Hoje, dedico a maior parte da crónica a um dos mais impressionantes ícones da minha terra… a camioneta da carreira.

Havia naqueles dias dos anos 50 alguns outros ícones que também merecem referência aqui. São profissões, tipos, caracteres, pessoas especiais que, pela sua função ou indispensabilidade, ficaram no nosso imaginário para sempre.
Faz agora 19 anos que divulguei este ícone das nossas terras num dos meus blogs da altura, o «LisboaLisboa». Gostaria de o recordar hoje, mais uma vez.
Camioneta da carreira era um dos ícones da minha infância e juventude
Havia mais, claro, mas a camioneta da carreira era um dos principais ícones.
Era um «instituto». Aparecia duas vezes por dia: às nove e às seis. Havia quem, àquela hora, não fizesse mais nada… ia para o Terreiro (Largo) de São Francisco esperar pela camioneta da carreira. Só para «cheirar» o que lá ia, quem lá ia. Só por falta de ocupação e necessidade de manter o contacto com o «resto do mundo», digo eu hoje. O mundo terminava onde terminava o circuito da carreira: Belmonte para um lado e Sabugal (Ozendo) para o outro.
As nossas boleias…
Mas acontecia com os mais pequenos outro fenómeno que envolve também a camioneta da carreira. Apanhávamos boleia, pendurando-nos lá atrás e indo uns minutos pendurados, com os pés mais ou menos a arrastar pelo chão. Aliás, não era só com a carreira que apanhávamos boleia. Fazíamos isso também com a camioneta do peixe e um ou outro caso de camionistas que por ali paravam. A técnica era muito simples. Do Largo de São Francisco, onde toda a gente parava e, por maioria de razão a camioneta da carreira, até à curva lá em baixo, os motoristas aceleravam pouco porque tinham de fazer aquela curva fechada. Era então boa ocasião para «apanhar a boleia». Cada um pendurava-se cá atrás, onde podia, mas com uma regra sagrada: tinha de ir escondido do motorista. Por vezes eles paravam e vinham cá a trás escorraçar o pessoal que, ala, que se faz tarde, desaparecia em menos de um fósforo…
Mas nem sempre os motoristas abrandavam. Às vezes, tenho a certeza, por malandrice também. Aí, toca a saltar. Por vezes, já em situação de perigo. E então lá ia um joelhito abaixo, uma esfarrapadela numa perna, um esmurranço num pé… Era uma vertigem pura, nessas alturas.
O ti Saraiva era o motorista da carreira
Impossível deixar de referir aqui quem era o motorista de sempre da camioneta da carreira, durante anos e anos. Nem sequer se admitia que pusesse haver outro. E se algum dia ia outro, já nada parecia igual. Era o ti Saraiva. Já era velhote ou eu pensava que era. Naquelas idades, temos uma estranha noção de velhice. E, naqueles tempos, as pessoas tinham ou parecia-nos que tinham um estranho ar de velhice precoce.
Mas sempre simpático para toda a gente… era para todos o ti Saraiva.

As belezas da nossa Região
E agora, a terminar a crónica desta semana, uma série de imagens legendadas que vão enternecer todos os leitores atentos. Vamos lá ter tempo para apreciarmos estes animais e pedras em destaque na nossa Região.
Cada imagem mais bonita que a anterior. Os animais, esses, então, são uma ternura…
Veja e delicie-se, tal como eu me recordo há anos todas estas histórias:
2 – Cães Serra da Estrela… [aqui]
3 – Rochas de Encanto… [aqui]
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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