Marta Ramos nasceu em Lisboa, em Fevereiro de 1984, filha de José Ramos e de Maria do Céu Marcos, naturais de Aldeia da Ponte, no concelho do Sabugal, portanto uma família com raízes raianas. Em 1992, veio para o Fundão, quando tinha oito anos. A mãe era professora de educação visual e o pai engenheiro. E aos 16 anos mudou-se para a cidade da Guarda onde o pai fundou uma empresa ligada aos serviços de aquecimentos e aparelhos de ar condicionado.

Marta Ramos fez o ensino secundário na Guarda, na Escola Afonso de Albuquerque e regressou a Lisboa a fim de frequentar Arquitectura na Universidade Técnica da Ajuda, terminando esse curso em 2009. Trabalhou como Arquitecta, mas as condições de trabalho eram adversas, a começar logo no estágio não remunerado. Como havia uma grande crise no País, equacionou emigrar, mas resolveu mudar de ramo e ficar em Portugal. Optou assim por trabalhar em part-time numa agência de viagens, onde esteve durante oito anos.
Paralelamente, dedicou-se a diversas actividades de índole artística e cultural, nas áreas da música, da literatura e do cinema.
É a cantar que se sente em casa. Frequentou aulas de formação musical e voz, passando pelas Oficinas de Jazz do Hot Club, foi presença regular na Associação José Afonso (AJA), em vários estabelecimentos com música ao vivo e em Casas de Fado de Lisboa (em Alfama, Mouraria e Bairro Alto, casas como A Severa, etc.) e da Covilhã. Com uma aptidão natural para a música tradicional portuguesa e para as canções de intervenção, entre outros estilos musicais, integrou diversos conjuntos e colaborou com diversos músicos (por exemplo, em 2015, fundou com João Rodrigues o dueto «Acaso» e, em 2022, iniciou um novo projecto musical, com João Clemente, intitulado «infinito paisagem», ainda se podendo acrescentar colaborações com bandas como Jerónimo & Cro-Magnon, Pedra D’Hera ou com o colectivo Profound Whatever). Neste âmbito, também co-realizou diversos vídeos musicais e ainda tirou uma pós-gradução em Acústica.
Na literatura, sempre foi amante de poesia, sobretudo na sua relação com a música, introduzindo a récita de poemas em muitos dos seus concertos, mas também adaptando musicalmente poemas de Sophia de Mello Breyner ou de Michael Cimino, além de ter trabalhado na Ler Devagar, na livraria da Cinemateca Portuguesa e de ter colaborado com a editora BOCA, em particular na edição do livro «Como um pedaço de terra virgem», de Virgínia Dias, com prefácio de José Mário Branco.
Actualmente é dinamizadora cultural («agitadora cultural» é o termo que escolhe) na Casa da Poesia Eugénio de Andrade, na Póvoa de Atalaia. Aqui organiza diversos encontros multiculturais em torno da obra de Eugénio de Andrade e de outros poetas afectivos (a própria Virgínia Dias ou Manuel Silva-Terra são poetas que já estiveram presentes), faz visitas guiadas à geografia do poeta nascido na Póvoa de Atalaia, edita livrinhos bilingues distribuídos gratuitamente, organiza exposições temáticas, promove sessões de aprendizagem da língua portuguesa a partir da poesia, em particular de Eugénio de Andrade, que é traduzido e dito em várias línguas com a participação da comunidade migrante e local, entre outras coisas. A Casa da Poesia tornou-se, pois, num ponto de encontro da comunidade e uma «porta aberta para todos os poetas e amantes de poesia». Também tem à sua responsabilidade, neste momento, a parte museológica da Moagem no Fundão. Diz-nos que «gosto de agregar pessoas, de trabalhar em conjunto com a comunidade, de partilhar vidas e poemas, algo que a nossa sociedade egoísta precisa como de pão para a boca».
No cinema, colaborou em diversos filmes independentes, da produção à montagem, mas é sobretudo como realizadora que se tem destacado, em filmes como «Guerra» ou «Paz», em co-autoria com José Oliveira, obras seleccionadas para alguns dos mais prestigiados festivais do país e do mundo. Ou ainda «35 anos depois: O Movimento das Coisas», há pouco tempo editado em Blu-ray em França, e, muito recentemente, «Génesis», uma obra-prima emocionante realizada no concelho do Fundão. Encontra-se ainda a realizar uma obra cinematográfica sobre o Cine-Teatro Gardunha, a partir da memória e reconstrução do edifício. Por outro lado, é, a par de José Oliveira, uma das principais dinamizadoras do Cineclube Gardunha, com uma programação diversificada para todos os públicos, de qualidade e descentralizada, muitas vezes com a presença de realizadores e convidados. Considera que o «cinema é uma aventura e uma paixão que me foi despertada sobretudo pelo filme “Encontros”, de Pierre-Marie Goulet, título que deu origem aos Encontros Cinematográficos / Encontros de Cinema do Fundão que também ajudei e ajudo a dinamizar, numa primeira fase enquanto membro do Cineclube da Guarda e de há muitos anos para cá no Fundão».
Estamos perante uma personalidade ímpar, com forte ligação à comunidade, e uma artista multifacetada.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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