Numa liturgia anual, um grupo de funcionários dos Serviços Prisionais organizou uma digressão turística e gastronómica numa das localidades junto à margem do Rio Tejo, utilizando a serpenteada linha férrea da Beira Baixa. A «Rota da Miga de Peixe» nas «Terras de Oiro» de Vila Velha de Ródão foi a escolha deste ano…

A ida aos locais tem sido diferenciada e selecionada, e este ano o grupo de funcionários dos Serviços Prisionais escolheu-se Vila Velha de Ródão, com um programa – «A Rota da Miga de Peixe» – culturalmente aliciante, com visitas guiadas ao Núcleo Museológico Lagar das Varas, ao Museu Mundo de Minerais com a Coleção Martins «Da Pedra», almoço regional no restaurante «Cais de Rodão», passeio de barco no Rio Tejo e visita ao miradouro da Torre do Rei Wamba.
Nas estações ferroviárias da Covilhã, Fundão e Castelo Branco foram embarcando elementos, uns no activo, outros na aposentação, com a particularidade de nesta viagem se contar uma pessoa com problemas de imobilidade, sendo necessário requisitar uma carruagem adaptada.
Iniciou-se a visita pelo recuperado Lagar de Varas de Azeite, situado no Bairro Cabeço das Pesqueiras, junto ao Ribeiro do Enxarrique, que a poucos metros vai desaguar no Rio Tejo. Estrategicamente situado numa linha de água, numa zona de olival intensivo, estamos na presença de um edifício construído em xisto, onde observamos um completo conjunto de sistemas mecânicos, de índole helénica e romana, funcionando com a energia humana e animal.
No exterior, as tulhas onde era depositada a azeitona, seguindo para os pios, onde as galgas (rodas gigantes de granito) movimentadas por atração animal esmagavam aqueles frutos, resultando uma massa pastosa. Esta era colocada em seiras e sob pressão das varas fazia-se a extracção do azeite. Mais tarde, com a evolução de novas técnicas, passaram a utilizar-se prensas mecânicas.
Nas páginas da história sabemos que os povos destes territórios se fixaram através dos tempos – romanos, visigodos, árabes – dedicavam-se principalmente à agricultura, produção de azeite e extração de minerais e daí a designação de «Terras do Oiro».
Actualmente, apesar da desertificação e do abandono do olival tradicional, este produto é de excelente e elevada qualidade.
Em tempos passados o escoamento do azeite era em pipas e o transporte pelo Rio Tejo; em latas de alumínio nos finais do século XIX pelo caminho de ferro; hoje em garrafas de vidro e garrafões de plástico pelos mais diversos meios de mobilidade.

No final do almoço, um passeio de barco, admirando as Portas de Rodão, imponente garganta escavada pelo Rio Tejo, na crista quartzítica da Serra do Perdigão. A natureza é muito generosa e criou neste espaço um estrangulamento, que comprime o curso de água com mais de quarenta e cinco metros.
Do barco, alongando a nossa visão, observamos o esvoaçar na liberdade do espaço de grupos de grifos, aves necrófagas e protegidas, que nidificam nas altas e gigantescas escarpas espreguiçadas para o Tejo. Infelizmente, as suas águas estão muito longe da pureza e limpidez de outros tempos.
Já não há necessidade de as autoridades, como faziam nos finais do seculo XIX, aplicarem coimas aos caneiros que outrora usavam nas pescarias do rio a coca, barbasco, trovisco ou embute…

Visita ao Museu Mundo de Minerais
Seguiu-se a ida ao Museu Mundo de Minerais com a Coleção Martins «Da Pedra», espaço preenchido com mais de doze vitrinas, que recolhem milhares e milhares de pedras, minerais de todo o mundo, enriquecidos com cores e carateres indescritíveis.
Na minha pesquisa, verifiquei que do concelho do Sabugal, concretamente das freguesias de Penalobo e Águas Belas, há ali expostas pedras de microlite, ortóclase, quartzo, e da Bendada pedras de covelite e quartzo. Trata-se de uma visita gratuita e a não perder, mediante marcação, apoiada pelo município de Vila Velha de Ródão.

A lenda do Rei Wamba
A excursão terminou com uma visita a espaços lendários onde em tempos idos o Rei Wamba tinha o seu Castelo, dominando as terras a sul.
Naqueles territórios sempre houve garimpeiros à procura de pepitas de ouro. Segundo o editorial do jornal «Reconquista», de Castelo Branco, os novos garimpeiros estão de olho nesta região do país. Já saíram editais públicos para projetos de prospeção do precioso mineral. Os que residem nestes pequenos lugares paradisíacos devem, pois, estar atentos na defesa da natureza, não a deixando destruir.
Com ameaças meteorológicas de muita chuva, fizemos a despedida das «Terras de Oiro» e de Vila Velha de Ródão, enriquecidos culturalmente.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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