Natália Bispo, a Talinha, foi homenageada no VI Capítulo (14 de Fevereiro) com o título de Confreira Honorária da Confraria do Bucho Raiano. A plateia – com os filhos Eduardo e Cláudia e o marido Romeu –, visionou emocionada um vídeo que lembrou alguns momentos de uma vida de causas da guardiã da Casa do Castelo no Largo do Castelo das Cinco Quinas no Sabugal.
Muito se tem acusado o Rei D. Dinis de infidelidade. Inventam-se anedotas, estórias, apontam o dedo acusador. Em Odivelas inventou-se uma dessas estórias, que se junta ao coro dos acusadores. O que realmente foi a vida conjugal do Casal Real, ninguém sabe, mas há indícios de o Rei não ser tão culpado como muitos querem. A Rainha Santa tinha ideais que seu esposo terá respeitado. Porque vinha tanto a Odivelas? Há explicações que não passam pela infidelidade de que pretendem culpá-lo.

O Rei D. Dinis escolheu a Igreja do Mosteiro Cisterciense de Odivelas para sua última morada. Indicou mesmo o local – a meio, entre a capela-mor e o coro. Para que a sua vontade fosse cumprida, fez essa declaração no seu testamento. Assim se cumpriu. Naquele local e naquele Igreja foi depositado o seu corpo quando o cortejo fúnebre chegou, vindo de Santarém. Era um mausoléu majestoso. O primeiro a ter uma estátua jacente. O primeiro a ficar dentro de um lugar sagrado. Estava cercado de grades altas de ferro terminando em escudetes nas pontas dos balaústres com as armas de Portugal, e cruzes da Ordem de Cristo. Um dossel cobria-o em toda a sua dimensão.

Os males da Grande Guerra de 1914-1918 deram origem à fundação de uma Escola Profissional Agrícola, em Terras de D. Dinis e à qual foi posto o nome do Rei Lavrador. Uma justa homenagem ao Rei que mandou arrotear terras, secar pântanos, plantar vinhas, montados, pinhais e não esqueceu os súbditos mais necessitados. Uma Escola para crianças que a Guerra de 1914-18 tornou órfãos. A Escola Agrícola D. Dinis tinha o objectivo de garantir a sobrevivência dos órfãos de guerra, preparando-os para uma profissão digna: Agricultores.

D. Dinis mandou fazer o seu próprio túmulo, deixou dito no testamento o edifício onde queria que o colocassem e indicou até o lugar na igreja. Foi o primeiro sarcófago a ser depositado dentro de um lugar sagrado e o primeiro a ter a estátua jacente de um rei. Os dois primeiros reis estão em Santa Cruz de Coimbra e com D. Afonso II o Panteão Real passou a ser o Mosteiro de Alcobaça. D. Dinis escolheu a igreja do Mosteiro de São Dinis em Odivelas, onde ainda se encontra, podendo ser visitado.

O que nos dizem os Cronistas e os Historiadores: «Teve elrei D. Dinis duas filhas bastardas, ambas do nome de Maria, uma que se conservou no século, outra que foi recolhida no mosteiro de Odivelas.» Foi esta a primeira informação que tive sobre a Infanta sepultada em Odivelas. Nenhuma outra certeza completava esta. Borges de Figueiredo no seu livro «O Mosteiro e Odivelas – Casos de Reis – Memórias de Freiras» teceu algumas conjecturas por confirmar ainda hoje.

A Marmelada de Odivelas e o Bucho Raiano do Sabugal vestiram-se a rigor e «deram-se a provar» durante a visita do clube cultural «100 Fugas» ao Mosteiro de Odivelas. Para conduzir a viagem histórica, desde D. Dinis até às meninas do Instituto de Odivelas, os visitantes tiveram o privilégio de ser guiados pela doutora Maria Máxima Vaz.

É do conhecimento geral que, na Idade Média, os senhores nobres tinham privilégios que nem os reis podiam desrespeitar, dentro dos seus domínios. Esta realidade enfraquecia o poder real e era causa de muitas guerras, conflitos sociais e injustiças.

O rei D. Dinis herdou uma questão melindrosa com a Santa Sé. Difícil de resolver, como naquele tempo eram todas as questões com o papado. Com a sua habilidade diplomática, soube gerir os interesses em confronto, dando aos bispos portugueses o encargo de iniciarem a solução do processo, embora supervisionado sempre pelo rei, para não fugir ao seu controlo.

Como ficou dito e provado na última crónica, o rei D. Dinis teve, pelo menos, sete filhos naturais. Por essa razão se considera que foi um marido infiel e daí, mau marido. Coloco à consideração dos leitores factos que permitirão julgar se é justo chamar-lhe mau marido. Que não era mau já ficou provado. Que não impedia a rainha de ser caridosa, também. Resta-me tentar compreender o que causou a fama de bom poeta e marido infiel.

O conhecimento que temos, até hoje, acerca dos filhos do Rei D. Dinis, foi obtido a partir dos cronistas e completado com documentos da Chancelaria deste nosso Rei. Não há dúvidas quanto aos filhos que nasceram do seu casamento com a Rainha Santa Isabel. Foram eles, a Infanta D. Constança, que veio a ser Rainha de Castela e o Infante D. Afonso, depois rei de Portugal. E do casamento real não houve mais filhos. Além destes filhos legítimos, teve o Rei D. Dinis sete filhos naturais, que foram: Afonso Sanches, Pedro Afonso, João Afonso, Fernão Sanches, D. Maria Afonso, um segundo Pedro Afonso e mais uma segunda Maria Afonso. Há dois Infantes sobre os quais existem dúvidas, se seriam filhos de D. Dinis ou de D. Afonso III, cujos nomes são: Fernando Afonso e Martim Afonso.

Chegado ao reino do pensamento, da linguagem e das palavras, cedo compreendi que o nosso primeiro rei não foi D. Afonso Henriques. A quem nasceu em terras de Ribacôa e sempre ouviu e leu, que estas apenas foram integradas no território que é hoje Portugal no reinado de D. Diniz, sempre se dirá que foi este o nosso primeiro rei.
