Após o falecimento de um Papa, o respectico protocolo está todo estabelecido, mas Francisco quis também surpreender-nos pela maneira como organizou a sua sepultura e o lugar da sua inumação. Tudo levaria a crer que o seu corpo ficaria para sempre na Basílica de São Pedro, como os precedentes papas, mas, até com a sua última morada, quis envolver-nos num significado e numa afeição bem particulares.

O Papa Francisco não pretendeu um pomposo monumento funerário. Quis apenas um túmulo em mármore directamente encastrado no solo, sem estátuas nem ornamentos. Pediu que a pedra viesse da Ligúria, terra dos antepassados italianos de Jorge Bergoglio, que tinham emigrado para a Argentina em 1929. Os fiéis que vierem recolher-se perante o seu túmulo, na Basílica de Santa Maria Maior, constatarão a simplicidade do nome com que pretende continuar a ser tratado na eternidade, o mesmo que escolheu no dia em que os seus pares o elegeram como Sumo Pontífice: «Franciscus», em língua latina.
Ficará para sempre nesta Basílica, longe do Vaticano, mas no coração de Roma, cuja cidade acarinhava e da qual se orgulhava de ser o seu bispo.
Não se conhece a razão pela qual escolheu ficar longe da imponente Basílica de São Pedro, Talvez, como jesuíta, se tenha lembrado que foi em Santa Maria Maior que Santo Inácio de Loyola celebrou a sua primeira missa. Sabe-se, no entanto, que quando Bergoglio se deslocava a Roma, antes de ser nomeado Papa, vinha sempre a esta Basílica recolher-se diante do ícone da «Virgem Salus Populi Romani» que a tradição atribui ao evangelista São Lucas. Depois de ser nomeado Papa, Francisco vinha sempre rezar a Santa Maria Maior, antes e depois das viagens apostólicas, encontrando-se igualmente com os cidadãos romanos que também frequentam assiduamente esta Basílica, situada perto da «Gare Termini», sendo considerada na capital italiana a «igreja do povo».
Ao escolher Santa Maria Maior como seu lugar de descanso eterno, Francisco quis manifestar também uma mensagem de humildade e de centralidade mariana em seu pontificado. É um gesto que liga a sua vida pastoral à tradição mais profunda da Igreja e à fé simples do povo, que há séculos recorre a Maria como mãe e intercessora.
A Basílica de Santa Maria Maior (em italiano «Basilica di Santa Maria Maggiore») é uma das quatro basílicas papais de Roma e uma das igrejas mais antigas dedicadas à Virgem Maria no mundo ocidental. Foi construída por ordem do Papa Sisto III entre os anos 432 e 440, logo após o Concílio de Éfeso (431), que proclamou o dogma de Maria como Mãe de Deus.
Apesar de ao longo dos tempos ter sofrido diversas reformas manteve sempre elementos originais, como os mosaicos do século V, que são considerados alguns dos mais belos da arte paleocristã. É de notar que o teto da nave é revestido com o primeiro ouro trazido da América, oferecido pelos Reis Católicos da Espanha, um testemunho da relação entre o cristianismo europeu e o Novo Mundo. Santa Maria Maior é também um dos principais santuários marianos da cristandade.
Várias figuras importantes da Igreja estão sepultadas nesta basílica. Entre elas, São Jerónimo, tradutor da Bíblia para o latim (a Vulgata), além de papas como Sisto V, Paulo V e Nicolau IV. Está igualmente ali sepultado o famoso artista Gian Lorenzo Bernini, autor das colunatas da Praça de São Pedro e de inúmeras obras-primas do barroco, na cidade de Roma.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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