Com o meu boné NY confundo-me com qualquer habitante desta cidade imensa onde todos são diferentes e iguais, descontraídos e jovens. Vou voltar para a Bélgica com o meu boné que usarei apenas quando for de férias.

Origens: Vale de Espinho (Sabugal) :: :: Crónica: «Pedaços de Fronteira» :: ::
Com o meu boné NY confundo-me com qualquer habitante desta cidade imensa onde todos são diferentes e iguais, descontraídos e jovens. Vou voltar para a Bélgica com o meu boné que usarei apenas quando for de férias.
A minha pretensão ao abordar o assunto da ressurreição neste tempo pascal é tão somente a de um cristão que tenta compreender este tema, já que ele é difícil de entender e também de explicar.
Nestes tempos de Abril, não faltam momentos de comemorações e de acontecimentos. Por estranho que pareça, o maior é o auge do tempo primaveril. Os campos renovam-se, cobrem-se de verde, florescem. As fontes rebentam. Tudo renasce. Tudo recomeça. Tudo ressuscita. Não é por acaso que a Páscoa coincide com um tempo em que também a natureza se ergue, se põe de pé e nos apresenta uma nova vida.
A barbaria parece ter regressado em força às portas da União Europeia. A barbaria é uma prática sistemática em tempo de guerra. Os exércitos tendem a ganhar batalhas através da barbaria. A barbaria é a desumanidade completa. Perante a barbaria ficamos sem palavras…
Sabe-se que em tempo de guerra, a verdade não existe. Paralelamente a uma guerra no terreno, existem ainda outras guerras que estão bem dissimuladas e cujas razões e objectivos só se conhecerão muitos anos depois. A guerra da informação é muito importante, mas importante é também a guerra do silêncio que coloca o inimigo num clima de ataque de nervos.
Não é fácil ter uma opinião sobre a guerra na Ucrânia porque, como todos sabem, em tempo de guerra, a verdade não existe. Cair no dualismo habitual em que uns são bons e outros são maus, é excluir a possibilidade de fazer interrogações, porque ao pronunciá-las já se está a desestabilizar o leitor ou o interlocutor do pedestal das suas certezas. A simplificação coloca etiquetas e identifica quem não pretende entender a complexidade das situações deste mundo.
Com a guerra à nossa beira, com as imagens duras, nuas, cruas e constantes que nos chegam de todos os lados, temos de confessar que o medo também nos invade. Até agora, podemos dizer que vivemos num país onde a guerra, com os seus combates, deflagrações de bombas e deslocação de população ainda não chegou. Mas, tarde ou cedo, vamos sentir os efeitos que nem sequer imaginamos.
«Mourir pour les idées» («morrer pelos ideais») é uma canção do cantor francês Georges Brassens divulgada em 1972, numa altura em que as ideologias eram mais marcadas. Perante países onde existiam ditaduras, como em Portugal, Espanha e em alguns países da América Latina, era mais fácil compreender o que era a democracia. Também se percebia bem o clima ditatorial imposto pelo partido único nos chamados países de Leste, dominados pela URSS (União Soviética).
A palavra guerra, que há pouco tempo empregávamos a torto e a direito, agora é uma realidade nua a crua que atinge mulheres, homens e crianças, deixando-os sem abrigo, feridos e mortos, no território de um país às portas da Europa. E não vale a pena fugir a eufemismos: a invasão de Ucrânia constitui o maior ataque de um país europeu contra outro país europeu desde a II Guerra Mundial, e que envolve o maior número de militares, após a invasão do Iraque.
Não é fácil escrever uma crónica de umas quinhentas palavras, como prometi enviar todas as semanas para este blogue, o Capeia Arraiana. Geralmente tenho de me concentrar umas duas ou três horas para que possa sair alguma coisa de jeito. Em princípio, escolho um tema que é, normalmente, o fruto de leituras que vou fazendo sobre a actualidade no decorrer da semana. Mas nesta, a escolha não foi fácil…
Não pensem que a Cláudia e o Boris são namorados. Nada disso. A Cláudia é a minha filha de 13 anos e o Boris é um cãozinho que ela me obrigou a comprar no princípio da pandemia. A Cláudia não podia ir aulas, não tinha contactos com as amigas, quase não podia sair à rua. Leis que agora nos parecem ditatoriais.
Neste dia de eleições legislativas, levantei-me já um pouco tarde para escrever esta crónica. Também não tenho intenção de dizer muita coisa. Já foi dito tudo, ou omitido, ou mal dito, ou sugerido, ou deturpado, ou guerreado. Agora são os eleitores que irão decidir. Isso é o que nos dizem, mas acho que será mais correcto afirmar que são os eleitores que irão sugerir quem deverá governar, mas já nem disso tenho a certeza.
Lembro-me que, quando o meu pai faleceu, numa noite fria de Dezembro, muito perto do dia de Natal, foi, de facto, um triste momento ao saber que passaria deste mundo para o outro. Mas, visto agora à distância, foi ao mesmo tempo, muito apaziguante, sereno, digno. A esposa, minha saudosa mãe e os irmãos que o velávamos puderam dizer-lhe adeus, acariciar-lhe o rosto e as mãos até ao último momento de vida. Pouco depois, a restante família, os amigos e conhecidos reuniram-se, como era hábito, para celebrar o rito das exéquias fúnebres.
Estou a escrever esta crónica precisamente no Dia de Reis, pois este dia é associado, nalgumas terras, à tradição do Cantar as Janeiras. Em Vale de Espinho, cantavam-se as Janeiras do primeiro de Janeiro até ao Dia de Reis. E, curiosamente, não se utilizava a palavra no plural (Janeiras), mas no singular… Janeira.
Meu caro Ano Novo, estou muito apreensivo com o que nos poderá acontecer neste 2022. Tenho a impressão de que nos prometeram o fim da pandemia, mas, finalmente, mentiram-nos. Tomámos uma dose e pensávamos que já estávamos protegidos. Depois foi necessário uma segunda, que não foi suficiente e, muitos de nós, com uma terceira, terão certamente de se proteger com uma quarta ou outras ainda.
Para os que vivem longe da terra que os viu nascer, neste período de Natal e de Ano Novo, perpassa por cada um de nós toda a magia de infância de que tantas saudades temos: o madeiro de Natal, a missa do galo, as rabanadas, as filhoses e toda a doçaria desta época. Recordamos os pais, a família, os amigos e aconchegamo-nos uns aos outros porque é a amizade que nos faz crescer. Estes sonetos são dois momentos da diversidade da nossa existência: a infância e a amizade que se criou na idade adulta.