Finalmente podemos saborear uma fatia de pão centeio, produzido na terra que trabalhámos durante cerca de um ano. O tempo que medeiou desde que iniciámos a tarefa da preparação da terra até termos na nossa mão o pão resultante passaram cerca de 2 anos. É muito tempo para os dias de hoje.
Pão com olhos, queijo sem olhos e vinho que salte para os olhos. Este ditado popular, numa forma simples, acaba por definir as caracteristicas principais de três produtos: pão, queijo e vinho.
Da terra saiu o centeio. Do centeio, saiu o grão. Do grão saiu a farinha depois de ter havido a intervenção do moleiro, do moinho e, curiosamente da água do rio Noémi. Da farinha sairá o pão depois de o cozermos. Mas isso será nos próximos textos.
A Malha do centeio na eira tinha como objectivo separar o grão da palha. Com a evolução dos tempos e a chegada das debulhadoras a malha passou a mecânica. Mesmo assim, era dura a tarefa de malhar. Dura mas desejada.
Malhar significa bater. Por isso, fazer a malha do centeio passava por bater no centeio por forma a que o grão fosse separado das espigas. Com a palha seca e o calor a ajudar, qualquer pancada provoca a libertação do grão. Vamos ver a malha em duas versões: Manual e mecânica.
Finda a ceifa, quase de imediato iniciava-se a carranja. A palavra é esquisita, mas era mesmo assim que se dizia. Transportar para a eira o que se ceifou é contribuir para que dentro de pouco tempo tenhamos grão de centeio.
Quando a primavera já passou, o sol produz calor que transforma a cor das cearas em castanho dourado, está na altura da Ceifa. Ceifar é receber o resultado de dois anos de trabalho sobre a terra. A Ceifa era a esperança de ter pão.
Poderíamos chamar a este texto o silêncio do campanário. Mas o silêncio dum campanário pressupõe que esse campanário tenha um problema qualquer que o obriga a manter em silêncio. Não é o caso deste campanário, que continua apto a desempenhar a sua função logo que o silêncio na aldeia que serve, acabe.
Quando a primavera está a chegar, o tempo começa a ficar mais ameno, chega o cuco, chega a popa, e as searas começam a verdejar fruto da velocidade de crescimento das plantas e das ervas daninhas, é altura de fazer a monda.
Em Janeiro, sobe ao outeiro. Se vires verdejar pôe-te a chorar; Se vires terrear põe-te a cantar. – Este é mais um dito popular que tem maior significado nas beiras e norte de Portugal.
Ler MaisDepois de um ano a revolver a terra chegou a altura de as sementes experimentarem a leveza da terra e de concluirem que ali poderão facilmente germinar e produzir grão. Chegou a altura da sementeira.
«Onde o arado não lavra cava a enxada» é uma frase que traduz bem a impossibilidade de tudo lavrar com o arado. Lembra-nos igualmente o aproveitamento que se fazia de todos os pedaços de terra, muitas vezes pequenos, com paredes e rochas na envolvente que impossibilitava serem lavrados.
Sem arado não pode lavrar-se; sem grade não pode gradear-se; sem um sem número de outros instrumentos, não se conseguia que a terra produzisse o que quer que fosse. Sem eles, apesar de rudes e por vezes imperfeitos, não podia produzir-se pão.
«A necessidade aguça o engenho» bem podia ser um dos ditos populares aplicáveis aos utensílios e suas partes, usados para a preparação da terra. Quanto ao aspecto por vezes rude de alguns utensílios, sempre poderemos dizer que, à falta de melhor, estes eram os melhores. Ou, de forma mais jocosa, quem não tem cão caça com um gato.
Ler Mais«A terra sabe pagar a quem a sabe lavrar» é mais um ditado popular relacionado com a preparação da terra. Quando se lavra de forma insuficiente ou menos vezes de que a terra espera, a produção não será certamente boa. Há tarefas que têm mesmo de ser feitas na altura certa. Caso contrário, ou já não podem ser feitas ou então o resultado delas é diferente do esperado.
«Quando as nuvens correm para o mar (para oeste) pega nos bois e põe-te a lavrar» é um ditado popular que no fundo diz que se deve lavrar quando há nuvens mas não há chuva. É especialmente dirigido à primeira vez que se lavra a terra isto é à decrua. Desde a decrua, até termos grão, vão decorrer dois anos e a terra vai levar várias voltas.
«Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão», dizia-se nas terras da beira raiana. O Pão era a base da alimentação das pessoas no século passado. Para se obter uma «fatiga» de pão os trabalhos começavam dois anos antes com a preparação da terra onde no final do primeiro ano se semearia o grão de centeio.
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