As Companhias de Ordenanças foram a base das forças militares do Antigo Regime.(1) Em Sortelha, os principais cargos foram sempre ocupados e controlados pela aristocracia local.

As Companhias de Ordenanças foram criadas no reinado de D. Sebastião, pelo regimento de 10 de dezembro de 1570, com o objetivo de repelir os ataques dos corsários (mouros, franceses e ingleses). Constituíram-se como forças militares locais, mantendo-se como base de recrutamento até ao final da monarquia absoluta.
Regimento dos Capitães-Mores e mais Capitães e Oficiais das Companhias da gente de cavalo e de pé e da ordem que terão em se exercitarem… [Aqui]
A criação das Ordenanças foi uma adaptação das medidas tomadas pelos reis católicos.
Capitão-Mor – a palavra Capitão generalizou-se em Castela no século XV
O Capitão-Mor tinha o comando das companhias, com os respectivos oficiais e empregados, com um efetivo teórico de duzentos e cinquenta homens, sendo coadjuvado por um sargento-mor. A ambos competia o recrutamento dos homens da Ordenança e fiscalizar a sua preparação. Abaixo encontravam-se os oficiais de companhia: Capitão, alferes sargento e cabo. Era uma forma de mobilização da sociedade, obrigatoriamente alistados todos os homens válidos entre os 16 e os 60 anos, excetuam-se velhos e privilegiados. As tropas de Ordenanças recebiam instruções todos os domingos, tendo dois alardos (2) por ano, um pela Páscoa e outro pelo S. Miguel.
As Ordenanças foram extintas em 1821, sendo substituídas pela Guarda Nacional.
Sargento-mor
Nas tropas auxiliares e de ordenanças provinha das tropas pagas, em regra o soldado mais velho, e era o encarregado da instrução.
Sargento
A palavra provém do italiano sergente, por sua vez derivada de serviens. Generalizou-se em Portugal no século XV, através de Castela. O sargento era um auxiliar do capitão comandante da companhia, encarregado da administração.

Capitães e sargentos de Sortelha
Século XVII
1656 – Era Capitão João Gonçalves.
Século XVIII
Registamos o jazigo do Capitão-Mor Manuel da Costa Castelo Branco na capela de Santo António, no arrabalde de Sortelha, com a inscrição seguinte:
JAZIGO DOS OSSOS / DO CAP(it)AM MAYOR / M (anu)EL DA COSTA CAST/EL BR(an)CO DESTA U(il)A EA/LECEO A 15 DE 7BRO D/E 1708. FEZ UINCVLLO// UICVLLO DE SEVS / B(e)NS E SE ACHARA / NO CART(ório) DA CAMERA DESTA U(il)A / ET RESIDET FILIUS NO/MINIS EIUS DE MANIB (us).
Sabemos que, pelo processo de Leonor Fernandes, no início do Século XVIII foi Capitão-Mor Luís Pina, pertencente à família Pina de Olival.
1759 – Em 30 de Junho, óbito de Martinho de Mesquita da Fonseca Osório, de setenta e cinco anos de idade, Capitão da Ordenança da Bendada… [aqui]
1775 e 1777 – O Capitão-Mor foi Luís Correia da Costa, casado com Josefa Xavier Soares de Oliveira; o Sargento-Mor era João Saraiva de Carvalho e Pina.
1776 – João Soares de Oliveira Rebello era Sargento-Mor e em 1778 passou a Capitão-Mor, natural de Gonçalo, era casado com Luiza Henriqueta Correia da Costa. Sucedeu a Luís Correia da Costa, pai de sua mulher.
1791 – António Lopes Leal foi Capitão de Sortelha.
1800 – Henrique Manoel Santeiro, era Sargento-Mor.
1801 – Era Capitão-Mor Henrique Manoel de Oliveira Roballo e Capitão Joaquim Fernandes Mendes.
? – José de Sousa Preto.
? – Manuel Mendes Esteves, natural do Casteleiro, também exerceu os cargos de Capitão-Mor e Sargento-Mor (informação de António José Marques).
A eleição do Capitão-Mor de 1830
As atas da Câmara Municipal de Sortelha deixaram-nos um documento precioso sobre a eleição do Capitão-Mor… [aqui]
Isto significa a sua continuidade num tempo em que era suposto já não existir!
A quem pertencia este poder?
Em Sortelha, os principais cargos foram sempre ocupados e controlados pela aristocracia local. Grande parte dos seus rendimentos provinha das propriedades! Apesar de não remunerados, através do recrutamento influenciavam a vida das populações, assumindo-se como um poder paralelo. O seu comportamento deveria servir de exemplo. Talvez por isso, eram frequentadores assíduos das cerimónias religiosas, padrinhos na maioria dos casamentos e batizados e, muitas vezes, testemunhas.
Notas
(1) Conceito de Antigo Regime – período da história europeia, entre os séculos XVI e XVIII, até às Revoluções Liberais. Marcado pelo Absolutismo Régio, pela sociedade de ordens, pelo mercantilismo e pela arte e mentalidade barrocas.
(2) Alardo – Revista de tropas. Fazia-se um pela Páscoa e outro pelo São Miguel.
Bibliografia
LEONZO, Nanci. As instituições. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da (coord.). O Império luso-brasileiro, 1750-1822. Lisboa, Estampa, 1986. p. 301-331. (Nova História da Expansão Portuguesa, v. 8).
MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Os Concelhos e as Comunidades, in MATTOSO, José, História de Portugal, Volume IV, Lisboa, Editorial Estampa, 1992.
SERRÃO, Joel. Dicionário de História de Portugal, Vol.s II e IV, Porto, Livraria Figueirinhas, 1984. (artigos: Exército, Ordenanças)
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«Memórias de Sortelha», opinião de António Gonçalves
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2019)
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