grande intérprete da realidade social e interventor crítico e lúcido».
«Manuel António Pina deixou-nos uma obra vasta, que se reveste de sensibilidade, emoção e ironia. Enquanto pessoa e enquanto beirão, mereceu-nos a maior admiração e deixa-nos um sentimento de perda e de enorme saudade», lê-se ainda na deliberação aprovada pela Câmara.
A Guarda homenageara Manuel António Pina no final de 2009, através de um ciclo de iniciativas a que deu o nome do escritor. ainda em sua homenagem criou, nesse ano de 2009, um prémio literário, que todos os anos galardoa um trabalho de poesia e de prosa, alternadamente.
plb
Pequena nota com o título em epígrafe, colhida de um jornal de hoje, em homenagem a Manuel António Pina no dia do funeral deste ilustre sabugalense. Publicamo-la, associando-nos à saudade de um homem bom e amigo da cultura.
Faleceu na tarde desta sexta-feira, 19 de Outubro, no Hospital de Santo António, no Porto, onde estava internado desde o início do Verão, o escritor e jornalista sabugalense Manuel António Pina.
MANUEL ANTÓNIO PINA era jornalista, cronista, escritor, poeta, dramaturgo, actividades em que se notabilizou.
Nasceu no Sabugal em 18 de Novembro de 1943 e viveu a infância numa constante mudança de lugar, passando nomeadamente pela Sertã e Oliveira do Bairro, para depois se fixar no Porto. O pai era chefe de Finanças, cargo que acumulava com o de juiz das execuções fiscais, pelo que não podia estar mais do que certo tempo em cada terra, por imposição legal. Recordará sempre esse tempo da infância e adolescência como a época em que fazia amigos num lugar, que depois perdia para refazer novas amizades noutro local distante.
Após os estudos secundários, concluídos no Porto, licenciou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, onde para além de estudar trabalhava para garantir a independência financeira. Embora cursasse Direito gostava mais e frequentar as aulas de Literatura, sobretudo as dos mestres Paulo Quintela e Vítor Aguiar Silva. Mesmo assim, seguiu Direito e, concluído o curso, foi advogado durante algum tempo, porém já escrevia no Jornal de Notícias desde 1971 e o apelo da escrita foi sempre mais forte.
No jornalismo notabilizou-se pela crónica, que, para ele é uma espécie de meio caminho entre o jornalismo e a literatura. No Jornal de Notícia, ao qual se manteve sempre ligado, ocupou o cargo de editor cultural, mantendo uma permanente ligação aos aspectos literários. Nas horas vagas poetava e escrevia contos infanto-juvenil, fazendo um percurso de escritor, onde sobretudo se notabilizaria, recebendo o reconhecimento do seu mérito com a atribuição de inúmeros galardões, entre os quais o Prémio Camões no ano 2011.
A sua poesia, algo hermética, foi sempre marcada por uma espécie de nostalgia, traduzida num sucessivo jogo de memórias entre a infância (parte dela passada no Sabugal) e o quotidiano. Os poemas de Pina são igualmente marcados pela inquietação e a melancolia, tocando por vezes no paradoxo. Nada do que escrevia ou pensava era definitivo, quando lhe perguntaram (JL, 31/10/2001) se fazia alterações aos seus poemas antigos quando os reeditava, respondeu que não, porque de certa forma um texto antigo, escrito por ele e editado, já não lhe pertencia: «quando leio textos que escrevi há algum tempo, tenho a sensação que não foram escritos por mim. E, de facto, foram escritos por outra pessoa, por aquele que eu era.» Esta mutação do ser que somos com o evoluir do tempo é explicada de forma comparativa: «A Ilíada é um dos meus livros de referência. Li-a pela primeira vez quando era jovem e a que leio hoje não é a mesma que li, nessa altura. Porque eu próprio já sou diferente. Os cabalistas dizem que há tantas bíblias quantos leitores da Bíblia. Eu acho que há mais, tantas quantas as leituras.»
Como escritor, foi autor de vários títulos de poesia, novelas, textos dramáticos e ensaios, entre os quais: em poesia – Nenhum Sítio, O Caminho de Casa, Um Sítio Onde pousar a Cabeça, Algo Parecido Com Isto da Mesma Substância; Farewell Happy Fields, Cuidados Intensivos, Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança; em novela – O Escuro; em texto dramático – História com Reis, Rainhas, Bobos, Bombeiros e Galinhas, A Guerra do Tabuleiro de Xadrez; no ensaio – Anikki – Bóbó; na crónica – O Anacronista; e, finalmente, na literatura infantil – O País das Pessoas de Pernas para o Ar, Gigões e Amantes, O Têpluquê, O Pássaro da Cabeça, Os Dois Ladrões, Os Piratas, O Inventão, O Tesouro, O Meu Rio é de Ouro, Uma Viagem Fantástica, Morket, O Livro de Desmatemática, A Noite.
Embora afastado da sua terra natal desde menino, Manuel António Pina afirmava com orgulho ser sabugalense. Em 4 de Abril de 2009 a Junta de Freguesia do Sabugal homenageou-o colocando na casa onde nasceu uma placa com a seguinte epígrafe: «Nesta casa nasceu o escritor e jornalista Manuel António Pina»
Em 2010 a Câmara Municipal da Guarda, criou, em homenagem a Manuel António Pina, um prémio literário com o seu nome, que distinguirá anualmente, e de forma alternada, obras de poesia e de literatura. Ainda em homenagem ao escritor sabugalense realiza-se na Guarda um ciclo cultural repleto de actividades.
Em 10 de Novembro de 2011, no ano em que foi galardoado com o Prémio Camões, o escritor foi por sua vez homenageado pela Câmara Municipal do Sabugal, que lhe atribuiu a medalha de mérito cultural do Município.
Manuel António Pina foi eleito pelo blogue Capeia Arraiana a «Personalidade do Ano 2011».
Segue-se um poema de Manuel António Pina, que aborda um assunto recorrente na sua poesia – a morte:
Algumas Coisas
A morte e a vida morrem
e sob a sua eternidade fica
só a memória do esquecimento de tudo;
também o silêncio de aquele que fala se calará.
Quem fala de estas
coisas e de falar de elas
foge para o puro esquecimento
fora da cabeça e de si.
O que existe falta
sob a eternidade;
saber é esquecer, e
esta é a sabedoria e o esquecimento.
plb e jcl
Manuel António Pina, jornalista e escritor sabugalense, galardoado com o Prémio Camões, mantém-se internado no Serviço de Nefrologia do Hospital de Santo António, no Porto, onde recupera após uma cuidada intervenção cirúrgica.
O escritor está internado há várias semanas, desde que lhe foi diagnosticada uma doença muito grave, que levaria a uma melindrosa intervenção cirúrgica.
Por vontade de Manuel António Pina, a notícia da doença e do internamento hospitalar não foi divulgada, mas todos notaram a falta da crónica semanal do escritor na última página do Jornal de Notícias e noutros espaços onde amiudadamente escrevia.
As últimas notícias veiculadas pela família e amigos mais chegados são as de uma contínua recuperação.
Aqui deixamos ao prestigiado escritor sabugalense desejos de melhoras e que em breve regresse às lides literárias.
plb
Um encontro na Biblioteca Municipal e a representação de uma peça teatral, são as acções promovidas em Palmela em homenagem ao escritor sabugalense Manuel António Pina.
A Câmara Municipal de Palmela promove, no dia 19 de maio, sábado, às 19 horas, um encontro com o poeta, cronista e jornalista Manuel António Pina, na Biblioteca Municipal de Palmela.
Autor de uma vasta obra literária, que inclui muitos títulos de literatura infantil, Manuel António Pina recebeu o Prémio Camões 2011. O escritor nasceu no ano de 1943, no Sabugal, tendo-se mais tarde radicado no Porto, onde foi jornalista do Jornal de Notícias. Hoje, na situação de aposentado, mantém a colaboração com diversos órgãos de comunicação social.
É autor de vários títulos, entre os quais, Nenhum Sítio, O Caminho de Casa, Um Sítio Onde Pousar a Cabeça, Farewell Happy Fields, Cuidados Intensivos, Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança, O Escuro, História com Reis, Rainhas, Bobos, Bombeiros e Galinhas, A Guerra do Tabuleiro de Xadrez, O Anacronista, O País das Pessoas de Pernas para o Ar, Gigões e Amantes, O Têpluquê, O Pássaro da Cabeça, Os Dois Ladrões, O Inventão, O Tesouro, O Meu Rio é de Ouro, Uma Viagem Fantástica, Morket ou Histórias que me Contaste Tu
Ainda em Palmela, o Teatro o Bando apresenta o espectáculo «Ainda não é o fim», com encenação de João Brites, a partir de 18 de Maio, peça criada pelo Teatro o Bando a partir do texto de Manuel António Pina. Estarão em palco Ana Lúcia Palminha, Bruno Huca, Clara Bento, Guilherme Noronha, Paula Só, Raúl Atalaia e Sara de Castro. Participa a Big Band Loureiros.
O público poderá assistir de18 a26 de Maio no Largo D´El Rei D. Afonso Henriques, no Centro Histórico de Palmela, às sextas-feiras e sábados às 21:30.
Posteriormente, o Teatro o Bando levará o espectáculo para Lisboa, mais propriamente para a Fábrica Braço de Prata, de 31 de Maio a 10 de Junho, de quinta-feira a domingo, sempre às 21h30.
plb
A Câmara Municipal de Gaia presidida por Luís Filipe Menezes, condecorou no passado sábado, dia 14 de Abril, várias personalidades nacionais, entre elas o escritor e jornalista sabugalense Manuel António Pina.
O presidente do Município, Luís Filipe Menezes, antecipou a comemoração do 38.º aniversário do 25 de Abril, condecorando, como vem sendo hábito, várias personalidades e instituições com a medalha honorífica do concelho.
O vencedor do Prémio Camões 2011, Manuel António Pina, e o historiador Hélder Pacheco foram dois dos homenageados, a par do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e do presidente do conselho de administração da EDP, António Mexia, entre outros. Também foram homenageadas instituições como a empresa Barbosa e Almeida e a Rádio Renascença A título póstumo, foram ainda distinguidos a resistente antifascista Beatriz Cal Brandão, a defensora dos direitos das mulheres Teresa Rosmaninho e também Henrique Castro.
A mediatização do evento teve porém a ver com as palavras que Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, proferiu na ocasião, em nome das personalidades agraciadas na homenagem. Defendeu que «a grande oportunidade de afirmação do Norte é agora, mas não pela via do combate político administrativo e sim pela da afirmação empresarial e económica». O governador questionou ainda: «Onde estão as condições em termos de cultura empresarial? Onde é que há maior tecido de PME? É aqui. Onde é que há a maior distância em relação à administração central e como tal a maior independência? É aqui.» E concluiu: «Por isso, eu espero que o Norte dê um grande contributo para cumprir Abril.»
plb