Domingos Fernandes, Cristão-Velho, natural da Bendada, manchou a sua vida com decisões imprudentes. A Inquisição moveu-lhe um processo, sendo condenado em 1660.

Domingos Fernandes, era Cristão-Velho, natural da Bendada, filho de Domingos Martins e Isabel Fernandes, de alcunha «a barrigona».
Em Portalegre, foi criado de João Mendes Manta, tendo casado (1648?) com uma criada do mesmo, de nome Izabel Rodrigues, de alcunha «a pregadora», fazendo vida marital durante um ano. Ausentou-se, foi marinheiro na «Carreira do Brasil».
Regressado do Brasil, casou pela segunda vez, aos vinte e sete (27) de Janeiro de mil seis centos e cinquenta e oito (1658), na Igreja de São Paulo de Lisboa, com Luiza da Silva, sem ter a certeza de que era morta a primeira mulher, tendo feito com ela vida marital durante um ano, e falecendo esta, casou pela terceira vez, em onze de Abril de mil seis centos e sessenta (1660), na Igreja da Misericórdia, com Izabel Carvalha, fazendo com ela vida marital até ser preso, sem ter a certeza de que era morta a primeira mulher.
Decisão do Tribunal do Santo Ofício
«Vá ao auto de fé em corpo com vela acesa na mão na forma costumada e nele ouça a sua sentença, e faça abjuração de ser suspeito na fé, seja açoitado pelas ruas da cidade Lisboa de citra sanguinis effusionem [sem derramamento de sangue] e degradado por tempo de sete anos para as galés de sua Majestade, onde servirá ao leme sem soldo a arbítrio da Inquisição, e tenha cárcere a arbítrio, onde será instruído nas cousas da Santa Fé necessárias para a salvação da sua Alma. Cumprirá as mais penitências espirituais que lhe forem impostas e pague as contas».
Saiu em «Auto de Fé» realizado a dezassete de Outubro de mil seiscentos e sessenta (1660) na cidade de Lisboa.
Foi degradado durante sete anos para as galés onde esteve o dito tempo carregado de ferros, padecendo grandíssimas necessidades, misérias, trabalhos e fomes.
Conclusão
Segundo os valores rigorosos do século XVII, impostos pela Santa Inquisição, a vida de Domingos Fernandes ficou maculada por decisões imprudentes, culminando numa dura condenação do Tribunal do Santo Ofício. Revela-nos os limites da liberdade individual e a severidade com que se puniam delitos considerados contra a fé. O degredo, durante sete anos nas galés, acorrentado e submetido a intensas provações, as penitências espirituais e a instrução nas coisas da fé, tinham como objetivo a expiação dos seus pecados e a salvação da sua Alma.
Este processo, é um pequeno exemplo da eficácia da ação da Igreja no controle dos comportamentos e práticas religiosas das populações.
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«Memórias de Sortelha», opinião de António Gonçalves
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2019)
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